18 fevereiro 2004

Uma Tarde de Verão – por Jorge Costa

O dia tinha a cor de Verão. Iluminado como só um dia de Verão o pode ser.
A quietude daquele bosque, junto com o sussurrar da brisa que pela copa dos pinheiros perpassava, aliados ao som do movimento do mar, faziam com que em nada fosse diferente de um dia de Verão.
Mas qualquer coisa de especial aconteceu para que aquelas 24 horas fossem diferentes de muitas outras. Ele - sozinho - e um casal amigo. A família longe.
O Sol tem a particularidade de dispor os corpos a uma certa languidez e aqueles não fugiam à regra.
O cenário era de tranquilidade absoluta. As tendas que por aqui e ali pululavam contrastavam com a roulotte reluzente de que ele se fazia acompanhar. Só. Mas ele é assim.
Naquela tarde, o passatempo era um jogo de cartas, à volta de uma mesa improvisada.
Um riso aqui, outro acolá.
Corpos numa doce preguiça, lindos e bronzeados pelo Sol de Verão.
E o calor.
Ele vai de mansinho deitar-se na sua roulotte.
A preguiça era alguma.
A hora era propícia.
O corpo meio desnudado jazia ali naquela cama, como que à espera de nada. E de repente...ele não sabe, ele não pensa, ele não imagina...ela entra e pede para se deitar na cama em frente.
Os sentidos ficaram alerta. Um tremor que começou por ser miudinho, foi-se apoderando de todo o sistema nervoso. Dois corpos seminus, deitados, olham-se e não sabem bem o que dizer ou o que pensar. Ele começa com conversa de ocasião, fala hipoteticamente de tudo, mas não se lembra de nada. Os sentidos estão retesados e focados naquele corpo bronzeado e quase nu. O vestido de praia não tapa quase nada. É justo e fino demais para tapar o que quer que seja. Está ali... mas é como se não estivesse.
Um frémito de desejo, misturado com medo, leva-o a levantar-se e a dirigir-se àquele corpo, que lá no intimo o chama. Aos gritos.
Tem o gesto dum amante apaixonado e coloca a mão dela suavemente em cima do coração, para que ela possa sentir aquele pulsar desenfreado que o coração dele entretanto tomou.
Está louco de desejo. E ao mesmo tempo... possuído de medo: o companheiro dela estava mesmo ali, a 10 metros. Do outro lado da porta.
Mas a irracionalidade do momento era mais forte. Mais forte que qualquer precaução razoável. E, com um sussurro mais leve que o da brisa que sopra nas árvores, ouviu-se dizer-lhe:
- Bate por ti...só por ti, neste momento nada interessa. Desejo-te mais que a vida.
Ela olha-o e, como que possuída por uma fúria invisível, cola-se a ele como se fossem um corpo só.
Os dois num abraço de volúpia indescritível, possuídos pelo desejo da carne e abstraídos do mundo, só pensavam em se amar ali mesmo.
Indiferentes ao exterior, às vidas em jogo, às famílias, aos filhos.
Só o desejo. O mais puro dos desejos. Rebelde, possuidor, castrador de qualquer raciocínio razoável.
O corpo dele disparava autênticas descargas de adrenalina.
As conversas lá fora só aumentavam o medo e o desejo.
E possuiu-a ali. Possuiu-a com toda a força do seu querer. As bocas com a língua na língua, os corpos encaixados como mais encaixados não poderiam estar.
E, naquela tarde de Verão, ele amou e desejou como dificilmente alguém pode amar e desejar.
Não voltaram a trocar palavra sobre aquela tarde. Continuaram a ser amantes fiéis dos seus amores. Mas aquela tarde, decerto que ficará para sempre como uma tarde de amor e paixão sem igual na vida deles.
Jorge Costa
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