12 julho 2015

Luís Gaspar lê «Luzia Sánchez» de João Soares Coelho


Luzia Sánchez, estais em grande falta
comigo, que nom fodo mais nada senão
uma vez; e, pois fodo, se Deus me valer
fique disso afrontado bem por três dias.
Por Deus, Luzia Sánchez, Dona Luzia,
se eu vos pudesse foder, foder-vos-ia.

Vejo-vos deitar comigo muito defraudada,
Luzia Sánchez, porque não fodo nada;
mas se eu com isso vos satisfizesse,
pois eu foder não posso, peidar-vos-ia.
Por Deus, Luzia Sánchez, Dona Luzia,
se eu vos pudesse foder, foder-vos-ia.

Deu-me o Demo esta pissuça cativa,
que já nem pode cuspir saíva
e, de certo, parece mais morta que viva,
e se lh’ardess’a casa, não s’ergueria.
Por Deus, Luzia Sánchez, Dona Luzia,
se eu vos pudesse foder, foder-vos-ia.

Deitaram-vos comigo para mal dos meus pecados;
pensais de mi coisas tão desconcertadas,
cuidais dos colhões, que tragu’inchados,
porque o são com foder e é com doenças
Por Deus, Luzia Sánchez, Dona Luzia,
se eu vos pudesse foder, foder-vos-ia.

João Soares Coelho
João Soares Coelho (1200-1278) foi um Rico-homem e cavaleiro medieval do Reino de Portugal e do conselho real do rei D. Afonso III.
Foi senhor do senhorio da vila de Souto de Riba-Homem por doação régia datada de 1254. Foi como Rico Homem e cavaleiro que acompanhou o Rei D. Afonso III de Portugal nas guerras que este monarca travou para a conquista do Algarve, particularmente em 1249. Foi por esses serviços que o rei lhe fez couto da Quinta do Souto em 1254.
O poema “Luzia Sanchez”, é um típico exemplo da Poesia Medieval Portuguesa e foi gravado para o livro eletrónico “Coletânia de Poesia Portuguesa – I Volume”, disponível aqui.


Ouçam este texto na voz d'ouro de Luís Gaspar, no Estúdio Raposa