19 julho 2007

- São palavras, senhor... E do seu regaço brotaram rosas.

Passeando pelo jardim d’A Funda, sorvendo o que por aqui floresce, lembrou-se a maria-árvore de nos relatar um amor de alto-lá-edifício, com Tejo ao fundo e Cristo-Rei à ilharga, talvez abençoando o evento ou para esconjurar uma sexta-feira treze. E estava criada a espiral.

Eu, OrCa, fiz uma lauda Ao Alto Amar, a que a Fresquinha logo replicou com um Prazer do Encontro (Ao Alto Amar – Resposta ao Orca), sendo assim geradas outras duas entradas no dia-a-dia da São – quem estiver muito interessado em conhecer todo o enredo pode ir procurar estes textos, recentemente publicados, para ficar com a colecção completa… Pelo caminho ficaram, em jeito de comentários, algumas pérolas e algumas pedras semi-preciosas, que não interessa desperdiçar e que aqui vos deixo.

O Alcaide reinventa a história num soneto que lá foi publicado, sequenciando a sexta-feira, mas logo depois dá-lhe outro entorno:

Alice... na cidade das maravilhas

Que vida tem história já sem vida?
Era uma vez a Luz. Morreu sem Lua.
Cidade já não canta, apaga a rua
Alice... ali fenece, ‘stá escondida.

Era uma vez mais tarde. Já esquecida.
Cidade está mais triste mas é sua,
a história vai correr mas não flutua,
no sonho dessa luz que foi perdida.

Dos braços que agarraram realidade,
dos lábios que beijaram no momento
dos corpos enlaçados na verdade,
apenas vive um sonho e o lamento...

Alice... maravilha da cidade!
E sua mão afagou meu pensamento.

Eu, OrCa, achei por bem ir-lhe no encalço. Pegando então em sugestões que por aí se deixam, lembrei-me da Invenção do Amor do Daniel Filipe:

e depois do afago fez-se a noite
que de claro o luar bem mais parecia
nada neles ser mais claro do que o dia
nem do amor gesto algum que não se afoite

e depois do lamento a ousadia
de não ter pensamento que se acoite
ou pecado que fustigue como açoite
por se darem um ao outro em alegria

e então o sonho riu da realidade
enlaçados os amantes perseguidos
quando esta pressentiu essa verdade

e o prazer e o amar já tão perdidos
despertaram-se um ao outro na cidade
de por entre esses dois corpos tão unidos.

O Alcaide achou por bem pegar no testemunho e dar mais uma volta à pista:

Depois, a noite passa...

E a noite da cidade amanheceu
e o torpor que nos corpos acontece
fez certa languidez que a noite tece,
e o sonho se acordou e reviveu

Sorri de olhos fechados como eu.
Só via um seio nu que aparece,
e o calor de uma coxa que apetece
e a língua nos seus lábios, prometeu.

E o Sol fez a cidade clarear
um corpo de dois corpos que se estreitam
um dique que se abriu de tanto amar.

Então são as cabeças que se deitam
no peito de uma paz e de um olhar.
E a vida a guerra e o medo não espreitam.

A Fresquinha olhou para a Alice (que o Alcaide entretanto inventara) olhos nos olhos e…

Cuida de ti, Alice!

Se por entre as rugas do lençol, que roça na pele o sal desse amante, encontrares a verdade do afago e o respirar incessante do pêlo e da ponta da língua,

Se por entre as pernas do desejo, que toca a alma no doce desse amante, encontrares o hino de uma paixão ardida, a dor do partir e não ficar, de o querer assim sem o ter,
Cuida de ti, Alice !

São mentiras que se atiram aos girassóis das janelas,
São mentiras que separam as estradas das vielas,
São mentiras que se erguem de portas sentinelas.

Cuida de ti, Alice...

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