09 janeiro 2010

Conto das máscaras (II) - As mãos da noite no cabelo

Fumei as tuas palavras e o cigarro morreu-me nos dedos; acenderam-se os corpos. Demorar a noite, demorar a noite que é bom acordar assim, pernas e braços entrelaçados, almas entranhadas; mas a manhã que não é inicio do dia de nós é inicio do adeus da paz. Até quando? Pergunta-se ao vento e à maré; uma casca de noz nunca sabe, é apenas uma mendiga do tempo. E o vento e maré gozam, vão gargalhando até logos e até nuncas, satisfeitos com o seu domínio completo da felicidade alheia. As mãos da noite demoram-se no cabelo para demorarem a sombra que suaviza as linhas do rosto. As mãos da noite demoram-se no cabelo e beijam os sulcos dolorosos causados pelo aparafusar das máscaras.

Sem comentários:

Enviar um comentário

Uma por dia tira a azia