21 setembro 2010

Quando permiti que entrasses dentro de mim, eu a fingir que não ia dando pela coisa, tu a entrares devagarinho, quando te abri a porta de casa, quando desviei o lençol para que te enfiasses comigo na minha cama, quando te disse em que armário da cozinha guardava os copos, quando te mostrei o caminho mais directo para o meu orgasmo e quando te desenhei os atalhos para que te perdesses em voltas e reviravoltas dentro de mim, não podia adivinhar que me deixarias esta feia cicatriz no peito.
Nua, perante ti, vi um dia o punhal na tua mão, esse punhal que era a mentira que me tinhas contado. Disseste que não devia preocupar-me. Guardarias o punhal, não o usarias em mim. Devagar, deixei o ar sair do peito, e baixei os braços, certa de que não precisaria de me defender.
A minha carne voltou a ser tua e os meus olhos iam deixando de espiar as tuas mãos, em busca do punhal. Acreditei, estava guardado, não o voltarias a empunhar.
Mentira, mentira, mentira. Mentiste-me quando mo prometeste e mentiste depois, quando eu estava distraída e fui surpreendida pela dor aguda, finíssima, profunda do teu golpe. Mentiste quando mascaraste as evidências, mentiste enquanto pudeste. Eu acreditei enquanto pude.
Agora já não posso. Não posso acreditar-te mas, sei lá como, ainda consigo querer-te. Mas quero-te desta maneira magoada, quero-te zangada, vingativa, quero-te mesmo quando é debaixo de outros que me deito e que me venho.
Toma-me assim.

[Medeia - blog Infidelidades]

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