16 janeiro 2011

A prostituta azul (VIII) - Remendos

Ao segundo final serão nove horas, três minutos e quinze segundos. Faz anos que digo bom dia (?) aos alheados, brinquedos que acordam e se movem ordenados pelo instante gémeo do anterior. Hoje, um deles tem o fio partido num dos cantos dos lábios, o esquerdo. Tem um aspecto estranho, sorriso pendurado à direita; tenho aqui um pincel, ainda bem, posso emendar do outro lado se misturar a tinta rosa com a vermelha. Parece-me muito melhor, agora. Já desenhei muitos semi-sorrisos bonitos, parecem até verdadeiros, parecem mesmo mais verdadeiros que os normais puxados por fios que adormecem na cara dos sonolentos, é que o sono que vem do escuro permanente é muito contagioso, todos sabemos disso excepto os brinquedos que somos nós. Espreitou o espelho e depois o bolso e esticou os papelinhos coloridos de feio, saiu com três saltinhos leves que lhe pareciam condizer com o remendo de felicidade que veio comprar. Bom dia (?!).


Sem comentários:

Enviar um comentário

Uma por dia tira a azia