18 setembro 2006

Boas vibrações


Desde pequenina que vou ao dentista e talvez daí advenha a minha satisfação por essas salas de prazer, tanto mais que as suas caminhas articuladas melhoraram substancialmente nas últimas décadas.

Tudo ali é filiforme: a broca vibratória, o tubinho de água para nos humedecer a boca, o aspirador de saliva, a torneirinha do spray da pré-anestesia, a seringa que usualmente tem um diâmetro considerável.

O meu primeiro dentista era um velhote simpático que na época tinha a enormidade de quarenta e muitos anos. Mas progressivamente foram-se tornando cada vez mais jovens e apetecíveis. O último era um moreno alto, gaiato no sorriso, no cabelo espetado e no capacete arrumado a um canto do consultório, mas com uma impressionante traseira nas calças que de maneira nenhuma se devia à marca das mesmas. O toque meigo dos seus dedos no meu pescoço sempre que me colocava o babete injectava-me logo um torpor coluna vertebral abaixo. Depois, deitava-me suavemente para a minha boca ficar à mercê de todos os utensílios que lá queria colocar, entreabrindo-me os lábios com os seus dedos. A distância do seu tronco ao meu era mínima enquanto os seus braços desenhavam arabescos na execução do seu trabalho no que me parecia mais a recriação de uma dança do ventre.

E já que era o homem que me deixava horas de boca aberta, apardalada a olhar para ele, no último tratamento, à despedida, já com a assistente do lado de fora do consultório, fixando-lhe alternadamente os olhos e o ponto onde se nota que as pernas arqueiam, referi que há muito não dava uma voltinha de mota e indaguei se podia experimentar a dele. E como numa velhinha canção do Fausto, ele disse que sim.

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