23 maio 2012

«respostas a perguntas inexistentes (199)» - bagaço amarelo

os olhos do sexo

É tudo por causa do sexo. Ela levantou-se logo pela fresca, passeou-se pelo quarto nua depois de tomar banho e experimentou três vestidos antes de se decidir por um azul, com a saia a ficar por cima dos joelhos. Foi assim que ele foi acordando devagar, a espreitá-la pelo canto do primeiro olho que conseguiu abrir. Está ainda ali, de barriga para baixo e com o pénis a espreguiçar-se na escassa energia matinal. Sente-se tão cansado quanto apaixonado, como se todos o seu vigor se tivesse concentrado apenas no membro sexual. Está tudo ali.
E é tudo por causa do sexo. Ela traz-lhe um café à cama e diz-lhe que se despache, que está um dia de Sol e que quer ir passear para o jardim da cidade. Ele responde que não quer ir a parque nenhum. É este "não" que a mulher não percebe. O que ele não quer, de facto, é sair da cama sem fazer Amor com ela, distribuir de novo por todo o corpo essa força que está concentrada num único membro. Nem para ir ao jardim, nem para ir a lado nenhum.
E ela fica a olhá-lo da porta. Despacha-te, insiste. E estranhamente sorri. Foi pelos olhos que ele se apaixonou por ela. O corpo veio depois. Aliás, o corpo vem sempre depois do olhar, como se fosse o paraíso depois da grande e resplandecente porta do Amor. No primeiro encontro, ele levantou-se para ir buscar duas cervejas ao balcão, e quando voltou ela tinha o queixo pousado nas suas mãos em forma de taça, tapando-lhe a boca e parcialmente o nariz. Só se viam os olhos entre uma nascente viva de cabelos negros. Eram doces, tão doces que ele perdeu a fala.
E é tudo por causa do sexo. Ela acabou de se afastar. Talvez esteja na sala a ler um livro, talvez esteja na cozinha a fazer a lista de compras para a semana, talvez esteja a vestir o casaco para sair sozinha. E ele levanta-se, de pénis erguido e cabeça baixa, lavando a cara com água fria para amolecer esse estado de ansiedade. Vai sair com ela. Na verdade iria atrás dela fosse ela para onde fosse. O sexo, talvez logo à noite. É só isso.


bagaço amarelo
Blog «Não compreendo as mulheres»