18 julho 2004

De olhos vendados

- Não me leves a mal por querer dormir contigo...
- És tão estúpido. Porque não estás já a caminho?
E ele veio, chegou mais veloz que o vento e ela, que nem um papagaio de papel, permitiu mais um voo no limiar das sensações voluptuosas e carnalmente ímpares.
A porta estava aberta e lá dentro, cinco velas mostrando o caminho. Uma casa vazia e escura, um quarto sombrio, uma cama aberta com cinco almofadas fofas, frescas e, deitada nua sobre a terra branca e fértil, com os seus olhos vendados, Vénus, a princesa do amor.
Toda ela tremia, o seu corpo estremecia e a alma vagueava no escuro, tacteando com a imaginação todos os recantos daquele corpo masculino, rijo e quente. Lentamente, foi rodeando-a, foi-se aproximando, foi-se despojando de qualquer barreira de linho, pinho ou seda, enquanto ela permanecia intacta, virgem, imaculadamente à sua espera.
O silêncio era apenas corrompido pela respiração cada vez mais ofegante dos dois seres em louco desejo e, no ar, com os cheiros primitivos de calafrios, a febre de um Sábado que nunca mais chegava... Ai, o ambiente já existia, era real e garrido, e o mistério fez dos poucos passos entre os dois a mais longa e penosa e excitante distância!..
Meu Deus, como ela sabe tão bem que ele não chegou pelo seu próprio pé, como sabe tão bem que afinal zarpou, sem pressas, por um rio de seiva... e que, guiado pela bússola da mútua atracção animal, fê-la sentir o seu sólido e potente arpão a roçar cada centímetro de pele, e cada percurso foi celestial, e cada pequena aldeia transformou-se num mundo em que tudo é possível.
E a musa continuava de olhos vendados... e assim se deixou ficar, cinco vezes no infinito, imersa na grande luz do prazer...

*Shelby Koning, Love is Blind

Sem comentários:

Enviar um comentário

Uma por dia tira a azia