05 dezembro 2017

«ondeio flores por onde as névoas se dissipam» - Susana Duarte

ondeio flores por onde as névoas se dissipam
e ondulo onde as águas magoadas me despem

navego onde as aves perderam os bicos, e as ondas
trazem os algaços do mundo, solitários, enredados

procuro, onde as flores dissipadas caem de árvores
e as árvores são de um verde-azul inexcedível

o teu corpo ondeia sobre mim, e sobre o mar,
nos pensamentos que, cobertos de plumas,
sofregamente se movem entre as tuas pernas
e, fugidios, mais rápidos que elas, deslizam

por entre os teus olhos. teimo em vê-los onde apenas as ondas

e as aves
e as névoas

existem.

Susana Duarte
Blog Terra de Encanto
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AIDES - «O amor existe»





Tantos carinhos!...


Jovem desprovida de meios para adquirir roupa interior mas exibe, no entanto, uma vontade irreprimível de oferecer carinho ao seu semelhante

Sharkinho
@sharkinho no Twitter


"Dá-lhe com a vara!"

Garrafa de cerveja artesanal Trigo - edição postais ilustrados - Aveiro.
No rótulo, vários símbolos desta cidade, com uma mulher na praia e pescadores, num barco, a incentivarem outro: "Dá-lhe com a vara!". Em primeiro plano, a quilha de um moliceiro, «Cagaré», com uma mulher de biquíni a dar um biberão a um homem, com a frase "Mama, mas não abuses!"
Oferta de Lourenço Moura para a minha colecção.












A colecção de arte erótica «a funda São» tem:
> 1.900 livros das temáticas do erotismo e da sexualidade, desde o ano de 1664 até aos nossos dias;
> 4.000 objectos diversos (quadros a óleo e acrílico, desenhos originais, gravuras, jogos, mecanismos e segredos, brinquedos, publicidade, artesanato, peças de design, selos, moedas, postais, calendários, antiguidades, estatuetas em diversos materiais e de diversas proveniências, etc.);
> muitas ideias para actividades complementares, loja e merchandising...

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04 dezembro 2017

Dunas de manteiga

Adoro trabalhar (n)o barro!


«Carta aberta a uma doce desconhecida» - Cláudia de Marchi

Prezada, suas palavras são encantadoras e ternas, mas tenho pra lhe dizer que meu "sucesso" se deve ao "impacto" causado pelo fato de um "ser humaninho" sair de uma carreira de mais de uma década na advocacia e deixar de lado a paixão pelo magistério para virar acompanhante de luxo na sua capital preferida.
Não seria justo eu lhe dizer: "faça o curso de Direito (ou um tão "pomposo" quanto aos olhos da sociedade), passe no seu primeiro exame da OAB, faça uma pós-graduação boa, namore homens legais, namore babacas, enfrente relacionamento abusivo, case, separe, mude de cidade e Estado, advogue com esmero, seja vítima de ciúme infundado e quase psicótico de esposa de colegas, lecione, seja sempre a primeira a corrigir provas, a que está sempre disposta a incentivar os alunos, a que posta a matéria no portal acadêmico, "consequentemente", seja demitida sem justa causa ou qualquer outra explicação, diante de tais fatos saia do interior do Estado onde estava há 3 anos para o DF e seja encontrada num site de "segunda" (na colocação dos sites daqui, mas foi o único que aceitou fotos não profissionais) que lhe entrevistou e, então, passe a ser ouvida por canais mais interessantes e sérios no meio da internet. Ah, faça um blog e escreva em português correto! Ah, seja culta, boa leitora e escritora, além de bonita, claro."
Vejamos: eu tenho um blog chamado "Apenas ideias" desde 2007 (www.claudiademarchi.blogspot.com.br). Escrevo crônicas desde 2003. Tenho pontos de vista polêmicos, mas nunca fui notada, nunca me intitularam escritora ou nada afim. Não até me verem seminua na internet.
Mulher bonita, que não aceita ser sustentada por homem e descende de família humilde sofre o dobro: precisa de emprego, "cruza" com demônios chamados "mulher do chefe", se dedica-se demais tem problema, se dedica-se "de menos" também tem. E não tem tempo pra fazer outra coisa, afinal você ajuda a família, não tem ninguém pra lhe ajudar. Trabalha de dia pra comer de noite e ainda é obrigada a ouvir filhinho de papai criticar sua "revolta", por exemplo!
Eu saí da faculdade de Direito com um escritório e trabalhando. O Judiciário me frustrou. Dos homens eu desisti: a maioria me pareceu acomodada, egoísta e machista (há exceções). Filhos? Deusmelivre! Não posso nem com choro de criança! Sexo? Sempre amei! Sobretudo depois dos 29/30 anos, quando a gente está segura de si pra f***** de luz acessa e sem vergonha alguma!
Gosto sim e tendo o dinheiro como recompensa não me importa a aparência do cidadão desde que seja educado, escreva e fale corretamente. Eu poderia continuar advogando. Eu poderia esperar a virada de semestre e voltar a lecionar noutro local. Mas, num ato de rebeldia eu uni o útil ao agradável!
E, desde então, somente um pensamento me vem à mente: "Por que eu não comecei a fazer isso há anos?". Talvez, porque haja uma razão por trás de tudo. Como mulher madura que faz o que gosta eu me imponho e pretendo influenciar a muitas a se imporem e se libertarem do preconceito. Porque se quem sofre a discriminação é conivente com ela, nada nunca irá mudar. E eu quero ser agente de alguma mudança. Tentarei sê-lo, se eu conseguir você saberá!

Simone Steffani - acompanhante de alto luxo!

«Tatuagem» - Rubros Versos


Tiago Silva

03 dezembro 2017

«pensamentos catatónicos (345)» - bagaço amarelo

o voo dum albatroz

Acho que é a recordação mais antiga que tenho de suspirar de Amor por uma mulher. A Joana usava tranças e tinha um vestido azul, eu tinha uma fisga de madeira feita pelo meu avô e um estojo com vinte e quatro canetas Molin de cor em cima da carteira da escola. A professora mandara-nos ilustrar um texto e ela virou-se para trás, na minha direcção, e perguntou-me se podia usar o meu amarelo. Corei, talvez demais, e emprestei-lhe todos os seis amarelos que tinha no estojo, do mais claro ao mais escuro e um muito específico a que chamávamos amarelo torrado.
O meu desenho era composto por várias casas, uma cobra, uma girafa, alguns automóveis e crianças a jogar à bola. Usei todas as cores para o pintar menos esses amarelos, apenas pela falta de coragem de lhos pedir de volta. Acho, por isso, que é também a recordação mais antiga que tenho de uma mulher me achar parvo.
No fim do dia, às seis e um quarto da tarde, a campainha tocou e ela devolveu-me as seis canetas. Agradeceu-me e deu-me um beijo na bochecha. Saí a correr pela sala e só parei quando cheguei a casa ainda eufórico. Não sei explicar porquê, mas creio que foi por causa do sonho. Todas as noites antes dessa eu sonhara com a Joana. Continuei a fazê-lo nas noites que se seguiram. Infelizmente, os pais dela compraram-lhe um estojo com trinta e seis canetas e ela nunca mais precisou de mim.
Mais tarde, já adulto e com mais paixões sofridas, em que entretanto o sexo também se metera como um intruso embriagado, percebi-me nessa infância. O Amor que sentimos não é aquele com que nos deitamos, mas sim aquele com que acordamos. Depois do sonho, quero eu dizer.
Os dias bons e os dias maus são sempre um estímulo para nos sentirmos apaixonados, nem que seja de forma tão efémera como o voo duma borboleta tonta. Ou porque queremos aproveitar os bons ou porque precisamos desesperadamente de atenuar os maus. Já o Amor que sentimos ao acordar, depois de ter tido a oportunidade de sonhar, é aquele que pode transformar um voo de borboleta num voo de albatroz. Mais longo, mais decidido, mais forte.
Foi na primeira manhã em que acordei com a Márcia que me assaltou esta realidade. Depois duma noite de uísque, cerveja, beijos e sexo passáramos directamente para o sonho, até às primeiras lâminas da luz do Sol nos cortarem essa paz.

- Ainda aqui estás? - Perguntou.
- Não é suposto estar?
- Não. Devias ter saído durante a noite...

Vesti a roupa que se espalhara pelo quarto como um explosivo fogo de artifício e saí como um foguete queimado. Já na rua, estava a contar as moedas para perceber se podia beber um galão e comer uma torrada na pastelaria mais próxima quando ela veio à janela.

- Desculpa.

Não respondi.
Porque a vida não espera, o Amor também não. A Irina queria escrever qualquer coisa e pediu-me uma caneta emprestada, já a minha torrada se transformara em migalhas. Fiquei a vê-la, na mesa ao lado, a transcrever apontamentos entre guardanapos e um caderno pequeno. Quis-me ir embora, mas não tive coragem de lhe pedir a caneta de volta, por isso esperei pacientemente que ela terminasse a escrita.
Só ma devolveu uma hora depois, agradecendo-me o gesto. Lembrei-me do beijo que a Joana me dera na bochecha muitos anos antes e que ali parecia faltar, por isso ganhei coragem e convidei-a para jantar. Quando dormimos juntos pela primeira vez, uns dias depois, ela resistiu aos meus avanços nocturnos até o sono me derrotar. De manhã, depois do sono e do sonho, ela ainda lá estava.
O nosso Amor foi o voo dum albatroz.


bagaço amarelo
Blog «Não compreendo as mulheres»

Êxtase


Fiz a catequese toda de fio e pavio e como todos os outros lá levei com a banalização da cópula naquela história do Adão e Eva que afincadamente vincava o lado animal da coisa personificado na marota da serpente. Depois ainda me encheram os ouvidos com mais uma banalização do acto, mas desta vez sacralizando-o na Virgem Maria que através do Anjo Gabriel concebeu sem pecado.

E confesso que me sinto feita num molho de brócolos porque não me quero vulgarizar como uma qualquer princesa de história de encantar e conceder ao coito o estatuto de passe social para viver feliz para sempre. Prezo muito a minha sanita que nas horas de aflição dá vazão aos movimentos instintivos para atingir o divinal prazer do alívio. Sou uma aficionada da gastronomia tanto por me saciar a fome como para praticar os rituais de deleite com as iguarias. E à escrita entrego-me com o primitivo instinto de comunicar e a paixão sagrada de fazer nascer com as minhas mãos e o meu corpo todo algo diferente de mim. O meu êxtase é olhar em redor e absorver até à última espinha.

Era uma vez...

Acham sempre que vou virar um príncipe e contentar-me com "amor e uma cabana". Mas serei sempre um Patife que só quer "humor e uma sacana".

Patife
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02 dezembro 2017

«deita-te a meu lado» - Susana Duarte

deita-te a meu lado,
e fala-me da transcendência. diz-me
onde residem


os poemas, e revela-me a luz de outrora.

deita-te nos meus braços,
e fala-me da saudade. diz-me
onde reside a sede, e a fome,

e a vontade de ser abraço, poema
inscrito num braço,
que me prende e segura. conta-me
dos dias sonoros,
e da velocidade dos movimentos
dos dedos, quando, maravilhados,
inscreveram em si próprios
o poema. deita-te a meu lado,
e reencontra, no corpo que se arqueia,

as palavras que procuras.

e fica. fica a meu lado,
e revela-me as ondas da paixão,

os olhares que desnudam, e a alegria
de se ser
onde o poema se inscreve

na carne.

deita-te a meu lado,
e fala-me da transcendência.

Susana Duarte
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