11 outubro 2008

O retiro da Maria Pantelhuda

O Bartolomeu convocou-a e ela apareceu aqui:

"Ora bibão lá, gente boa!
Bim aqui pre comeu amigo Bartalameu mamandou uma missage a dezere que tinha falado de mim precausa dum retiro espritual que fiz ha munto.
E prontes cumo foi uma espriença, benho aqui prá dezer.
Mas ó premeiro inda lhes cria dezer que já conheço o Bartalameu desdantes dir pro retiro e caté até foi um becado precausa dele queu pra lá fui.
O que se passou foi, bom, a bem dezere passousse porque, quercedezere, eu nasci a modos cum becado de cabelo a mais.
E percausa disso cando creci ninhum rapaz da menhaldeia, nem das aldeias à bolte me pegava. Eles inté tinham um becado de medo de mim, precum dia queu tába a chapenhar na ribeira lá daldeia teria os meus 5 ou 6 anos e passou o Xico Rabadilha candava a pastar as cabras e me viu em pelota, o gajo até matirou pedradas perque pensou quera um bicho quele nunca tenha bisto.
Só candeu comecei a gritar: «Tá quieto Chico, quinda me rachas a tola», é quele precebeu quera eu, só que como tava deitada dentro dáuga e a pantelheira me tapaba a cara o xico num me conheceu.
A pratir desse dia fiquei ca alcunha de Pantelhuda, mas agora já tou tão aquestumada, quinté axo qué o meu nome.
Mas já espigadota, apareceu lá naldeia pela altura das festas da desfelhada, qué cando os moxos que estão pra ir à tropa agarram as moxas nas eiras, por trás dos espigueiros e lhes dão cas maxarocas, um ingalês.
Eu num xei cumécuome lá foi parar, o que xei é quera alto cumuma torre e fino cuma um palito e gostaba da pinga quera cumo uma esponja.
Ora cumo o ome era desfrente as moxas da menhaldeia andabam todas a ber se o apanhabam atrás dum espigueiro mas ele achaba-se bem era incostado ao balcão da benda do Malakias a imborcar copos de treis.
Mas aqui a Pantelhuda qué fina quenem um coral, topou a fraqueza do ome e pinsou... pera lá Maria que este que te vai inauguerar a patanisca.
E se bem o pinsei milhor o fiz, peguei num garrafão de binhaça, prantei-me à porta da tasca do Malakias e esprei co bife saísse, nessas alturas amestreilho o garrafão e trucio pra casa.
Depois menhagente cando mapanhei a sos co ingalez é que foi festança da rija. A princípios a coisa nem tava a correr nada bem, perqueu num tinha espriença e o ome táva bebado cuma um cacho e a pintelheira só atrapalhaba ainda mais.
Mas fui bescar uma tisoura de podar e dei um aparamento à mata, inda saltaram de lá duas lebres e uma raposa, mas a que se ficou a ver milhor a racha do conão e cumo já pingava lá de dentro uma langonha escorregadia, quinté pinsei que tivesse alguma retura na encanalização, aquilo foi só fazer o nabo do ingales engrossar e encostar lá acabeça, que escorregou cumo manteiga.
Bom, agora vou dar milho às galinhas e mais logo volto cá para lhes contar o resto.
Beijinhos e abraços!
(...)
Ora cá estou de nobo, então adondé queu ía...?
Ah estába cuntar aos sinhores a passage cum o ingalês.
E então axim foi assim que cunsegui que o óme alavantasse a alabanca, assinteime em xima, caquilo num precisou que ninguem me dixesse ca natureza incareregasse de nos incinar tudo e arrecadei a mangueira toda caquilo foi cumo se estibera a comer carapau sem espinhas.
Ósdepois, cuntentinha cumo fiquei deixeio pra lá a dromir à espera ca bêbada se espalhasse co sono quera pró oitro dia lhe dar a dose a baler. Só que cando malebantei, do ingalês já nem a sombra.
Indándei pelas ruas a priguntar salguem o bira, mas todos me deziam que não. Intão boltei pra casa e puzma pinsar na minha sorte, agora que tinha arranjado um montador, logo ele mavia de desapracer.
Um dia, andava na monda com mais um grupo de cachopas e moços da menhaldeia, ondo o Bartalameu tambein andava e reparei às tantas que ele se tinha esgueirado lá pra trás duns silvados e logo atrás dele vi ir tambein a Janaveva da fonte.
Saltoumapulga atrás da óreilha e de fininho fui espreitar o qué queles iam fazer.
Intão cando xiguei ó pé do silvado, ouviasse uma restolheira danada quinté pracia uma guerra de janvalis, espritei e qué queu vajo?
A Janaveva cas saias pro piscoço e o Bartalemeu cas ciroilas abaixadas e uma marreta arreitada que fazia aquaize três da do bife.
Jurobos alminhas santas quinté mafaltou o ar só do ver. E nessa nôte nem dromi só a pinsar: Ai co malbado do ingalês afinal numarrabentou cos imãs, eu tenho de ver se levo este Bartalemeu à menhaádega. E boteima magincar de que maneiras é cavia do fazer.
E intão a pratir desse dia andei sempra a magicar um modo de o libar pra menha casa. Um dia cando ia a passar im frente à casa do regidor vi o Bartalemeu a cunbersar cum ele e a dezer-lhe que ia estudar pra Lesboa. Ai nesse instante o ceração deumum salto quinté pracia que me saia pela boca. Foi intão cando o rigidor lhapréguntou o que ia ele estudar e ele disse quéra pra cambeleireiro, é que foi cumo semacindesse uma lamparina no cébaro e alembreime logo duma grande indeia.
Espirei pro Bartalemau mais à frente e disse-lhe que tinha óbido dezer quele cria ser cambeleireiro e que tinha umas brochuras lá em casa com pinteados da moda que lhamostrava sele quesesse ver.
O Bartalemeu nem suspeitou da marosca e desse logo que sim, quia só a casa meter a burra no palheiro que ia logo de seguida ter comigo.
Nem bos digo nem bos conto cumo fiquei tã cuntente. Fui logo a correr pra casa, piguei numa escoba e num pinte e boteime logo a pintear a pantelheira e a fazer um carrapito prá ter toda bem compostinha pra mostar quandele chigasse.
Assim co Bartalemeu chigou, abri-lhe a porta, mas ficheilha logo à chave e boteia no meio das mamas. Mas ele num simpertou, só priguntava pelas revistas, que cria era ver os pintiados.
Intão boteimáfrente dele, alivantei as saias e mestreilho carrapito. O Bartalemau abriu munto os oilhos de espanto e disse: «Mas ca ganda marabilha, quem é que te fez um pintiado tão bein feitinho?»
Boceses nem imanginam cumo me sinti urgulhosa caquelas palabras dele. Intão, ajuntei as mãozes pre baixo do imbigo, dobrei um cadixo a perna, inquelinei a cabeça um cadito pro lado e fiz um rizinho marouto d'inmitação cuma fetungrafia que tinha bisto numa rebista, quera duma amaricana do cenema que se chamaba Marialina Monrrole.
O Bartalemeu cando me viu assim, veio pra junto de mim e desse-me: «Ai Maria Pantelhuda que nunca te tinha bisto cuma hoije, que estás mesmo apatitosa rapariga». Ê sespirei e o Bartalemeu nem me deu tempo pra mais nada, sacou o enxota-moscas de dentro das ciroulas, inquestoumá parede da sala e arrimoume logo cum ele entre-bordas quinté pracia co chão me fegia debáxo dos pézes.
Despois alebantoume uma perna e ainda interrou o espanta-mulas mais fundo queu já cria que me chigava à boca. Despois de me arreitar umas balentes estocadas, mandoume drobar prá frente e botar as mãos incima da mesa, botousse por trás de mim e... aí é queu pinsei que tinha chigado o fim do mundo. O óme pracia um boi de cobrição, agarroume nos cadris e a cada bez que minterrava o malho era cumo so céu sabrisse e eu inté já bia os ánjinhos a tecar harpa, sinos e tudo.
O preblema foi despois, cando o Bartalemeu me ditou de barriga pro ar in cima da mesa e me botou as pernas im cima dos ombres dele e boltou a encabar nobamente a bingala e apertába masmamas e às tantas a coisas descontrelou-se e eu já lhe gritába «ah Bartalemeu que me matas» e ele, que no mataba nada, e eu, que desse cum mais força, até que no meio daquilo tudo, o carrapito desmanchasse e eu só já bia pantelhos à menha frente até que dixei de o ber a ele.
Olhem, quando precebi que o Bartalemau se tinha predido no meio do pintelhame apanhei um susto que só bos digo. E pinsei logo: queres tu ber Maria Pantelhuda, quindaàdias perdeste um e já bais perder oitro?
Intão fiquei ali sintada à espera pra ver se o via apracer lá do meio do pintalhal, mas fêsse nôte e nada do Bartalemeu. Inté que malimbrei dir ò mê bezinho pedirlhe imprestado um predigueiro com quele caça, pra ver so anemal me farejava o óme.
O Canito andou per lá a nôte toda e ao oitro dia de manhã nem o cão nem o Bartalemeu ainda tenham apracido.
Maria Pantelhuda"

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