10 setembro 2006


Silenciosamente a mulher deixava que a sua mão se aconchegasse no calor da cona adormecida. Quase tão adormecida como o homem, na sala ao lado, alheio de tudo, até mesmo do filme que seguia automaticamente.
A mulher no quarto, sozinha, guardava a mão nessa cona que mais do que boca era um abrigo. Lentamente começou a masturbar-se. Primeiro com tristeza. Passou ainda pelo desalento que era não conseguir despertar-se a si mesma. Mas então, alheando-se ela própria dessa solidão que era masturbar-se por ter um homem distante na sala ao lado, sentiu-se a si mesma, apenas, como se ninguém mais existisse.
Silenciosamente foi acelerando os movimentos sobre o clítoris. Silenciosamente guiou a sua outra mão, de olhos fechados, sobre a pele macia, quente, ainda um pouco húmida do duche. Silenciosamente começou a ouvir o seu coração bater mais depressa, a sua cona despertar para esse estímulo que se sabia de cor.
Silenciosamente sorriu ao sentir que sim, que o orgasmo viria. Retardou-o um pouco. Abrandou o movimento dos dedos sobre o clítoris, deixou que um dos dedos fingisse que tinha vontade própria e entrasse na cona molhada.
Da sala ao lado chegou-lhe um leve ruído, o homem tinha mudado de canal, o filme devia estar no intervalo.
Não se distraiu. Com a mão esquerda afagou as mamas, sempre sedentas de prazer. Com a mão direita descreveu os conhecidos e automáticos círculos sobre o clítoris.
Silenciosamente veio-se, sem grandes estertores, apenas o suficiente para não adormecer tão sozinha.
Na manhã seguinte não acordou.

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