27 fevereiro 2011

«A vizinha do lado» - por Rui Felício


Empregada numa panificadora ali para os lados da Achada, perto de Mafra, a Sónia tem os horários trocados. Trabalha de noite, dorme de dia.
Por isso, raramente a vejo, excepto nalgumas tardes de fim de semana quando fico em casa. Quando calha, trocamos palavras de circunstância de quintal a quintal...
Simpática, bonita, boa conversadora, vive sozinha com a mãe e um filho pequeno, desde que se separou do marido.
O quintal dela confina com o meu, separados apenas por uma fiada de arbustos baixos que se podem galgar facilmente com um simples alçar da perna.
Naquele sábado frio e soalheiro, ela chamou-me e ofereceu-me uma caixa de bolos que trouxera da fábrica, como já o fizera de outras vezes. Agradeci-lhe e fiquei a observá-la, tentando afastar maus pensamentos, enquanto ela cirandava por entre as plantas e as flores, cortando aqui, regando ali, ajeitando acolá. Por vezes debruçava-se e a roupa colava-se-lhe mais ao corpo, deixando antever as curvas bem desenhadas das pernas, das ancas.
Quando se agachava para apanhar alguma coisa, a saia curta subia e destapava-lhe as coxas um pouco acima dos joelhos, As pernas assim descuidadamente entreabertas, faziam-me imaginar o tesouro quente ainda oculto, daquela mulher apetitosa.
Para afastar as tentações, eu fingia concentrar-me nas nuvens pesadas que se começavam a acantonar do lado do mar, e comentei: - vamos ter chuva, Sónia!
Pois vamos, concordou ela, tentando adivinhar quando começariam a cair os primeiros pingos.
De súbito, sem aviso, ela tirou o gorro e a bata branca. Esticou os braços para cima, como quem se espreguiça, deixando-me adivinhar os contornos dos seus seios firmes debaixo da blusa justa.
Sem parar e olhando-me de soslaio, tirou a saia, depois a blusa, logo a seguir o soutien, as meias e, por fim, o par de cuecas.
Durante esse tempo todo, não falei, não sabia o que dizer, a garganta secava-se-me...
Sorrindo, ela aproximou-se de mim, com aquelas peças de roupa, todas debaixo do braço, estranhando eu estar tão calado.
- É sempre tão falador e está há tanto tempo aí parado, sem dizer nada, atirou-me ela...
Arrepiei-me quando aquela bela mulher, a seguir, me agarrou suavemente no braço e me perguntou:
- Está frio não é? Podia ter aquecido um pouco se, como é alto, me tivesse ajudado a tirar toda esta roupa do estendal...

Rui Felício
Blog Encontro de Gerações



(pintura a óleo: «Mulher a lavar roupa» de Henry Robert Morland)

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