26 julho 2011

dedos que passam a mão pelo pensamento

«Na sombra do meu sangue escrevo-vos do meu mundo, escrevo para todos aqueles que entendem que um poeta vive com o rosto no meio de letras e que elas selam um planeta que me dissolve, que se dissolve sempre a cada frase escrita por mim.

Anoitece entre o meu tremor e a minha treva. O mundo lá fora corre trespassado pelo láudano. Em vóltios e vóltios... No meu mundo o sangue aproxima-se escarpado. Os dedos preparam mais uma aurora e os Astros lutam, dentro, em mim, numa guerra de elementos, transformando a imagem trabalhada em palavras.

No chão da página escuto os rios que correm repletos de frases cheias, gritando, gemendo montanhas em falos gritos. Também Eu às coisas mentais grito;

- aaaaaaaaaaaaaaaaaaaahhhhhhhhhhhhhhhhhh!...

Na pele a encarnação, o amargo sal que o Astro na carne deixa fugir quando faço morosamente comida de um poema, uma visão ou um lugar para os outros, para os sonhadores, para todos os que procuram a assumpção, as palavras, em lugares compactos no entusiasmo do branco que se pinta às vezes de preto e de repente ficam ofuscantes, as palavras, as colinas das palavras. Em aceleração.

Existem em mim dias difíceis, onde planto a carne dificil na esperança de colher sentires dentre o delírio que a noite pulsa, a vírgula ardente das mãos que escrevem e me empurram de palavra em palavra, unindo-me à poesia, esse núcleo surpreendido que os dedos quase amornam, no poder que deles advém. É então que o verbo me acende a vida. Acendendo os dedos numa selvagem criação. Ergue-se fogo vermelho na transparência profunda da gramática atormentada pelas visões ferozes, pelo escaldar da minha caligrafia, devastando campos e larguras brancas, afogando páginas em loucura. Textos coagulados, impressos no meu pensar, num pensamento perfurado pela febre que me costura ao ar, tal e qual como uma droga, da qual eu sinto que sou totalmente dependente...»

* a mim própria, liricamente!...


Luisa Demétrio Raposo

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