05 agosto 2006

Os tomates


Para início de conversa e de chofre, comentei que os nossos nomes davam para montar um presépio. Claro que a escolha do verbo não foi inocente. Li-lhe na expressão a perda da jogada que supunha atribuição masculina mas recuperou rapidamente para contrapôr que essa opção podia não ser muito católica. Sorri cúmplice e deixei continuar a esgrima da sedução caçando com a ponta da língua um nico da espuma da cerveja preta do British Bar.

Ele começou a evocar os encontros e desencontros da vida até desembocar num pedido para que fizesse desfilar os meus ex-apóstolos, o que encarei como sinal de lucidez, entendendo eu que somos a nossa história de vida e que aquele gajo me queria efectivamente conhecer.

Comecei a enumerá-los sucintamente, destacando apenas um defeito e uma qualidade, com o refrão da gota de água que fez transbordar o copo em cada relação. Só que à passagem do quinto, notei que ele se mexia muito na cadeira e já só balbuciava. Ao sétimo, apresentava um semblante mais carregado que os últimos dias de trovoada enquanto os seus dedos tamborilavam a caneca.

Já a minha rica avozinha dizia que não há boa cozinha sem tomates e os guisados triviais, os ensopados e as caldeiradas estão aí a prová-lo, tal como era para mim evidente que a ideia de paraíso daquele mânfio era a mesma de Adão: a existência exclusiva do seu par de tomates.

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