19 outubro 2010

Conhecer Joana Well

Creio que ela não o terá notado, mas a verdade é que me apresentei particularmente ansioso. Não é todos os dias que se conhece uma prostituta. E, no entanto, depois de a ter conhecido, fiquei com a legítima dúvida: será que, realmente, nunca conheci, ou conheço uma prostituta? Porque, como o comprovei, uma prostituta não é uma mulher diferente das outras. Esta, seguramente, não o é. Não exteriormente. É uma mulher como tantas com quem nos cruzamos nas prateleiras dos supermercados, seja nos iogurtes ou nos enlatados, ou na secção dos frescos. Não creio, de facto, que ela o tenha notado, mas eu ia ansioso. Porque ia conhecer uma prostituta. Porque na minha cabeça isso tem um certo quê de transgressão, mesmo sabendo que eu não ia recorrer aos seus préstimos. Com efeito, o meu interesse em Joana Well é a escrita e não o sexo.

Admito, e espero que deste modo ela não se sinta diminuída de forma nenhuma, que poderia ser pior se ela se apresentasse como uma bomba feminina. Mas não. A sua figura extremamente discreta, neutra, motivou uma súbita queda nessa ansiedade antecipatória. Cumprimentá-la e ter, finalmente, perante mim a pessoa que escreve o que escreve, desfez qualquer stress.

Como é conhecer Joana Well?

Conhecer Joana Well (não em sentido bíblico, note-se) é fazer uma incursão num mundo estranho. No mundo de uma pessoa que apresenta dificuldade em valorizar as suas qualidades como escritora, e que se compara - talvez constantemente - aos grandes autores que lhe servem de bitola. A exigência pessoal é elevada, e isso leva-a a um universo de espanto e dúvida. Espanto pela atenção que recebe, dúvida acerca das qualidades. Tentei explicar-lhe, e suspeito que em vão, que as pessoas, as pessoas que interessam, provavelmente seguem com atenção a sua escrita porque ela transmite emoções. Emoções não raras vezes fortes, e que sedentos como estamos de escrita emotiva, é fácil encontrar interesse nas palavras que ela articula ainda que estas, na sua análise, não sejam esforçadas como lhe parece que a um génio criativo se exigiria. Não posso estar de acordo, e assim lho disse.
Para mim, a genialidade é pura. Fluída. É algo que nos sai sem esforço. Julgo que ela o tem.

Joana Well é uma figura rica, e nesse tanto acredito que seja uma puta desafiante. Quem a conheça (agora sim, no sentido bíblico) poderá passar, em acto contínuo, de um sexo suado para um aceso debate sobre as singularidades da alma ou, até, da geopolítica e da alta finança. "Ahhh, assim é que é, mexe-me esse rabo", dirá ele, e ela poderá responder algo como "nesta posição em que estou, temo que o FMI entre forte e feio". E não seria de estranhar.

Encontrava-me, assim, movido pela curiosidade de conhecer essa figura afável da internet. Que responde às pessoas com toda a correcção e simpatia, que escreve coisas que eu sinto, por vezes, muito duras, muito emotivas. Sinto, verdadeiramente, ter saído deste fugaz encontro mais rico do que cheguei. A Joana Well, que eu jamais reconheceria na rua, é uma mulher interessante. Despistada, numa frequência diferente da de quase toda a gente, mas aposto que muito consciente das coisas que definem a existência: as emoções, os paradoxos, os grandes cinzentos dos quais tantas vezes procuramos fugir, ávidos de uma definição precisa de branco ou preto.

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