09 novembro 2005

Carta

Oh, São, quando me convidaste a publicar aqui, disseste que querias erotismo. Erotismo. Que eu publicasse coisas eróticas. E eu fui publicando umas coisas, sempre achando que estavam um pouco deslocadas, algumas tinham graça, outras nem por isso, mas tu publicava-las, nunca me recusaste nenhuma, e até escrevi uma que, também achei, tinha qualquer coisa de erótico, ainda que embrulhada em filosofia barata (era o título, lembras-te?). Agora, dizes-me, e bem!, que fiz confusão, que propus um texto que já tinha publicado. Sinto-me culpado, como se tivesse abusado da tua simpatia e posto em causa a qualidade da tua Funda, São. Apetece-me penitenciar-me, mortificar-me, punir-me. A dor às vezes é erótica, não é? Mas eu não gosto. Prefiro confessar. Prefiro confessar-me. É o que faço:
Oh, São, se em poucos dias conheço uma mulher e logo nos envolvemos amorosamente (como se diria escolhendo as palavras) e as coisas não correm furiosamente, automaticamente, como costumam. Se não sentimos uma ânsia de chegar, uma fúria de entrar, de ser penetrada, mas antes tudo flui naturalmente, sem pressas, sem repentes, sem guião, mas sem paragens, sem tempos mortos, sem acabar cada um arfando para seu lado, como se acabássemos de correr os 110 metros barreiras. São, será que isto é que é
erótico?
Oh, São, só me lembro de a beijar nos lábios, suavemente enquanto lhe afagava o cabelo. Tinha o cabelo escuro, liso, forte e brilhante. Dava gosto fazer-lhe festas. Beijei-a nas pálpebras, primeiro na direita e depois na esquerda. Na face, na boca, no queixo, e agarrei-lhe o cabelo, sem a magoar. Agarrei-lhe o cabelo e fui-lhe fazendo festas no couro cabeludo. O cabelo movia-se entre os meus dedos fazendo-me cócegas, excitando-me. Beijei-lhe o pescoço, os lóbulos das orelhas, a base da nuca e cheirei o cabelo, cheirava bem e a boca e o corpo. Ela gemia baixinho, conforme os movimentos das minhas mãos e dos meus dedos no couro cabeludo e não tanto pelos beijos ou pelos movimentos que eu ia fazendo com a ponta da língua. Riu-se, quando lhe passei a língua nos lóbulos das orelhas, mas não continuei, pareceu-me que ainda que isso lhe desse prazer, a suavidade, o carinho e os gestos lentos e demorados tinham mais efeito. Era isso que eu queria: efeito, amor, paixão. O riso era apaixonado, não eram gargalhadas de graça, eram gargalhadas de prazer, nervosas que vêm da base do crânio, do cerebelo, me parece, mas pareciam apressar as coisas, ela mexia-se e procurava-me e eu já não estava só a senti-la. Fugi das orelhas e beijei-lhe os ombros, os braços, as mãos, as palmas das mãos e tornei a subir, lambendo-a, sentindo-lhe o gosto, provando-a, tirando prazer dos seus arrepios, sorrindo por cada pequeno gemido, sonhando sempre que a via também sorrir, sem nunca abrir os olhos. Beijei a curva dos seios, rodeando-os, e suportei-os à direita e à esquerda de modo a fazer uma espécie de ninho onde parei e repousei, beijando, lambendo. Os mamilos duros, espetados adaptavam-se aos lábios que os beijavam, chupavam, puxavam, e à língua que os circulava, e ainda os fazia crescer. Tornei a subir, porque ela me puxou, sem força, mas decidida e demos um longo beijo molhado, de línguas em fúria e lábios esquecidos. "Continua", disse ela, "assim devagar" e eu continuei.
Será isto erótico?
E se eu continuasse, seria pornográfico?

Garfanho

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