21 janeiro 2010

Da(s) forma(s) geométrica(s): um esboço

Há um Carlos, um Vítor e uma Ana. Um triângulo amoroso clássico. O Carlos não sabe do Vítor e este não sabe que aquele existe. A Ana sabe dos dois mas não sabe de si. Há sms e mails. Há almoços e jantares. Há telefonemas furtivos e os normais encontros e desencontros que se associam a uma situação destas. Há música, muita música. E uma mulher que se multiplicava mas que agora se divide. Cada vez mais. E é cada vez menos. Que ri e chora. Um Carlos que não quer mais do que tem e um Vítor que não percebe o que tem. Há dias em que acorda com um e se deita com outro e semanas a dormir sozinha mesmo quando se encontra alguém ao seu lado na cama. “Nini” ouve-se trautear por vezes como se fosse uma personagem duma canção. Homens que sorriem com a sorte que têm, com a liberdade que julgam conquistar dia a dia e uma mulher que não se quer decidir. Há uma mulher com três escovas de dentes e que ocupa de forma diferente três espaços igualmente sufocantes, igualmente inexistentes. E, claro, onde há um triângulo há uma amiga, que tudo sabe e tudo esconde. Que censura sem censurar. Que deseja. Que ouve. Ouve sem sorrir. Que seca e mirra pelo irmão que, nem por acaso, gosta de Ana e não se quer intrometer entre aquela e Carlos, aquela e Vítor. Há um tempo e há um fim. E um homem que acorda sem uma escova de dentes no copo e outro que liga e pede e quer explicações e justificações e uma mulher que não as quer dar, que não as tem de dar.
Acabou!
Com ponto de exclamação.
Acabou.
Com ponto final.
E há uma mulher que renasce.
E uma mulher que, sem sorrir, acaba a consolar à vez dois homens que julgam sofrer, que partilham por conveniência um sofrimento que não sentem por uma mulher que não conheceram. Que nunca se deram ao trabalho de conhecer.

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