29 julho 2013

«respostas a perguntas inexistentes (250)» - bagaço amarelo

- Pára de olhar para as outras mulheres - disse ela.

Todos no café ouviram, incluindo a mulher em quem aquele homem pousava brandamente os olhos. Era bonita, e também eu fizera o mesmo. Aliás, dei comigo a dar goles num copo de cerveja já vazio durante o processo. A mulher dele é que não gostou. Deu-lhe um puxão no braço e marcou território com aquele grito.
Eu gosto que a minha companheira de vida olhe para outros homens. Gosto até que suspire por eles. É a única forma que tenho de ter a certeza que ela me escolheu entre todas as possibilidades, apesar de haver muitas. Se ela olhasse só para mim, talvez andasse comigo apenas por ignorância.
Eu gosto de olhar para outras mulheres. Aliás, é depois de me deliciar com a sua presença que fico com a certeza de por quem estou apaixonado. Há tantas mulheres bonitas, que não pode ser só por isso que sinto isto que sinto. A definição de Amor, a existir, anda por aí.
Olhar para uma mulher bonita é o melhor dos museus. Apreciamos verdadeiramente aquilo que vemos, jogando ao mesmo tempo para que o nosso olhar não se torne invasivo. Mesmo que para isso tenhamos que dar um gole num copo de cerveja já vazio, vestir um casaco do avesso ou ir contra o poste dum sinal de trânsito.
Olhar para uma mulher bonita não significa ser voyeur. Significa, já que há tantas por aí, estar permanentemente a inspirar fundo como se estivéssemos a ver pela primeira vez as cataratas do Niagara.

- Não pares nada! - diria eu àquele homem.


bagaço amarelo
Blog «Não compreendo as mulheres»