26 abril 2010

A prostituta azul (III)

A Lua estava deserta. Hesitou entre o elevador desengonçado e a enorme escadaria; o homem parecia demasiado grande e pesado para os dois. Não tinha medo dele porque observara a forma delicada como transportava um saquinho rosado de aspecto leve e suave a contrastar com uma "paquidermice" vermelhusca e ofegante no corpo suado... Rangeram até ao andar de cima. Prima, quero um quarto. Da garganta do imenso homem soltou-se novamente a voz fininha e melodiosa: "o maior que tiver, por favor". Entraram. "Espero que dances, espero que dances" - cantava ele enquanto a música tocava suave; o rádio saído do saquito em cima da cama, ao lado o maillot e as sapatilhas. "Vestes? Vestes? Espero que dances, espero que dances." Vestiu e dançou, delicada. O homem chorava: "não morreste, afinal nunca morreste". Agarrou-a; os pés descalços, grosseiros, debaixo dos dela, rodopiaram-nos - leves - pelo quarto. "É a última dança, é a última dança." Beijou-a; a dança estremecia nos soluços do homem-montanha. Baixou as calças e molhou as sapatilhas de bailarina. Deitou-a e despiu-a. Guardou tudo no saco e foi-se embora. Os papelinhos coloridos de feio ficaram deitados na cadeira, alheios ao cenário. Ainda o ouviu ranger as memórias na escadaria.

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Uma por dia tira a azia