18 setembro 2015

«Onde é que está o amor e onde é que o posso encontrar?» - Ruim

Quando me perguntam “onde é que está o amor e onde é que o posso encontrar?” eu respondo sempre à minha namorada que de certeza não é naqueles antros noturnos onde ela e a manada das amigas vão e que saia da frente da TV.
Aqui em Alhos Vedros não há muito onde ir: temos o parque do jardim central para ler um bom livro numa tarde de primavera ou fazer as palavras cruzadas do Correio da Manhã, o café Central onde o grupo de chinquilho se junta todas as noites para uma partida de dominó e uma casa de putas disfarçada de vivenda abandonada da qual a madame é a Dona Máxima “Peixeira” que pelos vistos à noite dedica-se a vender bacalhau às sardas.
Por isso muitas vezes me desloco para zonas vizinhas no meu Renault Clio de 91 com o CD “Kadoc The Night Sessions” a rodar no meu auto-rádio (é um clássico, vão-se foder!). E o que mais gosto de fazer nestas aventuras a sós é simplesmente adotar a postura de farol humano e observar o que se passa ao meu redor pois estes sítios sempre me trouxeram dissabores. E cedo percebi que a mãe dos meus filhos não vai estar de minissaia, a fazer das pessoas varões de strip, de Martini Bianco na mão ou que merda de bebida amaricada essas gajas bebem e que se eu lhe passasse uma luz negra do CSI pela cara diria que a moça era arraçada de dálmata. Cedo entendi isto. Pelos vistos a maioria ainda não entendeu que, em nenhuma altura, um casal feliz se conheceu assim e no entanto continuo a ver hordas de pessoas e pessoínhas convencidas que vão encontrar a Rainha Cândida na noite mas só voltam com a Princesa Candidíase pela manhã. Não estou com isto a dizer que se deve ir para a porta do Museu Nacional de Arte Antiga conhecer pessoas ou montar uma banca de venda de lenços para a cabeça em frente ao IPO pois nem muito ao mar nem muito à terra. E a primeira pista que devem atentar é porque a transação comercial de uma casa de putas não difere muito de a de uma discoteca. Disse-me um amigo meu (vamos chamá-lo de Tinoco), disse-me o Tinoco que, numa casa de putas é habitué que a rapariga se sente junto a ele e lhe diga isto:
- “Olá Tinoco, tudo bem desde ontem? Pagas-me uma bebida?”
- “Sim, gaja de meia-idade escafiada por lenhadores e mecânicos da Autoeuropa que finge estar atraída por mim para me sugar até ao tutano”
- “Ok, são 40€”
E a coisa desenrola por si só sem muito mais conversa. Porque é que minigarrafas de champagne custam tanto? Não sei. Suspeito que é por serem anões mágicos da Terra Média a engarrafá-las mas não vamos divagar sobre isso.
Na discoteca o diálogo é este:
- “Olá Jéssica, tudo bem desde ontem? Queres que eu te pague uma bebida?”
- “Sim, melhor amigo do meu namorado”
- “Ok, são 40 bicos”
Só não vê quem não quer. Em ambas as situações podemos pedir fatura da bebida em causa, o que é giro pois causa um paradoxo fiscal: o tipo é que fica com a fatura mas elas é que são as consumidoras finais (trocadilho extremamente javardo que me orgulho).
O amor não está nos strobes de uma discoteca. E se não está ali então está onde? – perguntas tu que estás a ler isto sozinha a uma sexta-feira a fazer festinhas ao teu gato Rodolfo enquanto o bacalhau à brás aquece no micro-ondas. Pois, não sei. O amor não se procura, o amor acontece. E não se pode fazer acontecer. Quando ambos estiverem numa fila de supermercado e repararem que os dois compraram a mesma embalagem de quinoa ou quando duas mãos se toquem porque ambos se dirigiram ao mesmo livro do Oscar Wilde na FNAC, quando esse momento chegar vais entender porque vais sentir um sopro quente vindo não se sabe de onde, tremer por um segundo na voz e trocar um olhar que diz mil palavras que nem o maior dos trovadores teria palavras para descrever. Até lá podemos apenas sonhar que há um alguém por aí e por isso eu e o Tinoco hoje vamos sair… para efeitos de pesquisa.

Ruim
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