05 fevereiro 2015

«A propósito de bois cobridores» - João Barreto

Já cá faltava a enrabadela do bode...
E o boi da Junta, Bartolomeu, nunca te foi ao cu?
Estou a falar do boi cobridor que a Junta Geral do Distrito Autónomo do Funchal (no tempo em que a Madeira era designada, com alguma condescendência, por ilha adjacente) punha à disposição dos proprietários das vacas que as quisessem prenhes.
É claro que se o Bar Tolo Meu por cá andasse, seria um sério concorrente ao dito boi da Junta. Os vitelos é que podiam sair meio esquisitos...
A propósito de bois cobridores, lembrei-me duma história antiga:
Consta que um desses bois lhe deu para a depressão e andava alheado das suas funções. O pessoal levava as vaquinhas ao pasto, na altura em que estavam "saídas" (ou seja, no cio) e o boi nem olhava para elas, continuava a ruminar, armado em funcionário público, mesmo que as fêmeas meneassem as ancas à frente do seu focinho. Em desespero de causa, chamaram o veterinário mais experiente e juntou-se uma multidão para ver a atuação do doutor que, naquele dia, mais parecia um toureiro vindo do México.
O doutor, depois de examinar cuidadosamente o aparelho genital e demais aparelhos do boi, concluiu que era só questão de estímulo. Então, lançando mão de uns panos, passou-os pela vagina de uma das vacas e, ato contínuo, esfregou-os no focinho do boi. No mesmo instante, este despertou do torpor, aproximou-se da vaquinha pelas traseiras e, alçando as patas sobre o lombo da dita cuja, tratou de cumprir a função que lhe estava destinada.
A multidão em delírio aplaudiu a macheza do animal que, não satisfeito com uma foda, cobriu todas as vacas que estavam no cercado e, tal era o entusiasmo, só não comeu o doutor veterinário porque este tratou de se pôr a bom recato.
Compadre José, após celebrar devidamente o sucesso na venda do Martinho, com uma litrada de jaqué tomada a meias com o Francisquinho do Lombo, montou-se na mota e abalou para casa. Já anoitecia e José foi matutando, pelo caminho, que ele próprio há muito que não dava uma pinocada com a sua Vicência, a qual até já lhe tinha mandado umas piadas, comparando-o com o preguiçoso boi da Junta. Ciente da técnica veterinária que tinha presenciado, entrou em casa decidido a imitá-la e, para facilitar as coisas, lá estava Vicência estendida na cama a dormir e com as pernas escanchadas. Pé-ante-pé aproximou-se e toca de meter a cara nas partes baixas da mulher, aspirando fundo todos os eflúvios e odores. Vicência, estremunhada e mal refeita de tão inusitado ataque, liga a luz da cabeceira e olhando horrorizada para o rosto triunfante do marido exclama:
"Ai José! Tanto sangue! Caíste outra vez da mota...?"

João Barreto