27 novembro 2015

«Loop» - Ruim

Desde as primeiras palavras que lhe vi aquele brilho nos olhos de miúda a um sopro de se apaixonar. Deixei andar como sempre. Confirma-se tudo o que eu já sabia. Ela é lindissima, trata-me tão bem como a anterior. Gosto de falar com ela. Adoro ficar a falar com ela, no carro, na cama e na sala. Até no meu silêncio adoro não falar com ela. Não é ciumenta. Dá-me espaço. Faz por aceitar todas as minhas manias e picuíces com horários, maneira certa de pôr uns talheres ou de como gosto de me sentar nas mesas de canto dos restaurantes. Será que ela já percebeu? Como é que pode nao ter reparado ainda quando a beijo? Ou quando desvio o olhar do dela ás vezes e não lhe dou a mão.
“- O que é que estás a pensar?”
Nada. Não estou a pensar em nada e o problema é esse. Nem em ti, nem em ninguém. Faço-me de parvo. Sou bruto de plena consciência e tento magoar sem ferir para a afastar e ela mesmo assim fica ao meu lado. Eu não quero que ela desapareça nem saia da minha cama, nada disso. Mas que tire aquela merda de ideia da cabeça que vai mudar alguma coisa.
Nunca poderão competir com Ela. Nenhuma das Outras. Enquanto coração e cabeça estiverem ocupados por uma sombra que não sai há cerca de 679 dias não há nada a fazer. Podem iluminar com lanternas, tochas e holofotes que a sombra Dela encontra sítio para onde fugir. Estou a tentar apagar uma lâmpada com o interruptor estragado.
E ali perdura, encontro após encontro à procura de um reflexo Dela nas Outras. E achei já uma frase Dela nas Outras. Um sorriso parecido. Uma expressão. Mas as Outras não são Ela, são partes.
Quem vive no passado não evolui, não cresce e vive agarrado a uma ideia parva, memórias, cheiros, pequenos fragmentos de uma coisa estupidamente curta.
“- O que é que estás a pensar? Podes-me contar tudo...”
“- Nada. Não estou a pensar em nada. Em cenas para escrever… só isso”
“- Ás vezes ficas com essa expressão vazia. O que é que se passa…?”
Nada. É que não é mesmo nada. Isto não é nada e continuar nesta farsa é menos de nada.
“- Não está a funcionar… isto que seja lá o que é. Desculpa…”
E mais uma vez uma versão romantizada de “o problema não és tu, sou eu” sai-me da boca e o mais irónico é que é mesmo verdade.
“- Olá… como é que te chamas?”
“- Ana…”
“- Olá Ana, eu sou a pessoa que te vai alimentar as esperanças algum tempo sem notar e tu vais totalmente ignorar os sinais mais que óbvios que isto está condenado à partida. Mas vais acreditar porque eu não sou mau tipo. Faço-te rir um pouco. Digo coisas bonitas. Encantas-te com pouco. Vou explorar as tuas inseguranças e usá-las a meu favor, vou alimentá-las. Tu por outro lado, vais fazer uso das minhas fraquezas e manter-me ao lado o máximo que conseguires. Não te vou usar mais do que me vais usar a mim. Não te vou maltratar. Magoar. És um cheiro. Só isso. Passageiro. Queres?”
“- Mas eu sou diferente, vais ver.”
“- Tu és. Eu é que sou o mesmo."
Rewind. Press play.

Ruim
no facebook