09 abril 2010

Fluir

Olho-te assim e és Deus
o teu ventre tem céus
rasgados por braços da madrugada
uma noite interminável, desalmada:
tu deitaste-te na sua mão;
e eu bem ouvi o teu segredo
e eu bem sei porque tens medo
e eu bem sei que agarras o coração
para não mais o perderes
mas, meu amor, se misturares
esse teu medo no meu
o meu coração dilui-se no teu
e quando sangrares
eu também já me rasguei
para tu me circulares
não sangras em vão.
Cada lágrima que tu chorares
eu retenho nos meus olhos
abraço-te e engulo cem choros
eles dilatam-me no peito
meu amor, para tu me entrares
pelo ventre já aberto.

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