22 outubro 2017

«respostas a perguntas inexistentes (368)» - bagaço amarelo

Depois de um Amor qualquer, é preciso aprendermos a não Amar durante algum tempo

Depois de um Amor qualquer, é preciso aprendermos a não Amar durante algum tempo. É a única forma de conseguirmos Amar outra vez.
Há pessoas que nunca param de Amar. Amam sempre e insistentemente como se o Amor fosse apenas o verbo e não a pessoa que se Ama. Nessas alturas e nessa situação, qualquer um que se atravesse na sua mira passa a ser Amado. Mas mal, claro.
Ser mal Amado é isso mesmo. Alguém nos Ama apenas porque precisa de Amar alguém, seja lá quem for, e fomos nós que nos atravessámos à frente. Podíamos ter sido atropelados por um automóvel na estrada ou ser atingidos por um raio, mas acabámos por ser Amados por um vazio maior do que o próprio vazio.
O Amor dá trabalho, porra! É preciso saber isso. Se ele estivesse ao virar de cada esquina, não era sequer Amor. Era um mero passatempo de fim de semana. Também pode ser, se tivermos noção que não é a mesma coisa.

Subi os degraus dos três andares para ir a casa dela. Quando lá cheguei, a porta já estava aberta. Limitei-me a limpar os sapatos num tapete que dizia "welcome" e fechar a porta atrás de mim. Olhei para o cinzeiro cansado para olhar também para ela, cujas palavras tinham morrido, pareceu-me a mim que sufocadas por meia dúzia de cigarros ansiosos.
Ela estava sentada no sofá azul onde uns dias antes me tinha dito que ia parar e não Amar durante algum tempo. Mas não conseguiu. Nunca consegue. Está sempre a Amar como se o Amor fosse a munição duma arma automática. Quem se atravessar à frente pode dar o corpo às balas.
Há um homem qualquer que dá isso mesmo: o corpo. Depois vai-se embora por tempo indeterminado e ela fica a fumar cigarros na sala. Nervosa. Eu apareço, quase sempre com uma garrafa de vinho, e digo-lhe que depois de um Amor qualquer é preciso aprendermos a não Amar durante algum tempo. É a única forma de conseguirmos Amar outra vez.
Os homens são lixados. As mulheres também.


bagaço amarelo
Blog «Não compreendo as mulheres»

Tenda armada


Abordagem

Avisou-me que o prato estava quente e recomendou que tirasse das bordas. Disse-lhe que para tirar das bordas, primeiro tenho de o meter.

Patife
@FF_Patife no Twitter

21 outubro 2017

«encontro-te em todos os recantos das uvas» - Susana Duarte

encontro-te em todos os recantos das uvas,
e em todas as luas do meu corpo. revejo
as imagens dos dias de antes, e as fotos
traduzem o indizível: a vida consumida
em poucos momentos, e as velas frutadas
do meu peito. encontro-te em todos os lugares
noturnos onde as mãos conduziram o voo
das quimeras, e as asas pernoitaram onde
os braços perderam as plúmulas e as dores.
encontro-te, enfim, às portas das ruínas
onde romanos guerreiros ergueram lutas
decadentes, como a paixão que me traz
esquecida de mim. encontro-te onde sou,
e onde não serei, nunca, mais do que a sombra
do que desejei, se tu, por mim, não voltares.
se tu, por mim, não dotares os braços de mar
afundando-me, por isso, nas areias e nas algas
de onde não mais consegui sair.

Susana Duarte
Blog Terra de Encanto
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Vulva fossilizada

Pequena pedrinha com aspecto peculiar, lapidada pela natureza e por esta disponibilizada para a minha colecção.




A colecção de arte erótica «a funda São» tem:
> 1.900 livros das temáticas do erotismo e da sexualidade, desde o ano de 1664 até aos nossos dias;
> 4.000 objectos diversos (quadros a óleo e acrílico, desenhos originais, gravuras, jogos, mecanismos e segredos, brinquedos, publicidade, artesanato, peças de design, selos, moedas, postais, calendários, antiguidades, estatuetas em diversos materiais e de diversas proveniências, etc.);
> muitas ideias para actividades complementares, loja e merchandising...

... procura parceiro [M/F]

Quem quiser investir neste projecto, pode contactar-me.

Visita a página da colecção no Facebook (e, já agora, também a minha página pessoal)

«Lúcia» - João


"A Lúcia não era a rapariga mais bonita da escola

a rapariga mais bonita da escola, naqueles tempos, era outra. Suponho que era isso que fazia realmente a diferença, aos onze anos ou coisa parecida não escolhemos exactamente as paixonetas pelos valores ou planos de vida, escolhemos pela cara bonita, pelas mamas, enfim, pela embalagem, e se lá dentro vier algo de muito simpático, tanto melhor

mas era mais experiente que muitas. Não sei se era mais velha, não me lembro, desculpem, já lá vão 30 anos, mas era tida por todos como uma rapariga mais experiente, que teria vivido coisas que as outras ainda não sabiam sequer o que eram. O meu primeiro beijo, de lábios nos lábios, não me recordo com quem foi, ou quando. Trinta anos esmagam muitas coisas mas as verdadeiramente marcantes tendem a resistir. Depreendo, por isso, que não foi marcante esse momento. É pena, devia ter sido. Mas a Lúcia, continuemos, tinha um ar menos virginal e não estava tão presa na hora das curtições. O meu primeiro beijo deve ter sido a alguma colega no famoso jogo do bate-pé, essa lista de coisas impossíveis para a idade, naqueles finais de 80, e não ficou na memória, mas o primeiro beijo com língua, esse sim, lembro-me bem, porque foi estranho. Foi a Lúcia quem mo ofereceu, nem sei se diga por favor, como que para ensinar o desgraçado do puto que tinhas as hormonas aos saltos e nunca tinha usado a língua senão para lamber o creme dos bolos. O sítio já nem deve existir, era uma espécie de bosque nos arredores da cidade, a turma toda fora da escola, uns coleguinhas à espreita nos arbustos e eu sentado num muro todo escavacado com a Lúcia à minha frente a prestar-se para me ensinar qualquer coisa.

Dos arbustos vinha a surpresa de alguns que exclamavam olha olha a Lúcia e o João estão nos linguados. Agora não me passa pela cabeça chamar linguado a nada mais que um peixe, mas era assim, talvez ainda seja assim, eu já estou noutra vida em que as coisas não têm esses nomes, os beijos já não se dividem em categorias, ficámos pragmáticos, talvez menos pacientes para categorizar as etapas da sedução, as conquistas. Um beijo é um beijo e pronto. A língua é um adquirido. Algures nos arbustos creio que estava a rapariga mais bonita da escola

fazem-se algumas coisas idiotas quando se é novo. Como naquele dia em que ela tinha um vestido verde às bolinhas pretas, e ali para os lados do pavilhão onde tínhamos educação visual, ela, eu, e mais um par de namorados, decidimos ir para perto do campo da bola competir pelo beijo mais longo. As opiniões dividem-se, mas estou capaz de jurar que o nosso foi o vencedor, ainda que por muito escassa margem, milissegundos talvez, porque a páginas tantas o beijo já era tortura e assim que se percebesse que um dos pares tinha desistido, o outro desistia logo depois, para repousar os músculos e subtrair os corpos às posições desconfortáveis em que se estava. E no mais, por aquela altura, já todo o campo de jogos, e seu público, tinha parado o que estava a fazer para nos observar. Assim como os meteoros, que brilham muito e morrem a seguir, também nós tivemos o nosso momento de fama naquela escola preparatória, capazes de parar toda a gente e por um momento (enfim, perto de dois minutos talvez, logo se vê que foi um beijo principiante e pouco treinado, ainda que convicto e excitante) os mais populares do pedaço

mas naquela altura, não obstante o interesse que existia, a relação ainda não, e em rigor eu andava a tentar treinar para um dia mais tarde, quando estivesse com ela. Esse dia viria, de facto, e num dos longos caminhos em direcção à casa dela, num namoro lento da estrada a subir, pergunto desajeitado e até mesmo rude – hoje parece-me profundamente rude – se ela dava linguados. Merecia que me tivesse dado um, sim, mas na cara, um peixe na cara, mas discreta lá me disse que sim, e quando nos despedimos no local de sempre, trocámos um dos piores peixes que alguma vez a terra viu. Não o diria por ela, coitada, diria por mim. Viria a melhorar, mas aquele foi francamente mau. E eu sabia. Talvez me tenha condicionado para o futuro, há inseguranças que nos marcam, essas sim, e persistem por 30 anos, talvez por 40, por 50, enquanto estiver vivo, enquanto me lembrar.

A vida, pouco preenchida nos amores, não me trouxe muitos lábios, nem os faciais nem os outros, para beijar. Mas ainda coleccionei, nem sei, talvez duas ou três críticas negativas. Construtivas, é certo, sem intenção de magoar, mas definitivas naquilo que entretanto se tornou a minha convicção e orienta este textículo: de facto, eu beijo mal. Acabei por me refugiar noutros talentos, noutras coisas que, vendo bem, talvez tenham o dom de satisfazer muito mais uma mulher do que um beijo, por muito importante que ele seja no despertar de desejos, que é. Mas disso, nem a Lúcia, nem a rapariga mais bonita da escola, viriam a saber."

João
Geografia das Curvas

20 outubro 2017

«Lavou, Tá Novo - Episódio 10: “Aos trouxas...”» - Humores Urbanos

Todo mundo tem direito a uma segunda chance. Mesmo o mais trouxa dos trouxas! Que aqui no nosso caso são Leonardo e Oswaldo.
Uma nova apresentação do aplicativo é marcada, mas agora é pra valer.

«O relógio!...» - Mário Lima


Se quiseres tiro tudo, excepto o relógio. Ele marca o tempo que posso estar contigo, nem mais nem menos um minuto. Regula a minha vida, a minha permanência neste mundo.

Inexoráveis, os ponteiros somam os segundos fazendo minutos que por sua vez se transformam em horas, em meses, em anos.

Há quem me tenha visto nu, com uma faca na algibeira rolando pela encosta da Serra, mas não, não era eu, sei é que hoje estou aqui perante ti, nu, com o relógio no pulso e esse sim, sou eu!

Não tenho tempo, tempo que me consome, tempo que faz com que não tenha tempo para estar mais tempo contigo.

Pede-me tudo menos tirar o relógio. Mesmo olhando de soslaio, tenho que ver as horas. O relógio da torre soou, são horas, horas de me ir embora!... Esgotou-se o tempo… o tempo foi esgotado!... Nem mais um segundo restou.

Desço as escadas, sei que tu terias mais tempo para ficar comigo mas eu sei é que não tenho mais tempo para ficar contigo!

Chego ao carro, fico um tempo a sossegar as batidas do coração, rio-me um pouco do disparate que é este de não ter tempo para se amar à vontade, sem pressas.

Arranco, atravesso a cidade com as luzes de néon iluminando-me o caminho, olho para o pulso e verifico que, afinal, me tinha esquecido do relógio, do meu relógio... na tua mesa de cabeceira!

Mário Lima
Blog O sonhador

#vaquismo - Ruim

Às vezes, inspiro-me mesmo com as selfies de algumas raparigas e as suas frases "se a vida te derrubar duas vezes, levanta-te três" e *click* foto das mamas a saltarem do decote.
Ora aí está uma coisa como deve ser

Ruim
no facebook

19 outubro 2017

«Bicha» - Porta dos Fundos

Beijos que a sociedade estranha… uns mais do que outros

Revista «Cristina» nº 4 de 2017, vendida com duas capas alternativas: dois homens e duas mulheres a beijarem-se na boca.
A polémica que esta iniciativa causou, só justifica a sua pertinência... e a compra de dois exemplares da revista (um com cada capa) para a minha colecção.








A colecção de arte erótica «a funda São» tem:
> 1.900 livros das temáticas do erotismo e da sexualidade, desde o ano de 1664 até aos nossos dias;
> 4.000 objectos diversos (quadros a óleo e acrílico, desenhos originais, gravuras, jogos, mecanismos e segredos, brinquedos, publicidade, artesanato, peças de design, selos, moedas, postais, calendários, antiguidades, estatuetas em diversos materiais e de diversas proveniências, etc.);
> muitas ideias para actividades complementares, loja e merchandising...

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Quem quiser investir neste projecto, pode contactar-me.

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«Popeye & Olive Oyl» - Adão Iturrusgarai