21 setembro 2006

Diário dum Padre

Meu querido diário.
Faz hoje um ano que cheguei a esta paróquia, a primeira que me foi confiada, após a ordenação, pelo episcopado a quem devo obediência e com a qual iniciei a minha vida de sacerdote.
Se escrevo estas linhas é por uma absoluta necessidade de exprimir em de tinta todo um rio em turbulência que me afoga a alma.
Desde a altura em que cheguei iniciei a pouco e pouco os contactos com os meus paroquianos, visitando-os, inteirando-me assim das suas realidades.
Das suas dificuldades e incertezas.
Das suas alegrias, projectos e vitórias e também dos outros momentos, os menos bons e onde um sacerdote pode e deve ser a palavra de conforto e ajuda.
Foi deste modo que a conheci. Era então ainda viva a sua mãe com a qual morava.
Falámos uns minutos, soube que ela namorava um rapaz da terra e que estava ausente no estrangeiro. Voltaria para casar no ano seguinte. Agora, em princípio de vida, a prioridade dele era garantir os meios para o início de uma vida futura com desafogo. Fazia então, quando cheguei à terra, seis meses que ele partira.
Despedi-me das duas, a mãe pareceu-me um pouco doente já nessa altura, e cumpri a incontornável missão como guardião da fé expressa nas palavras para que estivessem presentes na celebração da missa do dia seguinte.
Na verdade, nunca mais faltou um só dia.
Nessa mesma noite, revi na solidão do meu quarto todos os ensinamentos que me tinham sido inculcados no Seminário até fazerem parte do meu quase inconsciente. A abnegação voluntária, o sacrifício dos prazeres da carne assumidos conscientemente em função da missão superior de ser um homem de Deus na Terra espalhando a sua palavra e obra, mormente pelo exemplo de vida e postura pessoal.
Lembrava-me da adolescência, das primeiras noites em que acordava em erecção e em que seguia as orações tendentes a afastar as tentações com que o Demo nos assaltava, e das mortificadoras sensações de culpa quando acordava molhado, desperto subitamente de sonhos inconfessáveis. Das penitências que cumpria dias a fio, nas primeiras vezes com os olhos postos no chão, com receio de enfrentar os meus superiores, como se eles pudessem num só olhar deslindar que eu me tinha deixado levar nos meus sonhos pelas sendas do pecado mortal do erotismo
Agora, ali estava eu novamente presa das tentações, mas desta vez com uma intensidade nunca antes experimentada. Sentia-a dentro de mim, a entrar-me por todos os poros
Ela falara uns minutos muito próxima de mim quando a mãe se ausentara indo buscar uma relíquia de família para que eu a apreciasse. Senti como uma força inexplicável nos atraía, e como eu me deixara embalar pelas suas palavras, pela sua voz generosa carregada de sensualidade. De como nos havíamos aproximado até ficarmos ao alcance do cheiro.
No momento da despedida, ela chegara o rosto para um beijo que eu, de nó na garganta, delicadamente transformara num beija-mão, muito embora tivéssemos ficado face com face. Inspirando os seus aromas de mulher, sentindo o latejar do seu coração no peito que subia ao ritmo de tudo o que lhe adivinhava debaixo da roupa.
Acordei várias vezes durante e noite.
Rezei!
Lavei-me com água fria, rezei novamente e finalmente adormeci. Num sono escuro de cansaço sem sonhos nem luz...

Levantei-me sobressaltado!
Olhei para o relógio. Estava quase na hora da primeira missa.
Sem mais enfiei-me na roupa, num salto entrei pela porta da sacristia, disse duas palavras rapidamente ao sacristão e quando cheguei ao altar tive como primeira visão, ajoelhada na primeira fila e ainda de cabeça baixa em oração; ela que me tinha feito passar a noite em claro.
Parei, ajeitando os paramentos e as coisas em cima do altar enquanto o meu olhar perscrutava a assembleia de devotos presentes, a maioria gente de idade mas também alguma, pouca, juventude.
Desviei novamente o olhar para os preparos em cima do altar e depois de relance para ela. Olhava para mim e sorria.
Senti o sangue ferver nas veias.
Meu Deus! Como me atacava o sentimento de culpa pelo prazer que sentia ao ter a minha mente a beber sofregamente do sorriso com que ela me brindava.
Todo eu exultava por dentro ao mesmo tempo que pedia perdão pelos pensamentos que me tomavam. Senti uma erecção e fechei os olhos, mas não pude controlar-me mais e num passo rápido desloquei-me à pequena casa de banho anexa à sacristia e pela primeira vez na vida, masturbei-me...

(continua)

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