03 junho 2010

Corações de papel abreviados

E eu que gosto mais de ti por extenso, a ocupar linhas e mais linhas, a estenderes-te, assim, quase distraído, para além de qualquer ponto a que o mundo tenha decidido chamar-nos parágrafo.


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O Santoninho derrete-se com a Miss... e ode:

"Em ti... gosto do teu corpo extenso,
De percorrer as dunas, à tardinha...
Dentro de ti, eu existo, porque penso
Que já não és de outros, mas és minha!

Gosto de ver os teus braços estendidos
Num gesto meigo e terno, que acaricia
O meu rosto... e nos olhares comprometidos
Dos beijos que me dás... que eu não queria...

Por ti, eu percorro um areal dourado
De areias finas, caminhando devagar...
Sob um sol que queima... amor esgotado
Que se esvai e já nada tem para dar!"

Cinco Casamentos, Quatro Divórcios, Um Funeral

Sentado, de perna traçada, ar satisfeito mas de sorriso choramingas, o morto contemplava de uma campa próxima o seu funeral.
– Nunca pensei que isto fosse assim – disse, dirigindo-se ao morto-guia que lhe calhara em sorte.
– Não?
– Não – respondeu o morto cujo corpo enterravam. – Sempre pensei que não houvesse nada depois da morte. Foi uma surpresa completa você aparecer e uma surpresa ainda maior eu poder estar aqui, agora, a ver o meu funeral.
Pouco interessado na conversa do outro, o morto-guia levantou-se e deu um passo em frente para apreciar os vivos.
– E está composto – comentou referindo-se ao funeral.
– Composto?! – gracejou o morto, reparando na atenção que o morto-guia devotava às mulheres que, em linha, conferiam a descida do caixão. – Parece-me que o senhor está a achar isto mais do que composto.
– Ah!... – O morto-guia corou. – Ah… É que…
O morto levantou-se e bateu-lhe nas costas:
– Não fique assim, homem. Não é preciso corar. A verdade é que elas compõem qualquer funeral.
– É que ultimamente só me tem é calhado malta fora do prazo, com amigos e familiares nas mesmas condições – justificou o morto-guia. – Tem sido uma sequência demasiado deprimente – queixou-se, com um profundo suspiro.
O morto, sem conseguir decidir se o suspiro tão longo e profundo se devia à visão das mulheres ou à má-sorte nos funerais anteriores, calou-se sem atirar a graçola em que pensara que, para ser dita, lhe exigia certeza na razão do suspiro.
– Alguma coisa fiz bem – desabafou o morto por fim, sem se ter decidido a ser engraçado e tornando a sentar-se.
– Eu diria que fez bem mais do que uma coisa – respondeu o morto-guia, venerador. – É que, ainda por cima, aquelas quatro belas senhoras estão genuinamente tristes com a sua morte – comentou, para ser agradável.
– Quatro?! – estranhou o morto. – Cinco – corrigiu. – Aquelas cinco belas senhoras…
– Sim, as cinco são muito belas – aceitou o morto-guia, acenando com a cabeça encantado. – Muito belas…
– São as minhas viúvas – lançou o morto, vaidoso. – E todas choram a minha morte, hã?! Já viu…
– Muito belas – repetiu o morto-guia, concentrado.
– As quatro da esquerda são as minhas ex-mulheres – enunciou o morto. – A da direita é que é mesmo a minha viúva – esclareceu, irritado com a desmedida veneração do morto-guia que começava a achar demasiado ostensiva, afinal ele é que era o morto. Ele é que merecia atenção.
– Ah!... – A cabeça do morto-guia não parava de oscilar, aprovadora. – São as mesmas que estão genuinamente tristes com a sua morte.
– Claro!... Como é que não podiam estar – vangloriou-se o morto. – Afinal, as cinco perderam o homem da vida delas.
– A da direita não está genuinamente triste – informou o morto-guia, seco. – As da esquerda é que estão.
– Diga? – perguntou o falecido, desconfiado, levantando-se de um salto. – Como é isso? Está a brincar comigo ou quê?!
O morto-guia acenou negativamente com a cabeça e explicou, esboçando um sorriso malicioso que não conseguiu evitar:
– As suas quatro ex-mulheres estão mesmo tristes com a sua morte, a sua viúva nem por isso. Ainda que lhe fique bem o luto e seja convincente na sua demonstração de dor.
O morto praguejou e insultou o morto-guia, pondo em causa de uma penada os seus conhecimentos acerca do que os vivos sentiam, a sua competência, a sua seriedade e, por fim, arrasou a sua vida passada, mais concretamente, a sua vida sexual passada.
O morto-guia empertigou-se, fixou-o com dureza e ripostou com secura:
– As suas ex-mulheres estão tristes não é propriamente pela morte, meu caro. As sua ex-mulheres estão tristes com o fim das pensões de alimentos que você lhes pagava. Já a sua mulher, apesar do brilhante desempenho como viúva infeliz, está satisfeita por não ter de o aturar mais; por ser, das cinco, a sua única herdeira e porque as outras deixaram de receber as pensões e não terem direito a nada. Mais alguma coisa ou podemos ir embora?

Que pedazo de tetas


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Leões


02 junho 2010

sem escolha | projecto Olhar a Palavra

«Poderia eu querer mais? Uma escolha dupla, sem compromisso. Sem imposições, sem exigências. Apenas dois corpos que se unem, quando a vontade assim o entende, de forma crua, com o pacto do prazer a ditar o quando e o como.

Não sei viver com base nas escolhas e sei que não te escolhi. Mas quero-te.»

leia o texto na íntegra... AQUI!

O estranho fenómeno do “paroxismo histérico”

Ainda há menos de um século, as senhoras eram frequentemente acometidas de uma doença designada “histeria” (do grego “hustéra”, que significa “útero”). Pelo facto de ser uma doença crónica, esta maleita obrigava a tratamento continuado, consistindo o mesmo em sessões de “manipulação” da “vulva” em que a senhora era levada a atingir um estado de consternação corporal máximo designado de “paroxismo histérico”. Sentindo-se mais aliviada, a paciente regressava então a casa até que de novo fosse acometida de um surto de “histeria”, necessitando novamente de cuidados. O certo é que no século XIX a dita doença poderia dizer-se quase “epidémica”! A ponto de os médicos não terem, literalmente, mãos a medir! Segundo consta, os detentores deste duro ofício, inteiramente “artesanal”, num dia inteiro de trabalho árduo, não conseguiam prover à urgente necessidade de tratamento de mais do que oito mulheres. E ao que parece, por muito que se empenhassem, não estavam a “dar conta do recado”. Por esta razão, e porque, como se sabe, “a necessidade aguça o engenho”, começou a passar-lhes pela cabeça a tentativa de mecanizar a tarefa. “Meu dito, meu feito”, no final do século XIX (embora existam registos anteriores de aparelhos mecânicos destinados ao mesmo fim) foram inventados os primeiros aparelhos, verdadeiros prodígios tecnológicos da medicina outrora moderna. Sim senhor! Os primeiros vibradores! Embora as primeiras versões a vapor deixassem muito a desejar, logo se seguiu a invenção do vibrador eléctrico. E então sim! Era um “ver se te avias”! Passaram a ser necessários uns escassos dez minutinhos para aliviar cada paciente, e, finalmente, as pobres mãos calejadas de tanta vulva manipular tiveram direito ao merecido descanso! E foi assim que em poucos anos, mas já adentrando o século XX, se viram anunciados nas revistas femininas, ao lado do ponto de cruz, os maravilhosos aparelhos portáteis de tratamento doméstico desta maléfica “doença”. E não fosse, ainda na primeira fase do cinema pornográfico, as prostitutas deitarem-lhes a mão, achando que podiam divertir-se com estas maravilhas da tecnologia médica, tudo teria corrido bem! Associados a tão “perversa” finalidade, foi um instantinho para que se diabolizassem os tais “vibradores”, e rapidamente se descortinou o “paroxismo histérico” como sendo, afinal, um “vulgar orgasmo”. E pronto. Acabou-se a “brincadeira”. Os cuidadosos maridos não mais tiveram que levar as suas senhoras ao “tratamento”, fecharam-se as portas aos consultórios, interditaram-se as vendas e os anúncios dos “obscenos” aparelhos, e depois, ao que parece, mandou-se a mulherada toda para casa com a cona aos saltos e sem solução à vista. Sim, porque ninguém está para aturar isto! Doenças ainda vá que não vá… agora... orgasmos?!

Mulher em vidro de Murano

Uma beldade que veio de Veneza para a minha colecção.





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O OrCa não pode ver curvas que as ode logo:

"é de vidro de Murano
é de leite a criatura
e frágil é por engano
de tão exposta postura

rubros lábios afinal
mamilos rubros por fim
de vagina rubra tal
abrindo as pernas assim

frágil vidro de Murano
de Veneza belo ofício
mas malvado do fulano
que se esqueceu do orifício..."

Astro_Lógico

Há lençóis chorados por um sol inteiro
onde dorme a noite que acorda primeiro
para lhe adormecer o choro
que desperta passageiro
das ancas quebradas e perdidas
e dançam no corredor de músicas anoitecidas
e molham o chão de mãos em estrelas soltas
de rosto na mão que se descreve às pautas.
E quando desliza os raios pela noite estendida
logo, logo, espreita a manhã estremunhada
que rasga e finda a noite em amanhecida
e logo, logo, mais uma cama chorada.


01 junho 2010

a propósito da temática do livro "HomosseXuais no Estado Novo", da autoria da jornalista São José Almeida

Ora aí está um tema sexossocial estimulante. O que terá passado um homossexual no Estado Novo que um homossexual no estado em que estamos não passe ainda?

Confesso que ainda não li o livro mas que pretendo fazê-lo, quando tiver oportunidade, que mais não seja por curiosidade e ilustração. Mas não é do livro que falarei agora, pelo que peço, desde já, desculpas à autora pela fonte de inspiração.

Primeira observação assustadora: Então que me dizem do casamento de homossexuais? Também aqui me perturba algum desnorte, a saber:

- No Estado Novo, qualquer elemento dito progressista que se prezasse - notem que já nem digo antifascista... fiquemo-nos, então, pelo meramente progressista - considerava o casamento (pelo civil, entenda-se) como uma instituição a combater e, porventura, a abater, pelo que continha de retrógrado, reaccionário e castrador de uma sã relação entre dois seres viventes e pensantes...

(se considera o assunto e este meu tratamento do mesmo digno de leitura até ao fim, por favor, leia-o integralmente aqui)

Projecto Mulheres Reais


Fui seleccionada para integrar este projecto (mulheres com excesso de peso, estrias, celulite, sem silicone e sem photoshop!), pela Helena e pelo Ricardo do MyMoments.pt, de onde saíram 25 fotografias da minha pessoa.
Deixo-vos aqui uma delas.

Maluco da...



... Pinha


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oglaf.com

Paradoxos do ensino em Portugal

Na mesma semana em que o país parou porque uma professora do ensino básico, boazuda (e nariguda e com um certo ar de porno-star, mas curvilínea à mesma), resolveu despir-se para uma revista de renome internacional, e coitadinhas das criancinhas, que aquilo ainda se pegava e blábláblá, vamos lá enfiar a fulana nas catacumbas de uma biblioteca (isto na hora de serviço, porque da festa já ela tratou, a Miss Mirandela não dorme na forma), onde só estará em contacto com livros em que ninguém mexe, tirando os tarados que passarão a intelectuais num ápice, outra notícia houve.

Um professor, também de área da Educação Musical (coincidência?!), respondeu com um "entra lá, ó preto", quando lhe foi solicitada, por um aluno, a licença para entrar na sala. A pena?! Foi afastado do ensino por manifesta incapacidade social?! Foi considerado uma vergonha para a classe docente e para a espécie humana em geral?! Abriu o telejornal da TVI, provocando uma onde de horror nacional?! É o foste!!! Processo disciplinar na escola, mil euros de multa e volta lá mas é ao trabalho, meu bom homem, que desabafos toda a gente os tem.


De um país em que não vale tirar a roupa mas é legítimo discriminar pela cor, tudo se pode esperar.

Entre família



HenriCartoon