02 abril 2016

«Galanteio» - por Rui Felício

O carteiro tocou à porta daquela casa da Rua Nuno Tristão do bairro.
A porta entreabriu-se. Assomou uma mulher belíssima, de corpo escultural a moldar-lhe o vestido de seda leve, escorregadia, que, por momentos, deixou o rapaz boquiaberto, sem fala.
Ela sorriu, arqueou levemente as sobrancelhas em ar interrogativo. O que a tornava ainda mais bonita.
O carteiro venceu a custo o espanto e conseguiu tartamudear:
- É a Senhora Isabel Gomes?
Ela respondeu afirmativamente e então ele entregou-lhe a encomenda postal, um pequeno embrulho atado por um cordel, onde figurava o nome dela e a morada. O remetente, Luís Santos.
O carteiro pediu-lhe para assinar o recibo que lhe estendeu.
Ela hesitou…
Ainda lhe disse que não esperava nenhuma encomenda. E que todos os dias via o Luís Santos que podia perfeitamente ter-lha entregado pessoalmente.
O rapaz encolheu os ombros, disse-lhe que tinha que cumprir a sua incumbência.
Intrigada, mas também curiosa, acabou por assinar o papel , agradeceu ao carteiro e desapareceu por trás da porta que fechou atrás de si.
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Sofregamente, começou a desatar o embrulho, rasgou o papel pardo que o envolvia e, espantada, ficou com o objecto entre as mãos.
Arredondado, com uma estreita fenda aberta num dos lados.
Era um mealheiro. Um porco de barro. Mas porquê?!
A explicação estava num bilhete manuscrito metido na fenda do porco:

"Isabel,
A minha timidez impediu-me de me dirigir a ti pessoalmente.
Tu és a mulher mais bonita e mais sensual que conheci em toda a minha vida.
Não encontro outra palavra que melhor te descreva senão a de que és uma Pérola.
Para mim o provérbio de "atirar pérolas a porcos", perante a tua beleza, está mal formulado.
Por isso reformulo-o. Atiro um porco à Pérola!
A ti…
Luís Santos"


Rui Felício
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