12 fevereiro 2014

«Marca!» - João

"Dois zero zero um. Acredito que a paisagem, sobretudo ao amanhecer, fosse um dos pontos altos ali. Mas a temperatura estava baixa, e a humidade muito alta. E havia um nevoeiro cerrado que não deixava ver um palmo à frente da janela. Mas isso era indiferente. Eu não queria ver sequer um palmo à minha frente do lado de dentro da janela, a distância entre nós tinha de ser menor que isso. E era. Quiseram explicar-nos todos os botões e recantos, se interesse houvesse admito até que nos contassem a história do país desde a fundação, mas o interesse era apenas na nossa solidão, e o recato que nos impediu de correr os excessos dali para fora a pontapé, foi o recato que não tivemos quando nos empurrámos um contra o outro quebrando a promessa do “agora não”. A adrenalina que tivera quando recebera a ordem tinha ficado condensada na minha reacção. Cacete! Não me sinto limitado no vocabulário e no entanto tudo quanto arranjei foi um exclamado cacete, sabe-se lá porquê, talvez pela incredulidade. Senti as tuas mãos nas minhas costas. Virei-me para que não percebesses que estava acordado. Não conseguia dormir, e tu sabes porquê. Queria cuidar de ti, mas não tinha como. E a cada hora que passava admirava-te mais, e ainda não parei de admirar."
João
Geografia das Curvas