14 fevereiro 2010

Raquel: conto do pântano

Inquietos, nós. A ilusão batia-me no colo do útero, tomei-a por amor? E tu? A tua ilusão parecia tão firme, sempre tão firme; escorria tanto e, mesmo assim, firme. Trespassou-me o tempo de ti? Se calhar escorreu com a ilusão; o tempo foi placenta transparente que enrolava aquele delírio liquido - eu sempre a olhar através dele, sempre através, a adivinhar o que nasceria - a deixar adivinhar o que crescia, parto fácil e fim. Rebentaram as águas que eram as tuas lágrimas e empoeiraram-me o cabelo, encheram os armários - os fantasmas, sem casa, assombraram-me o castelo. Rebentaram as lágrimas que eram as minhas águas e inundaram-te os olhos, escorreram-te para o peito - inundaram-te o castelo. Juntaram-se as duas, cresceu um pântano - era a nossa nova casa. O nevoeiro cerrado, eu estava ao teu lado e nunca mais te vi.

Coisas boas de Portugal - Bidé

O Romeiro fala de um objecto que encontra com frequência em Portugal e que, segundo ele, é erótico. Para mim também é, Romeiro.

"Só os há por cá. De resto, não tenho visto muitos bidés. Na Bélgica não os há, em África, só em alguns hotéis, nos EUA, poucos encontrei. No Japão ou Coreia, nem sombra. Poucos vi em Inglaterra, França e Alemanha, parece que os usaram e agora já não tanto. No Brasil estão a aboli-los, mas pelo menos deram uma alternativa, uma mangueirinha com chuveiro e fazem tudo na retrete (eles dizem vaso). Que povo tão criativo! Deve ser da mistura.
Tenho pelo bidé grande admiração, sinceramente, sem pingo de ironia. O Bidé é, por um lado, um objecto útil e prático, por outro, um objecto com o qual tenho uma ligação manifestamente erótica.
Do meu ponto de vista, útil e prático porque dispensa tomar banho todos os dias.
Tomar banho todos os dias só quando se justifica, com o calor do Verão, e ainda se fosse atleta ou alguém que praticasse trabalho braçal.
A água cheia de cloro estraga a pele, no Inverno tira-nos a “cera” que protege contra o frio, desperdiça-se água, polui-se o ambiente com os produtos de higiene pessoal e com o aquecimento das águas. Enfim, não compensa. Acabei de me lembrar da moda das casas modernas terem banheira de hidromassagem e/ou chuveiros com massagens. Muito lindo, quantas vezes irão eles utilizá-la/os, se andam tão ocupados a trabalhar para pagar os seus luxos inúteis?
Mas já me estou a afastar do tema. Estava eu a defender que o bidé (juntamente com o lavatório) consegue garantir uma boa manutenção da higiene pessoal. E o banho diário é dispensável.
Erótico porquê?
Não posso precisar as datas, mas havia umas versões antigas de bidés que eram arredondadas, pareciam um violino, uma forma de mulher. A imagem da mulher sentada no bidé de rabo arrebitado e a água a correr pelo seu clítoris. Para mim é uma imagem erótica. Dá-me tesão, não sei porquê…
Sempre que chego a Portugal fico contente por reencontrar um bidé."


Imagens gentilmente gamadas daqui.

Há coisas que não se podem dizer...


crica para visitares a página John & John de d!o

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13 fevereiro 2010

A melancolia dos namorados



Odair Jose - Revista Proibida (coitadito...)

Transparente

Largamos as mãos de palavras ainda dadas. Ainda chove. Ainda tudo. Ainda não. Não gosto desta chuva; é uma chuva de cabelos brancos a enrugar-nos a pele; é uma chuva que avisa: o nosso (pouco) tempo já quase se acabou. Parece que percebes. Percebes? Porque o ar fica nítido; o ar fica cinzento no azul no vermelho e os meus ombros ficam nus. Olho os teus, o tronco abre-se. Basta olhar e já nunca te digo adeus. Mesmo que saiba essas coisas coisas todas que tu queres dizer, sento-me na janela e tu ficas imóvel, de corpo nu, encostado ao vidro quente; sempre soubeste que te vejo como se estivesse do lado de fora; então puxas-me e dizes que sou de vidro. Depois sorris, terno, parado. Dizes que nunca tinhas visto vidro nu. Dedos de penas. Já é amanhã. Não podemos ficar mais. Largamos as mãos de palavras ainda dadas. É por isso que me doem os olhos, muitas vezes as noites são escuras e eu não os desvio das palavras escritas, marcadas pelos dedos molhados, no vidro. Sabes, meu amor, sempre te quis explicar que a brisa e o vento só as aves e as árvores distinguem. As pessoas não. Quem és, quando não te distingues de mim?

«heidilicious» - Heidi Klum para a Esquire

«The Canyon» por Sandro Whitson



Visto em Erotic Oddities

Técnica para ele não esfolar os joelhos na alcatifa

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12 fevereiro 2010

nocturno

na escuridão da noite mais profunda
o teu corpo acendeu luz entre lençóis
e no véu negro e denso de penumbra
rasgou-se em grito a fímbria de mil sóis

esplendoroso o voo que trouxeste
e a tua ardência – ah um galope ardendo ao vento
de sabor tão doce quanto agreste
e um gemido muito além do sofrimento

um quarto tão vazio de inconstâncias
e depois tu a enchê-lo só de olhares
dois copos meio cheios e as fragrâncias
dos vinhos dos desejos dos lugares

percorri-te em cada alento na voragem
e senti o estremecer para aquém do frio
e és sempre tu o teu corpo essa viagem
que nem sei bem porque faz de mim um rio.

Faltas-me tu


Tenho tanto, que diria ter tudo
Tenho amigos, tenho amores
Tenho a bênção da vida
E até o sangue que escorre da ferida.
Tenho o abraço da gente que me envolve
Com um beijo e um sorriso
Dão-me um ombro, dão-me a mão
Palavras quentes, sem sermão.
Mas tudo que eu quero
E tudo que eu preciso
È a louca da sorte
Que está á minha frente
E se cola na minha pele, bem rente.
Sinto o fundo do mar vazio
Precisando da chuva
E das correntes do rio
Regando esta semente
Levando-a Mar adentro
Correndo lenta num fio.
Vivo num mundo
Que simplesmente flutua
Onde as rochas são pedra
E a areia é poeira
As flores, são meros espinhos
Que adornam a rua onde caminho.
Sem aromas coloridos
Sem os teus beijos sentidos
Sem tuas carícias em meu corpo
Sem tua respiração em meu rosto
Sem teu rosto nas minhas mãos
Trilho as pedras da minha vereda
Consumida por esta labareda
Que me faz sentir totalmente só!


Maria Escritos - 2010
© Todos os direitos reservados
http://escritosepoesia.blogspot.com

Presente


Como imaginarias o presente
se te falasse ontem do futuro?!

Sei que a tua imaginação
te elevaria muito longe
e te levaria ainda mais longe;
gosto da tua imaginação:
fértil.

Um enredo permanente,
nessa tua cabeça (essa sim, a que pensa);
na outra, pela outra e com a outra:
trato eu.

Foto e poesia de Paula Raposo

Adoro ver-te a andar de baloiço!

Programa para o carnaval


Alexandre Affonso - nadaver.com

11 fevereiro 2010

A Aliança

– Tira a aliança – resmungou ela, vendo-lhe a mão esquerda aberta sobre o colchão e o anelar marcado a ouro.
– O quê? – perguntou ele.
– Tira a aliança – repetiu ela.
– Porquê? – questionou ele.
Ela encolheu os ombros, fez uma careta e acenou com a cabeça.
– Tira! – ordenou.
Ele inspirou de lábios cerrados, olhou para a mão esquerda, para os dedos, para o anelar, para a aliança e hesitou.
– Está a fazer-te diferença? – acabou por perguntar.
– Não podes tirar?
– Agora?
– Sim, bolas – replicou ela, ligeiramente irritada. – Tiras ou não?
– Isso é uma ameaça?
– Era uma pergunta.
– Já não é?
– Continua a ser – respondeu ela, sentindo que ele preparava para se erguer e, provavelmente, sair de dentro de si.
Ele ergueu o tronco, recolhendo as mãos, que ela deixou de ver, dobrou as pernas, separando os sexos, e colocou-se de joelhos entre as pernas da mulher, pousando as mãos nas coxas dela. Ela subiu lentamente os quadris, até os corpos se voltarem a encostar, esticou o braço direito entre as pernas, pegou-lhe no sexo e penetrou-se.
– Tiraste? – perguntou ela, após uns momentos em que, em silêncio, se moviam um contra o outro suavemente, sem que ela lhe sentisse as mãos no corpo.
Ele não respondeu mas a pergunta pareceu espevitá-lo e agarrou-lhe as nádegas com força, separando-as enquanto aumentava a velocidade e intensidade dos movimentos basculantes das suas ancas de encontro às nádegas dela, sendo retribuído com igual aumento de intensidade da parte da mulher. Começaram a gemer e a respirar mais ruidosamente, dando uma banda sonora acelerada e ruidosa ao acto. Ele viu-lhe a mão esquerda agarrar-se com força à borda do colchão, enquanto, de quando em quando, lhe sentia as unhas da mão direita atingirem e espetarem-se ligeiramente o sexo na agitação frenética com ela se esfregava com os dedos esticados, e viu-lhe o rosto a querer enterrar-se na almofada. Não evitou um esgar de satisfação que não se transformou num sorriso por falta de tempo e concentração e continuou, mais rápido, mais forte.
– Foda-se! – gritou rouco, enquanto lhe dava palmadas nas nádegas, de baixo para cima, como ela gostava. – Foda-se – murmurava. – Foda-se!
– Sim! Sim! Fode-me! – gritava ela contra a almofada, espetando-lhe cada vez mais vezes e mais rapidamente as unhas no sexo. – Fode-me com força! Sim! Fode-me! Fode-me!
Sem parar, ele cruzou os braços: a mão esquerda segurou-lhe a nádega direita e a mão direita a nádega esquerda e aumentou ainda mais o ritmo, lançando-se de encontro a ela (e ela de encontro a ele) com cada vez maior impetuosidade.
A cabeceira em ferro da cama começou a embater com estrondo na parede e, entre suspiros, gritos, gemidos, palavrões, palavras divinas, rangidos da cama e de ferro contra a parede, ouviu-se o fraco tinir da aliança a cair no chão de madeira e ela veio-se e ele também.

Fantasmas

Meu amor,
nós não fazemos amor
porque fazem amor
os nossos fantasmas,
com as nossas batalhas,
com as nossas muralhas,
com a nossa dor;
eles fazem amor,
chamam-nos almas penadas,
separam-nos as almas,
e afiam-nos as navalhas.
Meu amor,
nós não fazemos amor
porque esses fantasmas
nos enganam,
nos reclamam
para as suas moradas;
nós não fazemos amor
porque eles não deixam,
porque eles nos matam,
porque quando fazemos amor
matamos esses fantasmas.

Ó Zé, fica sempre uma meia tua presa no tambor da máquina de lavar. Até parece que fazes de propósito!



O Gonçalo adorava a «Guerra das Estrelas»... e a Luzia queria uma cozinha nova.

10 fevereiro 2010

Sentidos permitidos

Como passar as narinas com suavidade por uma pétala e sentir a fragrância natural do amor que expele cada poro numa pele desejada, numa flor reencarnada em corpo de mulher que se cheira e se quer no preciso instante em que o potencial amante recebe o impacto do odor que lhe desperta no interior aquela vontade que se tem de ir mais adiante, mais além, e mergulhar sem demora no canteiro daquele jardim.
Como deslizar sem fim a atenção de um olhar pelos contornos de uma paisagem esculpida pelo vento, pela erosão, e disparar o coração num galope desenfreado pelo corpo de mulher deitado numa cama onde queremos estar para ocuparmos aquele lugar vago no paraíso que chama por nós, enfeitiçados pela imagem que recolhemos ao longo da viagem em que os olhos nos transportam sem pressas até junto das portas do céu.
Como passear as cabeças dos dedos no mais sedoso tecido, pelo corpo de mulher despido, acariciar a textura perfeita e receber em troca a maravilhosa sensação de perceber amor e tesão concentrados num único e prolongado arrepio que parecem percorrer de imediato um fio condutor, energia, das coisas ligadas à corrente do amor que se faz também pela forma sensual de tocar a perfeição com o ardor da paixão e a suavidade de quem caminha sobre papel de arroz.
Como escutar um rio desde a nascente até à foz, o desenho dos cabelos compridos espalhados pelo corpo de mulher, pelas costas, pelas margens beijadas enquanto a água se agita como fervente no seu percurso urgente até ao ponto de chegada onde a força do mar é reforçada para o confronto com falésias mais resistentes do que o betão das barragens que inventam cascatas quando o rio se agiganta e se faz ouvir imponente na vontade de prosseguir até ao fim do caminho traçado naquele corpo molhado de prazer.
Como saborear um corpo de mulher com o gosto do amor no paladar, o sexo a latejar a verdade e a consequência do coração a reagir ao sabor mais apreciado, o do corpo tão amado naquele instante em que se transforma num corpo amante e se torna mais salgado pelo suor libertado e, ao mesmo tempo, adocica o tempero da emoção que se beija e que se lambe, que se chupa e se invade com ímpeto de um exército conquistador, senão com os sentidos alerta e com a alma desperta pelas sensações mais intensas que podemos experimentar?