14 abril 2010

Depois

Guardo um bocadinho para depois
parto-o do teu sono de corpo macio
divido-te os sonhos em dois
dou-te metade do meu silêncio.
Guardo um bocadinho para depois
para não sentir a tua ausência
sente-a a gaveta da minha fantasia
na página rasgada de um livro de heróis.
Guardo um bocadinho para depois
bocadinhos mansos de estrelas ao sol
dormem e esperam no meu céu de lençol
de peito a sonhar-se despido por girassóis.

E agora, que já não sabemos ser dois
o que guardo eu para depois?
Mostro-te o peito já queimado do sol
dos teus dedos nus nas minhas fantasias
magoado pelo frio do lençol
em lugar do teu corpo, nas tuas ausências.
Guardei um bocadinho de ti para depois
já gasto no ventre cheio de tanto silêncio
as pernas envolvem um convés já vazio
já nem naufrago resta para guardar depois,
na onda das ancas um toque de olhar macio
um colo que se alaga e te guarda para depois.

Sem comentários:

Enviar um comentário

Uma por dia tira a azia