11 agosto 2010

Maria Última

A carne pode ser um abismo nas garras;
um abismo longo, tão fundo,
a última queda que termina as bestas,
(entre dedos, cegamente, o mundo).
Sim, sou eu, sou ela,
a prematuramente entardecida;
a pele estala-me esculpida
pelo tempo que te fecha a janela.
Sim, sou eu, sou ela,
a tua última e eterna amada
que vai sonhando nas portas
a hora do fim deste segredo;
tua derradeira e interminável madrugada,
recebe-me bem, meu amante, sem medo,
eu serei tudo e eu serei nada
de mão dada ao teu último segundo.

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