27 julho 2011

Está (porno)gráfico o bastante ou é preciso fazer um desenho?

A pornografia, essa sexipédia do adolescente comum, sempre teve um estatuto marginal que, de resto, parece cobrir-lhe bem as partes de fruto proibido e por isso ainda mais apetecível para quem está sedento de aprendizagem de matérias que não se ensinam nas escolas.
Desde a puberdade nós gajos desenvolvemos essa arte da clandestinidade, da ocultação de pecados, e o estimulante exercício mental de improvisar o melhor esconderijo secreto para as Gina ou Weekend Sex acabou por preparar muitos para a idade adulta e respectivas contingências.
Esse é apenas um dos argumentos favoráveis à existência da pornografia que gerações de falsos puritanos têm tentado, sem sucesso, banir dos hábitos de consumo da mesma rapaziada.
Acaba por ser fácil desmantelar a retórica puritana, bastando um nível sofrível de inteligência, um valor residual de bom senso e uma pitada de humor.
Por exemplo: um dos clássicos da argumentação dos contras é o facto de a pornografia fomentar a frustração por recriar proezas fora do alcance do cidadão comum. Pois, pois…
Só faz bem a estes jovens moinantes serem ambiciosos ao ponto de tentarem igualar as tais proezas, de renegarem a preguiça e irem à luta com o máximo de fervor.
Não conseguem imitar o John Holmes no comprimento? Dêem o litro na duração. E se não conseguirem, pelo menos estiveram entretidos a tentar.
Se alguns, coitadinhos deles, ficam frustrados por não darem três minutos quanto mais três seguidas em vez de se motivarem para fazerem melhor na próxima é porque são mesmo assim e a pornografia não passa de mais um filtro para distinguir os incapazes. A vida está cheia disso, coisas muito mais feias e traumatizantes, e a ala conservadora não as tenta erradicar…
Outro clássico do discurso careta é o papão da exploração da sexualidade feminina, reduzindo as actrizes porno a vítimas do sistema, a desgraçadas a quem a vida apanhou literalmente nas curvas e andam ali com enorme sacrifício pessoal e sob coacção.
Mentira, claro está. E quem dera aos cofres do nosso Estado a receita fiscal inerente ao rendimento médio dos profissionais do palco alcova.
Por outro lado, e pegando pelo cliché da exploração do corpo da mulher, blábláblá, esse é tão rebuscado quanto irrelevado pela própria opção de muitas mulheres em evidenciarem precisamente o corpo enquanto instrumento de sedução, seja pelo vestuário ou pela atitude. E ainda temos essa “aversão” estampada na publicidade que reflecte os interesses dos consumidores. Ficamos conversados nesta também.
À falta de argumentos sérios, quem não gosta e preferia que os outros não pudessem ter (pois só come quem quer) tenta em desespero de causa pegar pela estética da coisa ou mesmo pela qualidade dos guiões.
Ah e tal, aquilo acaba sempre da mesma maneira. Pois acaba. E qual seria a alternativa? Começar por aí?
Ah e tal, aquilo acaba sempre da mesma maneira e é uma maneira nojenta. Poizé. Mas em matéria de nojos cada um/a fala por si. Ou o mundo mudou assim tanto e ninguém me avisou?
E no fundo o que está em causa é que toda a gente fala mal de algo que supostamente nunca viu e há imensa dor de cotovelo, tanto entre aqueles que comparam as suas pilitas com os bacamartes dos filmes como entre aquelas que vêem as outras a aviarem quatro ou mesmo cinco (não me peçam para entrar em pormenores ou eu entro mesmo) penises em simultâneo (e não, as mãos não entram nas contas) e elas mal aviam um, sobretudo quando ele bate à porta das traseiras.
Está em causa a hipocrisia do costume, dos que preferem brincar às escondidas do que serem apanhados a gostarem da paródia.

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