29 julho 2011

A prostituta azul (XIV) - Reino da Hipotermia

Ainda bem que Ele me deu dedos frios. Quanto mais frios os meus dedos, mais prazer me dá tocar o calor do Mundo, e mais consigo tocar-lhe o frio, percorrê-lo e conhecê-lo lentamente sem que a dor gelada me faça retirar a mão.
Ainda bem que a minha pele é fria, fria, tão fria que posso abraçar o homem de gelo; fria, tão fria, que, se abraço o homem de gelo, ele se julga quente; fria, tão fria que o homem de gelo se pode sentir capaz de me aquecer. Ainda bem que Ele entregou o meu corpo ao Reino da hipotermia; todos os dias, o meu despertar é um arrefecimento, o frio sente-nos iguais e não me sabe ferir, o calor vem beijar a minha pele que não tem poros, que não sabe respirar e não sabe deixá-lo entrar. Ainda bem que Ele me deu dedos frios, cada ténue raio de Sol, cada pequeno grau no âmago do gelo, me pode confortar.

Sem comentários:

Enviar um comentário

Uma por dia tira a azia