21 março 2010

Velas

Deixas-me entregue à fatalidade das palavras banais. Mais um lugar-comum e sou apenas mais uma entre tantas que ardeste. Por isso, acendo um cigarro e conto-te as coisas que não sei. Enchem-me as velas apagadas, quase virgens, em toda a vida só arderam os teus dois minutos. Não chores, não chores, não chores, não chores mais. Se nunca é só o meu corpo que te abraça - bem sabes - até quando o corpo se afasta, o abraço fica. Deitas-me na tua cama com a calma solene do amor e com a intensidade dos desordenados pela paixão a vibrar-te a nudez. O meu corpo ganha ordem no teu, o teu no meu; a imagem do querer aos pedaços fica inteira quando encaixamos assim - eu no lugar teu, tu no teu lugar em mim. Olha as palavras, onde vão? Olha, que agora que não te ouço, elas, ainda assim, estão aqui. Porque foi no meu dorso que as soletraste, devagarinho, com os dedos, e esculpiram quem eu sou agora. É assim que acontece com as palavras de um amor, quando se vai as palavras ganham corpo eterno e branco de estátua - nós ficamos petrificados! E fica-se entregue à fatalidade das palavras banais. Saudade. Dor. Lágrima. Vontade.



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Um homem também chora... e o Bartolomeu ode:

"Quando te vens e eu me venho
As palavras ganham corpo...
Eterno e branco de estátua
De ti, tenho sede, tenho míngua
Do teu respirar, do teu sopro
N'alma apaixonada deste velho

Porque foi no teu dorso que soletrei
A mudez de uma paixão sem nome
Encaixado em ti e tu em mim
Que senti a saudade de quem amei
Que senti do seu corpo toda a fome
Que fingi rir mas não. Chorei por fim!"

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