23 março 2010

Serei


Hoje: serei a mais bela mulher da sala.

Semicerrarei os olhos brilhantes
e entreabrirei os lábios húmidos
quando tu subires ao palco
e me dedicares aquela música
que escreveste quando eu adormecia
(de tédio) na tua cama desfeita.

Hoje: serei a mais bela mulher da sala (!)

Recordarei sem mágoa
o momento imperfeito das semifusas
enquanto compunhas -fanático-
aquilo a que chamavas a tua ascensão(!)
e envolver-me-ei (mais uma vez)
na invulgaridade arranhada.

Hoje: serei a mais bela mulher da sala (?)

Não para ti.
Felizmente:
a sala esvaziou-se em atropelos
dessincronizados.

Para mim.
Também felizmente:
a sala encheu-se de vozes,
de luzes e de tudo o que mereço
para além deste presente.

Foto e poesia de Paula Raposo

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