18 junho 2008

mitos urbanos

(- aprestando-me para o próximo Encontro, nada como olear previamente as peças para a jornada... São, chamaste, aqui me tens. Em exercícios míticos, talvez, mas bem mais consistentes do que os sonhos)


dois corpos perturbaram-se esta tarde
no cansaço da cidade
no mormaço
no suor de ser-se humano
num compasso
no transporte suburbano
sem espaço

no atropelo do dia
no descaso
na litania de voltarmos sempre a casa
no ruído ensurdecido de agonia
um acaso
nada mais do que um acaso
trouxe à tarde
o improvável do desejo

entre os dois
olhar fugaz de uma desculpa
e depois uma premência
sem ter culpa
a fundir dois corpos num
como se amantes
se fizessem um ao outro
por instantes

as coxas que se esmagam
e os peitos
arfantes na urgência a que se entregam
um súbito rubor
lábios abertos
e despertos
os sentidos que os levam

mas o mundo parou
a porta abriu
e a turba espalhou-se na cidade

um do outro se perderam

quem lhes viu
por segundos
um fremir de eternidade?

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