12 março 2018

Kulta Bank

Grão de pólen de Cydonia Oblonga


Foto microscópica colorida à mão por Rob Kesseler (2009)

(via mon ami Bernard Perroud)

Kardashian de Bucelas

Esta anda sempre com o iPhone 8 em riste. Diz que é um instrumento de trabalho mas só a vejo tirar selfies que publica sofregamente nas redes sociais. Durante o jantar deixou arrefecer todos os pratos para os fotografar, enquanto eu comia perante o seu ar de desfaçatez por ter começado antes dela. Consegue falar mais do que eu, que é coisa que me deixa profundamente aborrecido, só pelo facto de não a querer conhecer assim tão bem. Nenhuma pinada vale este tormento. O problema é que sempre que penso isto, parece que ela se curva de propósito e eu fico petrificado a olhar para as suas mamas pendidas sobre a minha imaturidade. Diz que os homens são todos fúteis e obcecados pelo físico enquanto emproa o busto e comprime os lábios para tirar mais uma selfie e publicar numa rede social qualquer. Acha-se uma espécie de Kardashian de Bucelas, com uma legião de saloios seguidores interessados em saber sempre onde ela está e o que está a fazer. Estranhamente isto excita-me, pois penso que irá fazer o mesmo quando estivermos a pinar, uma vez que não houve uma ação durante todo este encontro que não fosse registada pela câmara do telefone. Duvido que a câmara tenha amplitude para apanhar aqui o meu Pacheco na sua totalidade, mas sou muito pilogénico, pelo que não me incomoda. Diz que gostava de tratar os homens da mesma forma que eles tratam as mulheres, como se fossem meros nacos de carne sem sentimentos, para ver se gostavam. Tento encorajar o comportamento desde logo, mas já vai lançada na catadupa de disparos sinápticos feministas e nem me ouve. Não se cansa de dizer que despeita a maioria dos homens, essa “sub-espécie de raciocínio básico”, enquanto vai lendo em voz alta, com elevado entusiasmo, os comentários elogiosos dos homens às selfies que entretanto publicou. Ficaria confuso com isto, se não me estivesse profusamente nas tintas para ela. Pediu a sobremesa, presumo que apenas para a fotografar, pois mal a provou.

Conduz que nem uma louca A8 afora até Bucelas para me oferecer um “digestivo único” que lá tem. Esforcei-me por acreditar que me conduziria de forma igualmente estouvada na cama para me abstrair do risco de acidente iminente. Curiosamente não parava de falar e de gabar as suas capacidades ao volante, mais uma prova contrária aos argumentos desses malandros do sexo masculino que menorizam as mulheres na arte de manobrar um automóvel. Eu vou rezando por dentro, fixando-me cada vez mais no seu decote enquanto as tetas bamboleiam com as guinadas do carro, para me abstrair do perigo. Por momentos desconfio que só me quer para usar aqui o Pacheco como “pau de selfie”, dada a fama da sua avantajada dimensão.

Por fim chegámos e confesso que já perdi a vontade do digestivo. Também teria perdido a vontade de pinar, caso não tivesse visto que ela não estava a usar cuecas quando saiu do carro. Há qualquer coisa numa mulher de vestido sem cuecas em contexto social que deixa o cérebro masculino reduzido à capacidade de raciocínio de uma alforreca com o cio. Estes pequenos momentos de lucidez podiam incomodar-me e obrigar-me a alterar a minha conduta. Mas não descansei enquanto não a fiz gemer a suplicar que a tratasse como uma puta.

Patife
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11 março 2018

«algumas gaivotas estavam em terra» - bagaço amarelo

Sempre que me lembro dela, lembro-me também da sua mão direita, engelhada e trémula a esforçar-se por levar um cigarro à boca. Quando a conheci, foi o que me marcou. Quando me despedi dela também. Disso e, claro, de tudo o que ela me ensinou sem sequer se aperceber. E enquanto ela fumou o primeiro cigarro nessa tarde, em silêncio total, dei-me conta de que o vento soprava nas nuvens com mais intensidade do que o habitual.
O vento traz sempre essa mensagem consigo, a de que o tempo está a passar mesmo quando não estamos a fazer nada que nos pareça importante. Se o mundo está quieto, o tempo também está. Se o mundo se mexe, como as nuvens neste caso, o tempo conta.
Quando tirei os olhos do céu, ela sorriu-me como se estivesse a ler-me o pensamento. Sufocou a beata na areia e depois guardou-a num guardanapo que colocou dentro da carteira, para não a deixar ali a poluir a praia. E foi nesse momento que me senti um felizardo por, nessa tarde, uma mulher com mais trinta anos do que eu me ter perguntado se se podia sentar ao meu lado numa praia deserta.

- Está triste?

Eu não sabia como estava, por isso demorei alguns segundos a responder. Tinha-a visto passear junto às ondas e a molhar os pés calçados sem sequer tentar evitá-lo. Lembrando-me disso, fiscalizei-lhe as sapatilhas de pano. Estavam húmidas e cheias de areia.

- Estou desconfortável, é só isso...

O que me soube bem naquela mulher foi ela não ter respostas fugitivas. Não me disse que eu era demasiado novo para isso, não me mandou para um sítio mais confortável nem me perguntou porquê. Nem sequer me tentou explicar nada sobre a vida. Limitou-se a aceitar o que eu lhe dissera, sem me chatear com questões mais pequeninas do que aquele momento.
Algumas gaivotas estavam em terra.

- Há uma altura em que nos conformamos com a solidão... - Acabou por segredar ao vento que ainda contava o tempo.
- Que altura é essa? - Perguntei.
- Não sei. Sei apenas que me lembro do momento em que percebi que nunca mais na vida ia Amar um homem.

Uma das gaivotas levantou voo e passou bem perto das nossas cabeças. Tive a sensação estúpida de que a nossa conversa a tinha incomodado, como se estivesse a perturbar o andamento natural das coisas. Quis perguntar se esse momento tinha sido triste, mas faltou-me a coragem. Por isso acabei apenas por consentir a frase.

- Hum, hum...
- Foi um momento de libertação, apesar de tudo.

O frio veio ouvir a nossa conversa e ela pediu-me que a ajudasse a levantar. Tive medo de lhe quebrar algum osso, por isso a operação demorou mais do que seria de esperar. Depois convidou-me para jantar na casa dela, ali a poucos metros da praia, onde eu acabei por passar dois ou três dias.
Hoje estava a ler a notícia sobre a morte de um actor que tinha aproximadamente a mesma idade dela e revivi estes dias. Da minha janela via as nuvens a correr no céu. O tempo passa, mas não apaga as nossas memórias. Nem sequer essa, da mão dela trémula a tentar levar um cigarro à boca.


bagaço amarelo
Blog «Não compreendo as mulheres»

Postalinho industrial

"Quem se «ixcita»..."
Paulo M.



Utilitários: como lavar os tintins


Um sábado qualquer... - «E se…»



Um sábado qualquer...

10 março 2018

«esta noite» - Susana Duarte

esta noite, escreverei para ti.

sabes amar as palavras deitadas
sobre os teus dedos, como as vinhas
do norte e a terra sob os teus pés.

sabes do amor e das palavras,
e fertilizas o olhar da noite
com o indizível das uvas
e o futuro das sementes
que, de ti, nascem.

a cada manhã.

seremos sempre a poesia
que das vozes emana.

amar-me-ás
sob o céu azul dos futuros
antevistos.
e sobre o húmus
e o útero da terra,
e sobre o corpo,
Gaia-mãe, dança
da terra sobre os dedos,
e sobre as folhas
ávidas do verão
dos seres.

esta noite, escreverei.

para ti.

Susana Duarte
Blog Terra de Encanto
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Memória de elefante

Grãos de café malandrecos

Pequena embalagem de chocolate de leite com grãos de café torrados, da Amazónia Peruana.
Oferta da Daisy e do Alfredo Moreirinhas, trazida da sua viagem ao Perú em 2017.
Mais um objecto para a «sexão» do que não é suposto ser erótico, da minha colecção.





A colecção de arte erótica «a funda São» tem:
> 1.900 livros das temáticas do erotismo e da sexualidade, desde o ano de 1664 até aos nossos dias;
> 4.000 objectos diversos (quadros a óleo e acrílico, desenhos originais, gravuras, jogos, mecanismos e segredos, brinquedos, publicidade, artesanato, peças de design, selos, moedas, postais, calendários, antiguidades, estatuetas em diversos materiais e de diversas proveniências, etc.);
> muitas ideias para actividades complementares, loja e merchandising...

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