09 outubro 2015

«A última vez» - J. P. Silva

Finalmente o dia acabou. Estou tão cansado, e ainda hoje é só segunda-feira. Não sei o que se anda a passar, mas sinto algo errado na minha vida. Pode ser pelas coisas com a Marta continuarem confusas, por estar quase sempre sem apetite ou por andar a dormir pouco. Não sei mesmo…
Vou para casa descansar, tentar receber algum carinho dela ou então beber só um copo de whisky, enquanto ouço um pouco de Frédéric Chopin ou Beethoven. Provavelmente é mais fácil que aconteça a segunda hipótese. Não sei por que digo isto, mas é o que sinto no corpo quando penso. Enquanto não chego, vou fumando uns cigarros a ouvir um pouco de rádio. Ainda é uma hora até casa e, como sempre, parece que está algum trânsito. Já só me vem à cabeça a merda do copo de whisky!
Pois bem, cheguei finalmente e nem me apetece sair do carro. Esta viagem é sempre uma treta. Em vez de uma hora demorei quase duas, e agora que cheguei reparo num carro estranho aqui à porta de casa, um pouco escondido! Será alguma amiga da Marta? Estranho! Ela tem tão poucas amigas e aquelas que conheço são umas vacas, que não querem saber dela para nada e que raramente põem os pés aqui em casa porque me acham insuportável. Umas vacas, não haja dúvida.
Vou entrar devagar, sem fazer barulho porque estou com um pressentimento que algo não vai correr bem. Entro sorrateiramente, vou direto à cozinha, o mais rápido possível, o mais sorrateiramente possível. Não ouço nada! Parece que não está ninguém em casa. Estranho! Vou à garrafeira, abro uma das garrafas oferecidas pelos pais dela no nosso casamento: aquele J&B de 30 anos. Sinto que hoje vai dar jeito. Não sei por que sinto isso, mas se sinto vale mais deixar-me levar. Tiro um copo silenciosamente, duas pedras de gelo, e engulo o primeiro de seguida!
Meu Deus! O melhor whisky de sempre! Só falta mesmo a música, mas não a vou ligar sem ter a certeza do que se está a passar na minha casa. Bem, vou só encher mais um. Este aqui é para beber lentamente, enquanto subo as escadas até ao andar de cima.
«The holes (Os buracos)»
Paul Balan, Roménia, 2002
óleo sobre tela, 61x92 cm
da colecção de arte erótica «a funda São»
Comecei a subir e lentamente acompanhava cada degrau com um pequeno gole de whisky. Fiquei espantado, mas não perdi a calma com o que ouvi. A Marta gemia por todos os lados. Nunca a ouvi gemer tão alto. Ao princípio pensei que estivesse sozinha a dar algum prazer a si própria, mas entretanto ouvi:
- Fode-me, fode-me mais, por favor.
Ela gritava por mais:
- Não pares, bate-me, com mais força! Isso! Mais!
Até que pediu agressivamente
– Agora mete-me o teu caralho na boca, quero chupá-lo já, por favor!
Fiquei chocado! Mantive a calma, não sei bem como, mas talvez tenha sido da ajuda do whisky! Ela gemia desalmadamente. Dava para perceber que já começava a chorar de tanto prazer e eu só a ouvia a chupar o caralho sabe-se lá de quem.
Fui bebendo o meu copo de whisky a ouvir todos aqueles sons que de certa forma me deixavam cheio de tesão, e eu sem saber o porquê! Nunca me tinha sentido assim, nunca a tinha sentido assim e nunca a tinha fodido assim. Desci as escadas, a falta de mais whisky já se fazia sentir no meu corpo e eu já só pensava em beber a garrafa inteira, para não fazer nenhum escândalo. Não queria escândalos, só queria deixar aquele homem ir embora. Fiquei sentado no sofá, mas com a garrafa ao lado. Desisti do gelo, só queria aquecer a alma e o corpo por dentro. Sentia-me de certa forma frio! Calmo, mas frio.
Passaram umas horas, a garrafa acabou e eu ouvi alguém descer as escadas a correr, ainda com as calças na mão e o cinto a bater no corrimão. A porta fechou. Ouvi o carro a sair bem a fundo pela rua de baixo para ninguém perceber. Entretanto fui à entrada, abri e fechei a porta, para dar aquela sensação de que tinha chegado naquele momento. Fui bem-sucedido! Chamei por ela e disse que já tinha chegado. Ela disse-me que ia tomar um banho e eu disse-lhe que ia ouvir um bocado de música e comer qualquer coisa.
Para ser sincero estava com fome, mas não de comida! Toda aquela cena de filme - ou que eu pensava que só acontecia na sétima arte - juntamente com a garrafa de whisky, deixaram-me com fome. Fome de sexo, fome de ser violento, fome de a matar, mas não no sentido literal da palavra.
Subi as escadas, reparei que ela já estava no duche, tirei a roupa aos poucos, entrei na casa de banho e entrei no chuveiro. Ela ficou assustada e deu-me um beijo. Eu simplesmente não queria saber dos beijos. Peguei-lhe na mão e fi-la agarrar o meu caralho. Ela imediatamente retirou-a e virou-se de costas:
- Agora não! Estou cansada! - disse ela.
Não fiz mais nada: agarrei-lhe no cabelo com a mão esquerda, encostei-lhe a cara ao vidro do chuveiro e sussurrei-lhe ao ouvido:
- Eu quero e vou-te foder, aqui e agora.
Enquanto lhe dizia essas palavras encantadoras, com a outra mão dava-lhe aquele jeito no cu. Ela começou a gemer, um pouco a sofrer, mas eu não quis saber da dor dela. Não queria saber da dor dela para nada! Ela começou a gritar de prazer, começou a dizer tudo aquilo que tinha dito antes, e eu tapei-lhe a boca! Não a queria ouvir dizer nem uma palavra! Queria fazê-la chorar de prazer, queria ver as lágrimas a escorrer-lhe pelo rosto e queria que ela dissesse as únicas palavras que eu pretendia ouvir: «Fode-me outra vez!»
Desligámos o chuveiro, levei-a para o quarto e continuámos a foder. Meti-a de quatro, deixei-lhe o rabo todo vermelho só porque sim, sempre com a boca dela tapada só para lhe ouvir os gemidos e os gritos meio abafados.
Ela veio-se, uma, duas, três, quatro vezes. Eu nunca parei. Não quis parar. Queria que ela chorasse, e só iria parar quando isso acontecesse! À quinta vez viemo-nos em simultâneo. Tirei-lhe a mão da boca e as lágrimas de êxtase começaram a escorrer-lhe no rosto até que ela disse:
- Fode-me outra vez!
Não o fiz! Apenas lhe disse:
- Amanhã tens os papéis do divórcio para assinar e as tuas malas para arrumar. Irás sair e levar tudo o que quiseres, mas vais deixar a outra garrafa de whisky que os teus pais nos deram no casamento.

FIM

J. P. Silva