14 outubro 2005

muito à frente...
Sem rodeios: "a gaja tinha ar de puta".
Neutro: "a gaja tinha um sorriso muito simpático".
Sem contemplações: "a gaja tinha mau aspecto".
Neutro: "a gaja tinha um belo par".
Sem diplomacia: "a gaja parecia alucinada".
Neutro: "a gaja era muito gira".
Sem vergonha: "a gaja parecia um bocado badalhoca".
Neutro: "a gaja falava bem".
Sem respeito: "a gaja tinha ar de dar umas belas fodas".
Neutro: "a gaja tinha ar de dar umas belas fodas".

– E afinal? – Perguntei eu, depois de meia hora a ouvir o Picoto a desfiar "the pros and cons" de uma gaja qualquer que conhecera na férias.
– Afinal, merda – rosnou ele, com cara de poucos amigos.
– Então?
– Então?! – O homem parecia que se preparava para confessar um crime hediondo, tal era a expressão facial de vencido e quebrado, o arquear dos ombros e a imobilidade dos braços ao longo do corpo e o olhar baço e fixo num ponto qualquer da sua memória da situação. Respirou fundo e soltou o ar pelo nariz, enquanto engolia em seco.
Tive pena dele e decidi avançar:
– Mas não foi ela que foi falar contigo?
– Mais ou menos – disse ele. – A gaja veio pôr-se ao meu lado no balcão, encostada, 'tás a ver?
Acenei que sim, ainda que não percebesse se ela se tinha encostado a ele ou ao balcão. A informação era relevante, crucial, até, mas decidi não o interromper. Ele ia embalado e continuou:
– A rir e a roçar-se, 'tás a ver?
Não estava, definitivamente, não estava a ver.
– Em ti ou no balcão?
– Em mim, foda-se. – O gajo afinou. – Achas que se a gaja se estivesse a roçar no balcão eu lhe ligava, caralho?
"Tu és maluco e a gaja também não devia ser muito certa, para te escolher a ti para se roçar", pensei mas não lhe disse, acho que a conversa não fluiria da mesma forma.
– E depois?
– Depois? Depois mamou-me três imperiais, uma tosta de galinha e um whisky velho, e ainda me disse que gostava muito de aguardente velha, a puta.
– O que é que isso interessa?
– Interessa, porque se eu não pedisse o whisky, tinha mamado mais 3 ou quatro euros na aguardente, uma Rainha qualquer.
– Rainha?
– A aguardente. Rainha não sei do quê. A gaja a dizer que era muito boa e que não se via muito e que ali havia e o caralho que a foda.
– Rainha do Joanicas? – Perguntei eu, que aprecio. (Não tem nada a ver, mas viram o Sideways? Sim, vocês, os leitores, viram? Bom filme, hã?) Ele acenou que sim, era Rainha do Joanicas. Eu pus o meu ar de entendido e disse em voz de bagaço, ainda que a aguardente em causa seja vínica e não bagaceira. – Boa aguardente, pá. Muito boa escolha. A gaja sabia.
– Sabia, sabia... – concordou ele, sem sorrir. – A gaja sabia-a toda.
A Patrícia olhava para nós do fundo da Repartição, estávamos na nossa hora de almoço, mas a gaja fitávamo-nos como se fosse irmã do Sócrates. Decidi encurtar a conversa.
– Mas afinal, comeste-a?
– A gaja é que me comeu, Pereira, comeu-me por parvo que é para aprender a não ser guloso.
– Então?
– Ó pá, a puta do caralho foi à casa de banho – disse ele, a custo e para fim de conversa.
– E? – Insisti eu.
– Nunca mais a vi, pá – disse ele, irritado, – é preciso fazer-te um desenho?!
– Bardamerda, meu...
– Bem o podes escrever – disse ele, – foram mais de 30 euros...

podes visitar-me em Garfiar, só me apetece e prometo que o tempo que lá perderes não volta mais... o resto são promessas!

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