14 outubro 2010

Carta ao Viajante (III)

Vim aqui para te adormecer, se falamos é como se nos t(r)ocássemos; tu acordas-me (durmo demais), eu adormeço-te (nunca dormes). Eu leio-te sempre, não o sabias? Tu que falas no meu tom cantado, tu que pontuas com a minha emoção, a ti - não cedi o beijo - beijo todos os dias.

Não te posso curar, queres cegar (o que é aprender o desprendimento senão uma lição de cegueira?) e eu caminho para tocar nos pássaros cegos, os meus dedos nas penas até que me doam e mais ainda. Dormi contigo ontem, beijei-te e sonhei acordada.

Não te vejo e gosto de ti, não estou e caminho a teu lado; gosto da tua viagem e da nossa, Viajante. Um dia, um destes dias, ainda viajarei para ti, serás o cais antes de partirmos separados; nesse dia, porém, já não poderei dizer que te vou conhecer; a nossa viagem a dois já soma incontáveis dias e infinitas linhas das nossas entrelinhas.


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Uma por dia tira a azia