01 abril 2016

«O primeiro e o útlimo primeiro beijo» - Ruim

Dois caminhos que se cruzaram um dia e percorrem agora o mesmo rumo juntos. Também nesse dia escrevi o que se passou para memória futura e, na foto, o resultado em modo de confissão num livro de honra de um primeiro jantar a dois. Dias antes, tinha-se dado o primeiro beijo...

PRIMEIRO BEIJO

Há quanto não dás um primeiro beijo em alguém? Não estou a falar dos engates, one night stands ou early morning regrets. Um primeiro beijo em alguém que gostes mesmo, alguém que por um momento te ponha a pensar se não vai recuar e deixar-te com ar de papa-formigas ou te espetar um lambadão de te virar a cara do avesso.
Isso é um primeiro beijo!!
Felizmente que a idade nos dá experiência, e a forma como lidamos com a situação é bastante diferente do que nos tempos de adolescente estúpido. O primeiro primeiro beijo que dei, foi no pavilhão B no intervalo de EVT e toda a coisa se assemelhou como um crocodilo a tentar dar uma linguaruça num rato almiscarado, porque eu quase engoli a cabeça da moça e juro que lhe senti o esófago.
Já não dava um primeiro beijo há muito tempo e é giro como apesar da idade nos dar todo um conjunto de competências sociais mais avançadas, o nervoso miudinho é o mesmo. Os ondes e os quandos. O timing. Se lhe vou dar uma cabeçada. Se o meu nariz de batata vai bater no dela e fazer puré. Se tenho uma nhaca qualquer na chicla da frente. E pior quando é uma pessoa com meio metro, porque se assemelha a beijar uma criança e tenho de me curvar todo, sujeito a deslocar alguma cena.
Toda a mulher é lambona por chocolates e, sabendo eu disso, armei-me com um dentro do bolso. Mas este era especial porque veio directamente do país vizinho e percorreu milhares de kilómetros especialmente para aquele momento. Não me critiquem. É jogo baixo eu sei, mas ela também é e por isso é apenas jogo. Estando já em pleno cinema e o filme a dar, começo a pôr em prática o meu diabético plano:
- “Olha o que é que eu tenho aqui para ti…” - e abano o chocolatinho na cara da menina.
Estão a ver aquele Facebook sticker do Minion com os olhos em coração? Igual!
“QUERO!” - disseram os olhos lagoa.
O ratinho de Hamelin já estava fisgado com a minha flauta de cacau (atenção ás piadas) e agora vem a pior parte: como é que eu vou conjugar isto tudo? Porque eu não tinha pensado nessa parte dado que na minha cabeça, eu ia dar-lhe um chocolate e ela ia me dar um beijo apenas porque sim. Eu não sou muito de pensar bem nestas merdas, mas isto foi um novo máximo de como pensar apenas em metade das coisas.
Abro com o plástico pela metade, dou-lhe o chocolate a provar e vejo que ela fica lá presa com os dentes. É agora, pensei eu. Tiro-lhe o chocolate da boca, a lambice dela actua fazendo-a perseguir o chocolate, meto os meus lábios no caminho e já está:
(música da Whitney Houston na minha cabeça)
“AAAAAAAAAAAAAND IIIIIIIIIIIIIIII I AIIIIIIIIIIIIIII WIIIIIIIIIL ALWAAAAAAAAAAAAYS LOVE YOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOU IUUUUUUUUUUUU”
E assim foi como se processou um último primeiro beijo. Foi assim que consegui não ver um filme e foi assim que ela acabou com um chocolate meio comido que guardou dentro da mala como recordação.
Não sei que filme fui ver.
Mas o que é que isso interessa?
Até hoje, esse chocolate ainda está guardado.
E este foi o meu último primeiro beijo.

Ruim
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