14 fevereiro 2010

Raquel: conto do pântano

Inquietos, nós. A ilusão batia-me no colo do útero, tomei-a por amor? E tu? A tua ilusão parecia tão firme, sempre tão firme; escorria tanto e, mesmo assim, firme. Trespassou-me o tempo de ti? Se calhar escorreu com a ilusão; o tempo foi placenta transparente que enrolava aquele delírio liquido - eu sempre a olhar através dele, sempre através, a adivinhar o que nasceria - a deixar adivinhar o que crescia, parto fácil e fim. Rebentaram as águas que eram as tuas lágrimas e empoeiraram-me o cabelo, encheram os armários - os fantasmas, sem casa, assombraram-me o castelo. Rebentaram as lágrimas que eram as minhas águas e inundaram-te os olhos, escorreram-te para o peito - inundaram-te o castelo. Juntaram-se as duas, cresceu um pântano - era a nossa nova casa. O nevoeiro cerrado, eu estava ao teu lado e nunca mais te vi.

Sem comentários:

Enviar um comentário

Uma por dia tira a azia