12 janeiro 2011

Do cansaço

O sono fugiu-me da noite para o dia. A noite quer ser lida e o dia dita-me para o escrever. O cansaço espreita, constante, os olhos pequeninos brilham-lhe cerrados na agitação, querem uma pele que possam vestir. Quieta, muito quieta, só uns instantes para a serenidade se perceber convidada de honra nesta casa. Sei, quando estou assim pareço imóvel, não estou, nunca estou, escuto no peito o embalo mágico do coração.
Não vejo o fundo escuro da noite, não vejo o fundo escuro do mar, com nenhum deles lutarei, apenas com o fundo escuro do medo até lhes ver o fundo em claro.
Não tenhas cuidado, não tenhas medo do meu cansaço, acreditar é assim, um gesto completo do corpo inteiro, um mergulho contra a parede negra do lago, voar contra o cimento e atravessá-lo pela porta aberta entre os dedos da tua mão.
Aqui não há cinzentos, meios tons não existem; há branco ou preto, sim ou não no acreditar, tal verbo não existe com "ses", "talvez", "tentar", e cansaço é apenas o nome do vigilante que o vem conjugar.

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