31 março 2013

«Barriga de aluguer» - por Rui Felício


Em Portugal não é legalmente permitida aquilo a que se chama a “barriga de aluguer”, situação que, porém, é admitida nalguns países.
Trata-se de uma forma de possibilitar a gestação de filhos aos casais que, por infertilidade, por algum impedimento ou por outras quaisquer razões, os não conseguem ter.
Mas se o fosse, isto poderia ter-se passado:

O Simão e a sua mulher Marta, casados há vários anos, não conseguiam ter filhos. Era para os dois um enorme desgosto com o qual não se conformavam. O médico, depois de exaustivos exames a ambos, concluiu que a Marta jamais poderia engravidar.
A Vanessa disponibilizou-se para gerar um filho do Simão através de inseminação artificial. Seria “barriga de aluguer”, sob condições a negociar.
O Simão pagar-lhe-ia 3 mil euros no momento do parto, bem como os custos com a alimentação e com um seguro de saúde, enquanto durasse a gravidez.
Passaram-se nove meses e chegou o dia do nascimento. O bebé era a cara chapada do Simão que estava radiante por ter finalmente um filho, um rapagão forte e bonito.
Apressou-se, ainda na maternidade, a passar um cheque à Vanessa, da quantia combinada.
Estranhamente ela recusou o cheque, dizendo-lhe que por nenhum dinheiro abdicaria do bébé.
Afinal, ele era seu filho, ela tinha começado a amá-lo durante o tempo da gravidez e agora que o tinha ali nos seus braços, que o amamentava, estava segura de que não o entregaria fosse a quem fosse.
O Simão argumentou que, para além do acordo feito nove meses antes, ele era o pai biológico da criança!
- Ora ainda bem que diz isso diante de testemunhas, retorquiu a Vanessa, apontando as duas enfermeiras presentes no quarto da maternidade...
Na qualidade de mãe solteira, com o meu filho à minha guarda, vou intentar acção de paternidade contra si, para que me pague uma pensão de alimentos até ele atingir a maioridade.

Rui Felício
Blog Encontro de Gerações
Blog Escrito e Lido

Gajo Y


Não sei se os andróides contam carneiros virtuais mas se queres a minha opinião nós não estamos a debitar em rede para a mesma impressora. Não nego que ficas bem em qualquer ambiente de trabalho como moreno alto a ostentar uma juventude de fazer inveja a todos os que que já engordaram os rabos sentados nas cadeiras e cujas barrigas pressionam os botões das calças e direi mesmo que és um screen saver digno de mostrar às amigas para lavarem as vistas.

Nem me queixo do diâmetro do cursor embora a rapidez de projecção te coloque ao nível do MSN, muita pose para a câmara e muitos smileys velozes mas sem os recursos de um Dreamweaver para se aguentar on line estável que é o primeiro passo para me atirar ao Fireworks. O que me dá cabo do sistema é ver que para além disso falta software de cumplicidade.

Mas para atenuar esta rescisão de contrato deixo-te de presente o último perfume YVL metido num design de Jean Nouvel que arquitectou uma estrutura tubular, arredondada na ponta e assente numa base mais escura, para usares onde e quando quiseres.



Prostituição - a minha história (VI)

Verão de 1997... (...) Porta do prédio, elevador, porta do apartamento, entro, não sei quem lá vem porque foram várias apresentações seguidas e não fixei nenhum dos homens, aliás, nem sequer os vi, tinha o olhar desligado. Batem à porta, espreito pelo óculo e... e... só vi que lá estava um homem! A dada altura, a parte do cérebro que avalia o que está a ver deve ter-se desligado e, na minha cabeça, só um pensamento: abrir a porta e sorrir. Novamente, sei lá se tomámos banho ou como fomos parar à cama, sei que dou por mim a chupar desalmadamente no pénis do homem, sem preservativo apesar do cheiro não ser nada bom, se calhar esqueci-me mesmo do banho, o homem vira-me a começa a fazer-me sexo oral. Só me tinham feito sexo oral duas ou três vezes na vida e nada como aquilo. Lembro-me de olhar para a cara do homem e perceber, de repente, o quanto ele era feio e de aspecto sujo, estava enojada e excitada ao mesmo tempo. Sim, é verdade, tive um imenso orgasmo cheia de nojo, nunca pensei que tal fosse possível! O homem, bastante contente, terminou montado em cima de mim (lembrei-me do preservativo desta vez) e começou a contar-me que era vendedor nas barraquinhas da Praça de Espanha, que gostou muito de mim e, se eu precisasse de alguma coisa, que fosse lá ter com ele. Eu estava aérea, novamente, algo fora de mim, entre o enojada, estarrecida com o homem e com a conversa e orgasmada, o telefone tocou a avisar do fim do tempo, dar toalha ao homem, homem no banho, homem vestido, levar homem à porta, banho, arrumar quarto, sair, chegar ao escritório, fazer contas, sair dali com dinheiro na carteira que me parecia uma fortuna, nada no cérebro e muito cansaço. Não me lembro de ter estado mais alguma vez na minha vida tão fora e tão distante de mim, tive muitas vezes aquela sensação de estar a vez um filme mas nunca tão acentuada, nem ansiedade, nem tristeza, nada do que seria de esperar e que ouço em tantos relatos, estava em modo "espectadora da minha própria vida". À noite, depois do jantar, quando saí de casa, no balcão do bar do costume, percebi que cheirava ao gel de banho dos apartamentos e detestei aquele cheiro, incomodava-me mais do que seria normal um gel de banho incomodar-me, e isto foi o único detalhe verdadeiramente marcante daquele dia, o resto estava adormecido pela fortuna, aos meus olhos, que trazia na carteira. Aliás, mantive esta reacção durante todo o tempo em que fui acompanhante, frequentemente tinha que mudar de gel de banho e tinha que ter sempre um diferente do de trabalho em casa. (Continua)

Claro TV exibe filme de sexo explícito no Canal Disney


 Matéria reproduzida do blog do Maurício Stycer


Paula de Toledo Piza levou um susto na manhã desta quinta-feira ao flagrar seus dois filhos, uma menina de 8 anos e um garoto de 4, vendo um filme de sexo explícito na televisão. Ao ser expulsa da sala, a menina ainda falou: “Não fiz nada”.

De fato, ela não fez absolutamente nada. Nem ela nem os demais assinantes da Claro TV que assistiam à programação do Canal Disney naquele momento, por volta das 9h30. Por razões ainda não esclarecidas, imagens de um canal adulto entraram no lugar da programação infantil. No horário, o canal costuma exibir as aventuras dos irmãos “Phineas e Ferb” (imagem).

Paula e seu marido, o analista de sistema Carlos Sabino Villalba, estão revoltados. “Assinamos o Pacote Família. Por isso, deixo as crianças na frente da TV sem preocupação”. Villalba registrou um B.O. (boletim de ocorrência) e diz que vai cancelar a sua assinatura.

Procurada pelo blog, a empresa reconhece o problema, mas diz: “Na manhã de hoje detectamos que dois de nossos canais transmitidos tiveram a sua programação trocada. A questão foi diagnosticada prontamente por nossos técnicos e a correção foi feita em 8 segundos. Nossa equipe está agora analisando a origem da alteração indevida de canais, que nunca aconteceu antes em nossa programação. Todas as hipóteses estão sendo analisadas. O sinal trocado foi enviado para menos de 800 clientes.”

Obscenatório
http://obscenatorio.blogspot.com.br/

30 março 2013

"DesemPregado Procura emPrego (sazonal ou não)" - Webcedario


Webcedário no Facebook

«Pornoquestra» - montagem de imagens e sons da actriz porno Tori Black

Pornquesta - Pornchestra

«conversa 1956» - bagaço amarelo

(na minha casa)

Eu - Vou beber uma Brasa. Queres?
Ela - Uma Brasa?! Que é isso?
Eu - É uma marca de cevada. Dantes tinha uma publicidade na tv que dizia: "parece café mas não é / é Brasa, satisfação / Brasa é a bebida que aquece o coração".
Ela - Acho que me lembro. Já devias ter aprendido alguma coisa com isso.
Eu - Aprendido com o quê?
Ela - Nem tudo o que parece uma brasa, é o que realmente parece.
Eu - Onde é que queres chegar?
Ela - Aí mesmo ao que te acabei de dizer.
Eu - Às vezes não percebo onde queres chegar.
Ela - Eu acho que nunca percebes.


bagaço amarelo
Blog «Não compreendo as mulheres»

Licor «Força no Pau»

Telefona-me o meu amigo Carlos Car(v)alho:
- Estou em Fátima...
- !
- ... e há aqui umas garrafas de licor. Uma delas é de licor de banana «Força no pau». Já tens na tua colecção?
- Não...
- Então vou levar-ta.

E já a trouxe:

Um sábado qualquer... - «Nos bastidores da ressurreição»



Um sábado qualquer...

29 março 2013

Limpezas de Primavera

É sempre bom ter ajuda!

Comunidade Fifty Shades of Hot

«Lust»

Ai minha Nossa Senhora!

Girl meets Boy


Podia ser um início de história mais complicado ou mais glamoroso. A Girl podia ter encontrado o Boy nalgum local exótico, enquanto ambos passavam férias paradisíacas. Afinal, foi muito mais simples do que isso. A Girl estava a tentar curar uma ressaca de um amor passado com uma futura ressaca alcóolica. O Boy estava simplesmente no bar, numa noite de sexta, completamente absorto nos seus pensamentos.
Poder-se-ia perguntar: o raio do amor caiu entre os dois imediatamente quando se olharam? Não, certamente que não para a Girl, que viu um tipo com ar banal sentado a seu lado, sem sequer olhar para ela com grande interesse. O Boy olhou para a Girl e notou que tinha já provavelmente bebido mais do que seria recomendável. Por norma, mulheres com mais do que a sua conta de bebida não lhe interessavam por aí além. Ainda assim, por um pretexto trivial, começaram a falar um com o outro.

E conversa houve. Ele foi paciente enquanto a ouvia despejar as mágoas passadas, que ela nem tentou disfarçar. De súbito, ele passou de desconhecido a confidente. Depois de quase uma hora de atenção completa, em que mais nada parecia existir para ele senão ela, o Boy parecia um semi-deus para a Girl.

Quando, no bar, a música passou para “Love Burns” dos BRMC, a Girl recordou-se do filme “9 Songs”, de Michael Winterbottom, uma história em que dois amantes (uma estudante americana e um inglês) se vão encontrando, de modo muito intenso, entre concertos. O Boy também tinha visto e, num acto de arrojo, disse que o que mais tinha gostado tinha sido a cena de sexo oral de Matt a Lisa, com o Sol que entrava pela janela a enquadrar a cara dela, quase como se de um quadro renascentista se tratasse. Depois, quando ele a penetra e ambos atingem o orgasmo numa espécie de dança de luz, o sorriso de êxtase dos dois mostra quão cúmplices podem ser duas pessoas que acabaram de partilhar os seus corpos.

As memórias de “9 Songs” estavam bem vivas ainda na mente da Girl e nesse momento, ela pensou que era capaz de reviver esta cena do filme com o Boy. Quando ele a levou para casa e colocou a banda sonora do filme a tocar, ela pode finalmente apreciar o corpo dele, não muito diferente do de Kieran O'Brien, o protagonista da história sobre a qual tinham estado a conversar.

O primeiro toque da língua dele no sexo dela pareceu-lhe o momento de entrada para o paraíso. Como era ágil e macia, como era quente e certeira. Quando ele a penetrou como Matt penetra Lisa no filme e ambos acabaram num grito em uníssono, ela sentiu-se unida a ele de uma forma muito mais intensa do que uma Girl que encontra um Boy num “one night stand”. Algo tinha feito um “click” entre os dois, e não havia sido apenas a partilha de um filme e um conjunto de canções.

Nessa noite e nas horas seguintes em que os seus corpos se encontraram múltiplas vezes, a Girl ficou presa por uma teia mágica ao Boy. O Boy, que tinha começado por ter um ar banal de sexta à noite, passou a ser o habitante do coração e da mente dela. E quando a Girl, no final do Sábado e das quase ininterruptas horas de prazer, decidiu repetir a cena em que Lisa faz Matt atingir o êxtase com os toques delicados da sua língua e o aperto macio dos seus dedos, e o seu sexo túrgido os inundou aos dois de sémen quente, o Boy achou também que tinha encontrado aquela que talvez procurasse, sem o saber, naquele bar, na já distante noite de sexta.

E foi assim que a nossa história começou.

Tutorial para descobrir se está na hora de lavar a louça



Testosterona

28 março 2013

O amor é o amor - e depois?!



Will McBride, Will e Barbara, Munique, 1963


O amor é o amor - e depois?!
Vamos ficar os dois
a imaginar, a imaginar?..

O meu peito contra o teu peito,
cortando o mar, cortando o ar.
Num leito
há todo o espaço para amar!

Na nossa carne estamos
sem destino, sem medo, sem pudor,
e trocamos - somos um? somos dois? -
espírito e calor!
O amor é o amor - e depois?!


Alexandre O´Neill, Poesias Completas 1951/1981


blog A Pérola

«Ioga-mos» - Patife

Ontem fui a uma aula de ioga. Obviamente que pouco interessado estava nas práticas meditativas da coisa. Mas haviam de ver a professora. Alguma coisa ela devia estar a fazer bem para ter um corpo daqueles. Foi por isso, por pura curiosidade pela motricidade humana, que me inscrevi na aula de ioga para saber como é que ela conseguia manter aquela forma. E foi assim que quando me apercebi estava no epicentro de uma aula de ioga com quinze rabos espetados na minha direcção. Aquilo mais parecia uma aula de prospecção de movimentos dignos do Pacheco. Por isso, tomei notas oculares de todos os bicos arrebitados, rabos empinados e papos de cona emproados. Nada me escapou. Até fiquei com uma distensão muscular na retina. No final da aula a professora chamou-me à parte e disse que não ia tolerar que eu voltasse à sua aula. Que me tinha topado e que eu não respeitei os Chakras não sei do quê, que era um tarado e que não me queria voltar a ver. Mas disse isso apenas da boca para fora. Até porque no momento seguinte ela estava com isto da boca para dentro.

Patife
Blog «fode, fode, patife»

Estórias de um passado-presente (VI)

Sei que nessa noite saí de lá com a certeza que não voltava. Não para aquele sítio...
Sei que saí de lá com trezentos euros no bolso. E doía-me tudo. Mas ainda assim, tinha percebido que em quatro ou cinco horas tinha ganho o mesmo que o mês inteiro de um qualquer part-time.
No dia seguinte, voltei a percorrer os classificados do Correio da Manhã, em busca de algo diferente, menos soturno, menos estranho, porque não sabendo o que queria, sabia o que não queria. Encontrei, no meio de um sem número de anúncios que prometiam ganhos astronómicos, um que me chamou à atenção. Pedia "iniciantes, de 18 a 23 anos, para hotéis" e realçava que tudo o que ganhasse era para mim. Fugi para casa e telefonei. Do lado de lá tinha desta vez uma voz portuguesa, simpática, articulada, que me perguntou o óbvio e uma coisa a mais: porquê? Porque é que estava a tentar "entrar por ali". Lá expliquei, meia atabalhoada, sem querer alargar-me na minha privacidade. Combinado um encontro, desta vez num café algures em Campo de Ourique.
Na hora marcada lá estava eu, telefonema de localização feito, e tinha à minha frente uma senhora de meia idade, com um ar muito compreensivo e prestável, que depois de dez ou quinze minutos de conversa de circunstância, me explica as regras do jogo: só existiriam encontros em hotéis do centro da cidade, e nunca por menos que cento e cinquenta euros por hora. O que se passasse neles era problema meu e não dela, pelo que não devia ligar-lhe a relatar coisa alguma, boa ou má. Dizia ter muitos clientes importantes, que não podiam arriscar serem vistos a entrar num prostíbulo, e por isso preferiam tentar passar incólumes num hotel. Explicou-me que jamais deveria parar na recepção e pedir que me anunciassem, e que deveria ir arranjada mas com um ar casual, para não "dar nas vistas". Deu-me também um álibi, que jamais convinha desmentir, para não quebrar o personagem de não-profissional: trabalhava numa qualquer loja onde ela comprava coisas e confidenciara-lhe dificuldades, acedendo à sugestão dela de conhecer "um amigo solícito". Anuí ás condições que me foram propostas, segui novamente para casa, e esperei o tal telefonema.
Dois dias depois, o telefone anuncia-me que havia alguém que esperava por mim num hotel de Sete Rios. Tinha de chegar rápido, caso contrário ficaria sem efeito. Fiz um sprint entre chuveiro, cabelos, roupa e afins, chamei um táxi e fui... Tinha presente na cabeça uma única coisa: "será que é este o mundo de contos-de-fadas que eu li acerca de?"

Mimi
blog «Sometimes It Happens...»

«Censored» - por Luis Quiles


"Siempre creí que la censura es el peor enemigo del arte, más aún cuando la censura viene de uno mismo. Pero todo tiene una parte positiva y la represión agudiza el ingenio. Y si te tomas la censura como un ejercicio para burlarla explicando lo mismo de una forma más sutil, hasta puede ser útil."

Luis Quiles

27 março 2013

Lógica retorcida

Entendem a dor de dentes como algo de normal
e fazem um bicho de sete cabeças do orgasmo.

«respostas a perguntas inexistentes (229)» - bagaço amarelo

Estava numa fase da minha vida em que não recebia muitas chamadas pelo telefone nem muitas visitas em casa. Era raro. Não tinha namorada e a minha vida social anda muito perto do seu nível mais baixo de sempre.
Lembro-me que nesse dia almocei esparguete com tomate e bebi um copo de vinho, uma refeição habitual, quando estou sozinho em casa. Pus a água a aquecer e, quando começou a ferver, uma colher pequenina de sal e o esparguete lá dentro. Contei exactamente onze minutos a partir dessa altura porque sei, por experiência própria, que é o tempo ideal de cozedura no meu fogão e com a minha panela.
Como sempre também, preparei o tomate à parte. Fui ao congelador buscar três deles congelados, pelei-os, cortei-os em pedaços pequenos e atirei-os para uma pequena frigideira onde já tinha um fio de azeite a aquecer.
Cozinhar sempre me deu uma noção de normalidade, porque normalmente faço-o como se fosse um robô. Repito todos os gestos e tempos em todos os pratos, pelo menos aqueles que preparo com mais regularidade. Aliás, cozinhar é algo que gosto de fazer precisamente quando sinto que a minha vida está a fugir dos eixos e, consequentemente, tenho que lhe dar uma injecção de normalidade.
Nesses dias cozinho da forma que acabei de descrever e faço todos os possíveis por não sair de casa. O défice de normalidade dá-me a capacidade de, por exemplo, ter vontade de ficar a olhar para qualquer um dos quadros que tenho nas paredes durante vários minutos seguidos. Acho que já cheguei a ficar várias horas, com pensamentos que escapam ao meu consciente. Não que sinta alguma coisa de especial por algum deles, mas sim porque eles fazem parte do meu dia-a-dia. Também leio livros que já li, vejo filmes que já vi ou ouço repetidamente as mesmas músicas.
Deixei a louça suja em cima do balcão da cozinha, amontoada sobre a dos três ou quatro dias anteriores, e fui para a varanda tomar café. Numa das janelas do prédio em frente ao meu, uma mulher punha a roupa a secar. Nunca tinha falado com ela, mas já tinha percebido que passava as tardes fechada em casa com um filho muito pequeno, que às vezes trazia à janela e agia como se lhe estivesse a mostrar o mundo pela primeira vez. Por isso mesmo, quando reparei numa peça de roupa que deixou cair, disponibilizei-me para ir buscá-la e entregá-la.
Não fiz isso com nenhuma intenção especial, nem sequer para me mostrar mais ou menos simpático. Acho que foi mesmo apenas uma questão racional. Eu estava sozinho e sem nada para fazer, ela estava com o filho pequeno em casa e por isso teria pejo em sair à rua. Mesmo assim, quando ela me convidou para entrar, aceitei com entusiasmo.
Disse-me que se sentia muito só porque o marido dela era camionista e passava muitos dias seguidos fora de casa. Passámos a tarde inteira na conversa e, depois de eu ir a minha casa buscar duas garrafas de vinho, jantámos juntos. Quando chegou a hora de ela deitar o filho eu despedi-me e saí, mesmo com a insistência dela para eu ficar mais um pouco.
Senti que se ficasse ia acabar por surgir uma oportunidade de nos abraçarmos, beijarmos e talvez dormirmos juntos. Arrependi-me assim que fechei a porta do prédio e senti a estalada do ar frio da rua, mas continuei a andar. Em minha casa tornei a ir para a varanda, desta vez dissimulado pela noite. Acabei por adormecer a olhar para uma janela vazia.


bagaço amarelo
Blog «Não compreendo as mulheres»

Educação Sexual nas escolas, você reprova?

Em novembro de 2012, mães escocesas de Lanarkshire ficaram irritadas com a apresentação de um DVD nas escolas primárias, exigindo que o material fosse banido, assim como fora na Inglaterra.


O DVD contem desenhos de casais praticando sexo. A produção deste material foi do Channel 4, mas após protestos teve que retirá-lo de venda. As mães acham os desenhos vulgares demais para as crianças. Mas vulgar mesmo é a atitude dessas mães, com o superprotecionismo, acabam criando crianças alienadas e que acabam descobrindo o sexo de uma forma não segura. Não é à toa que atualmente vemos os jovens cometerem cada vez mais irresponsabilidades, e boa parte da culpa é dos pais, pois sempre acreditam que seus filhos são incapazes de qualquer ato suspeito. Muitos dos garotos acabam se tornando homens machistas e as garotas submissas aos homens, porque nunca tiveram uma educação libertária.


A nudez e o sexo ainda são tidos como profano por aqueles que tiveram uma educação cristã. Lembro em minha infância que meus pais não me ensinaram que eu tinha vindo de cegonhas, nem com o papo furado da sementinha. Para responderem às minhas frequentes dúvidas sobre como eu havia surgido, meus pais tinham em casa uma Enciclopédia da Vida Sexual (um volume correspondente à crianças de 7 a 9 anos, e outro correspondente à crianças de 10 a 13 anos). Foi com essa enciclopédia que aprendi sobre as relações sexuais, como a mulher gera uma criança, todo o funcionamento dos genitais masculino e feminino, o que é a puberdade, o que é o tesão etc. Sem o menor pudor, mas muito construtivo e conscientizador, muito diferente do que eu aprendi na catequese.

Estamos vivendo uma sociedade do politicamente correto onde tudo é motivo para censurar, há um superprotecionismo em que os pais querem salvar seus filhos desse mundo cheio de ódio, violência e preconceito, mas acabam eles mesmo fortalecendo estes conceitos em seus filhos, porque os filhos não nascem para ficarem presos dentro de casa, um dia crescem e dão de cara com o mundo.

Essa censura à educação sexual ocorrida na Europa se parece muito com a que tivemos no Brasil referente ao "Kit Gay". Esse mundo machista e conservador em que vivem as famílias brasileiras negam que haja um preconceito dentro de suas ideologias. Dizem não ser homofóbicas, mas estas famílias não permitem que seus filhos possam entender o que é uma criança sentir uma paixão por outra do mesmo sexo. O conservadorismo é uma hipocrisia que precisa ser extirpado da nossa sociedade, e termos uma educação verdadeiramente revolucionária, que eduque as crianças para o mundo, não para o mundinho de suas famílias.

Abaixo, algumas fotos da Enciclopédia da Vida Sexual que ainda está guardada aqui em casa, que hoje, sem dúvida, seria visto como algo criminoso.







Pretensão feminina



Dançando sem César

26 março 2013

Sapatos Brian Atwood - Primavera 2013 (com Eva Herzigova)

Eva portuguesa - «Novo ano»

[Dezembro/2012]
O Natal já passou, se bem que ainda lhe sentimos o cheiro.
Começamos agora a fazer um balanço do ano que se acaba, rezando e pedindo para que o próximo seja melhor...
Com ou sem arrependimentos, todos nós fazemos agora as nossas resoluções de ano novo, na esperança de termos a coragem de as conseguirmos cumprir... mas pelo menos tentamos...
E nao é isto a vida? Uma sucessão de tentativas, de erros e acertos, de quedas e vitórias? Pequenas batalhas diárias que são a nossa grande luta, a nossa grande guerra...
Paz, amor, saúde e dinheiro (não necessariamente nesta ordem) são,creio eu, o nosso desejo universal, aquilo a que todos aspiramos.
Pois bem, é isto que quero para mim e que desejo para vocês!...
E se não vos posso proporcionar tudo, deixem pelo menos, durante uma hora, dar-vos um pouco de amor e de paz... fazer-vos sentir bem e desejados. Deixem-me proporcionar-vos uma despedida deste ano que finda a dois, nos braços de alguém que fica realmente feliz quando vocês vêm... eu!
E para que isso seja possível estou hoje, amanhã e sexta-feira dia 28 até às 2h. No meu ninho de amor... na minha alcova do prazer... à vossa espera...


Eva
blog Eva portuguesa - porque o prazer não é pecado

«vou atravessar o corpo das coisas» - Susana Duarte

vou atravessar o corpo das coisas,
para nelas rever as amoras rubras
do teu peito, e encontrar luas novas

nas sombras dos olhos onde me deitei.

em ti, atravessarei o corpo estranho
de todas as coisas
onde não estás.
...
saberei das tuas mãos, flores
impressas
nos seios,

para depois as atravessar e, içada
pelas faixas de luz da tua voz,
reencontrar os fantasmas
de um comboio invisível,

que retirarei dos ferros das mãos
que te deixaram atravessar as portas.

lembrar-me-ei das mãos,
impressões digitais dos olhos e dos dedos
sobre as veias e todas as amoras
do meu corpo.

atravessarei o fio invisível da partida,
para saber se setembro

foi o corpo das coisas,

que se agitam ante a ausência
da tua boca

sobre mim.

Susana Duarte
Blog Terra de Encanto

Lenço dos namorados à minha maneira

Um meu sonho de há muito tempo era ter um lenço dos namorados com uma das quadras mais tocadas pela malta da Tuna Meliches:

"A cona da mãe tem asas
Tem asas mas não avoa
O caralho do pai tem ranho
À cona da mãe se assoa."

Contactei várias bordadeiras de lenços de namorados e foi uma agradabilíssima surpresa a receptividade de duas delas para fazerem um lenço com uma quadra com tanto calão. Feita a opção (pela resposta mais rápida), seguiu a encomenda. Seria usar como base o «lenço da coroa»...


... com uma adaptação que enviei, feita em PhotoShop pedindo que, "em vez de uma coroa circular, as flores formassem dois arcos, para dar a entender, subtilmente, o formato de uma vulva. Como assim serão bordadas menos flores na coroa, podem pôr pequenas flores nos 4 cantos dos versos da quadra?":


E o resultado já está na minha colecção. Apreciem-no (por aqui, enquanto não tenho um espaço de exposição da minha colecção):








25 março 2013

Homens, nunca rasguem um vestido!

«conversa 1955» - bagaço amarelo

Ela - O meu filho está sempre a falar daquela série que viu na tua casa uma vez, quando fui jantar contigo.
Eu - Os Thunderbirds?
Ela - Sim, é isso. Emprestas-me?
Eu - Empresto. Acho fixe o teu miúdo gostar dessa série. Foi feita nos anos sessenta...
Ela - E depois? 

Eu - Hoje em dia há tantos filmes em 3D para crianças, tão bem feitos, que acho fixe o teu filho gostar duma coisa feita com bonecos há quase cinquenta anos. Mesmo o pessoal da minha idade não costuma gostar nada daquilo.
Ela - Suponho que isso é normal. Eu também fui feita nos anos sessenta, tenho quase cinquenta anos e o pessoal da tua idade não costuma gostar nada de mim.


bagaço amarelo
Blog «Não compreendo as mulheres»

Luís Gaspar lê «No corpo…» de Carlos Drummond de Andrade

"No corpo feminino, esse retiro


— a doce bunda — é ainda o que prefiro.
A ela, meu mais íntimo suspiro,
pois tanto mais a apalpo quanto a miro.

Que tanto mais a quero, se me firo
em unhas protestantes, e respiro
a brisa dos planetas, no seu giro
lento, violento… Então, se ponho e tiro

a mão em concha — a mão, sábio papiro,
iluminando o gozo, qual lampiro,
ou se, dessedentado, já me estiro,

me penso, me restauro, me confiro,
o sentimento da morte eis que o adquiro:
de rola, a bunda torna-se vampiro."

Carlos Drummond de Andrade

Ouçam este poema na voz d'ouro de Luís Gaspar, no Estúdio Raposa

Não traia seu marido

As consequências desse simples ato podem ser catastróficas!



Os polícias ketchup e mostarda formam uma bela dupla.

Capinaremos.com

24 março 2013

Porta-Curtas - «69 - Praça da Luz»

Documentário
Diretor: Carolina Markowicz, Joana Galvão
Duração: 15 min
Ano: 2007
País: Brasil
Local de Produção: SP

Sinopse: Prostitutas de idade avançada ganham a vida na Praça da Luz, em São Paulo. Relatos inusitados e surpreendentes de cinco mulheres que revelam em detalhes suas experiências em todos esses anos de profissão.

O melhor do mundo são as criancinhas


[Foto © Theo Chalmers]


Ninguém me mandou ir trec trec trec atrás da minha mãe pela Lagoa de Santo André adentro até um baixio me obrigar a ir acima e abaixo glugluglu glugluglu glugluglu que quatro anos já era idade suficiente para ter juízo mas o que interessa é que sobrevivi para contar apesar de não me sair da cabeça que é daí que vem a minha alergia ao sal na comida porque noutras movimentações de cabeça abaixo cabeça acima não sei se pelo cheiro específico da carne de cada exemplar se por gostar de chouriço não manifesto nenhum trauma.

Depois o tormento da adolescência era aguentar dias e dias a fio com o período a correr desalmadamente como se eu fosse uma fábrica de concentrado de tomate em resultado de nestas idades o sistema ainda não estar bem calibrado e um dia foi dia de Santa Maria e lá fui de charola para o Hospital com tal grau de anemia que nem me mexia ou melhor, mexia os olhinhos de espanto para ver o granel de médicos que me rodearam, miraram de alto a baixo, apalparam por tudo quanto era sítio e dada a origem, meteram as mãos com os dedos preservados em luvas exactamente onde estão a pensar e depois disso espetaram-me todos os dias com aquela agulhita ligada a um saquinho de sangue e ainda foi em boa época quando não havia a moléstia daqueles lotes já com sida incorporada.

Agora que a idade não perdoa houve um bichinho da fruta que resolveu nidificar nas minhas laranjas que nunca as insuflei para meloas nem para gáudio dos eternos meninos que nelas gostam de encostar a cabeça e lá tive de ir à faca cortar uma o que me deu um trabalhão prévio do caraças a retirar todos os espelhos para fora de casa mas continuo a pensar que o melhor do mundo não são os cães obedientes mas as pessoas que em cada dia me surpreendem com um sorriso ou um toque na pele que o calor é muito importante para activar a circulação sanguínea e me deixam descobrir um bocadinho do seu mundo diferente do meu.

Prostituição - a minha história (V)

Verão de 1997... (...) Tocaram à campainha, eu calma, estranhamente calma, espreitei pelo óculo para ver o que me calhava e... e... era um sapo! Um sorridente sapo! Um sapo com um sorriso de orelha a orelha, tão contente que quase saltitava ao perceber-me espreitar! Abri-lhe a porta. Entrou, contente, contente, agarrou-me, deu-me duas beijocas e disse-me o nome. Não sei como fomos parar à cama, não sei se tomámos banho, não me lembro. Sei que continuava com a estranha calma de quem está a ver um filme. Lembro-me do sapinho deitado em cima da cama, de barriga muito redonda para cima, de óculos na cara, sempre de sorriso feliz, feliz! Lembro-me das mãozinhas sapudas e desajeitadas que me agarravam o peito com a pontas dos dedos e o abanavam. Lembro-me de estar de quatro, ele a gemer muito, os lençóis escorregavam, terminou assim, feliz e contente. No fim, quando saí um pouco da sensação de filme, percebi: esqueci-me de usar preservativo!!! O homem, já vestido, estendia-me o dinheiro, agarrei-o na mão, deu-me duas beijocas e levei-o à porta. Fui tomar banho, vesti-me, tirei o lençol da cama, meti lençol e toalhas na roupa suja. O telefone toca, atendo, era a Glória a avisar que a hora tinha terminado. Contei o dinheiro, eram vinte cinco contos, lembro-me que pensei que era imenso dinheiro. Não ter usado preservativo ainda na minha cabeça, a cansar-me, o filme persistia e voltei a flutuar. Saí, voltei ao escritório das apresentações. Entreguei o dinheiro, sentei-me na sala e nem tive de pensar, "meninas, apresentaçããããão!", lá fui, desfile, sala, mais duas vezes quase seguidas se repetiu esta cena: "meninas, apresentaçããããããão!", "Joana, vem, rápido", chamava-me a Ana, é meia-hora no apartamento x, toma a chave, o senhor paga aqui, já vai lá ter. O autómato Joana agarrou na chave e na mala e lá foi. Porta do prédio, elevador, porta do apartamento, entro, não sei quem lá vem porque foram várias apresentações seguidas e não fixei nenhum dos homens, aliás, nem sequer os vi, tinha o olhar desligado. Batem à porta, espreito pelo óculo e...

Os 20 penteados mais incríveis de uma xana



Obscenatório
http://obscenatorio.blogspot.com.br/

23 março 2013

Homens, aprendam a instalar um termostato digital

«coisas que fascinam (155)» - bagaço amarelo

falta de ar

Estou parado numa estação qualquer entre Aveiro e Lisboa Santa Apolónia. Sempre que viajo de avião cedo facilmente o lugar à janela. Tirando a primeira vez que voei, ainda era bastante novo, nunca tive grande necessidade de ir a olhar para as nuvens lá fora. Já quando ando de comboio, adoro ir a ver as casas e principalmente as pessoas lá fora.
Alguns pingos de chuva, poucos, riscaram o vidro numa diagonal provocada pela velocidade da composição. Por trás deles surgem abraços e beijos entre os passageiros que acabaram de sair e aqueles que os esperavam. Acho piada. Imagino duas equipas de râguebi a correrem uma contra a outra para acabarem aos abraços e beijos. Afinal de contas, foi mais ou menos isso que aconteceu.
Depois as pessoas separam-se novamente e caminham, normalmente em grupos de dois, para o seu destino. Vejo muitas mãos dadas e ainda mais sorrisos. Sobra um abraço que ainda não se desfez. Um homem careca, de camisola vermelha, e uma mulher morena um pouco mais alta do que ele. Já tive daqueles abraços. São tão bons.
São os abraços de quem sabe que Ama e que é Amado, mas para cujo Amor o que se sabe não chega. Não é suficiente. Precisa-se do toque da mesma forma que se precisa de respirar. Por isso mesmo é que aquele abraço ainda não se desfez. É um abraço de que estava com falta de ar.


bagaço amarelo
Blog «Não compreendo as mulheres»

Milagre da Rosas

Anda por aí muita gente enganada com o milagre a que chamam "das Rosas"!
Já tive oportunidade de esclarecer aqui o que se passou na realidade, comigo e com a Rainha Santa Isabel:

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O verdadeiro milagre da Rosas

Um dia, o rei ia a cavalo pelo bosque. Encontrou a rainha, despenteada e com as roupas num desalinho. E algo parecia estar debaixo do manto:
- O que é isso que aí tens por baixo do manto, minha rainha?
- São Rosas, senhor!...
- Ah, bom!
O rei voltou para o castelo e a rainha pôde continuar o que estava a fazer com a Maria da Conceição Rosas.

Moral da história - Debaixo dos mantos havia papos-húmidos e não papos-secos...
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Veio-se isto a propósito da prendinha que recebi do Rafaelitolindo, uma peça em barro pintado que ilustra a lenda (falseando a realidade) e que passou a ser o único objecto não erótico da minha colecção:

Use o material adequado

Para sapatos, por exemplo, use couro.



O príncipe ficou com a morena e a ruiva mesmo.

Capinaremos.com

22 março 2013

Que fome!

"Podes vir para o pé de mim, que eu não te mordo" - disse-lhe ela com um ar sorridente e num tom quase desafiante.
"É precisamente por isso que não me aproximo mais" - retorquiu-lhe ele, encolhendo os ombros, mantendo-se à mesma distância.
Os pensamentos dele afastaram-se daquele espaço e daquele tempo e embrenharam-se noutros. A sua expressão tornou-se sombria, deixando subentender que o mundo onde o seu cérebro estava, para além de distante, não seria muito agradável, nem iluminado.
Lembrava-se de estar num espaço e num tempo onde o afastamento era nulo. Onde ambos estavam tão próximos que só a pele os mantinha afastados. Onde o toque da boca dela e dos respectivos dentes o tinham surpreendido. Onde as quase dolorosas marcas, sempre por ela negadas, eram exibidas com orgulho.
Num tempo que parecia ao mesmo tempo tão eterno e tão fugaz. Um espaço e um tempo tão afastados de si, cujo afastamento parecia tender para o infinito. Quase tão depressa quanto o seu sentimento. Sentimento que agora se aproximava de zero, contrariando toda a matemática e a lógica. Ou talvez tivesse sido a lógica contrariada desde o início. Desde aquele sistemático contestar e protelar da relação. Relação secreta, escondida. Quase inconfessável. Que muitos adivinhavam e tomavam como certa. E acertaram até certo ponto. Até ao ponto do não retorno. Um ponto que apesar de parecer de fuga apenas à vista, tinha sido de fuga inconsciente, mas definitiva. Onde a plasticidade da relação tinha sido levada longe demais, levada para lá do ponto de ruptura.
Durante meses os palavrões, as dentadas, os movimentos, os gemidos e o desejo não lhe tinham saído da cabeça. Martelavam-lhe o cérebro quase com o mesmo ritmo de passagem daqueles pensamentos recorrentes. Minuto a minuto, hora a hora, massacravam-no quase com a mesma intensidade dos momentos de prazer de que se recordava. E agora, nada.
"Estás cheio de fome?" - insistiu querendo ser agradavelmente simpática, enquanto olhava em redor para as mesas ainda repletas - "Eu tenho bastante".
"Tenho. Muita." - concluiu ele afastando-se para procurar algo onde ferrar os dentes.

Postalinho dos pinhais

"Boa noite,
Por acaso já atentaram numa pinha em formaSão?
Parece-vos algo familiar?
Pois a mim, sim…"
Luís Barreiro


Semen Up - «Lo estás haciendo muy bien»

Programa de TV "Música Golfa", 1988

Vida de ciclista



nadaver.com

21 março 2013

Volúpia

No divino impudor da mocidade,
Nesse êxtase pagão que vence a sorte,
Num frêmito vibrante de ansiedade,
Dou-te o meu corpo prometido à morte!

A sombra entre a mentira e a verdade…
A nuvem que arrastou o vento norte…
— Meu corpo! Trago nele um vinho forte:
Meus beijos de volúpia e de maldade!

Trago dálias vermelhas no regaço…
São os dedos do sol quando te abraço,
Cravados no teu peito como lanças!

E do meu corpo os leves arabescos
Vão-te envolvendo em círculos dantescos
Felinamente, em voluptuosas danças…

Florbela Espanca (1894-1930)


Laure Albin Guillot, 1930s

blog A Pérola