15 novembro 2015
«pensamentos catatónicos (324)» - bagaço amarelo
Às vezes dou-lhe um sinal de que preciso de mais. Não sei do que é que eu preciso de mais, mas sei que deve vir dela. Talvez a mão naquele momento, talvez uma palavra. Sei lá do que preciso. E ela ri-se. Diz-me que sou inseguro e eu endireito as costas imediatamente. Depois penso: os homens são tão parvos.
Penso-o para me salvar de mim, claro. Se formos todos parvos, talvez eu tenha desculpa por sê-lo também. Resigno-me a essa gigantesca condição de parvoíce intrínseca ao género masculino e desculpo-me.
Só se pode querer uma de duas coisas, diz ela sem falar: ou segurança ou Amor. As duas não se dão juntas. Ou se Ama e se é inseguro, ou se é seguro e não se Ama. E agora?
Agora dou-lhe razão. Ela afasta-se para ir pontapear uma bola que fugiu de um pequeno campo de jogos no parque onde passeamos. Vejo-a correr e distanciar-se à mesma velocidade que o mundo todo se distancia de mim. Depois pega na bola e envia-a com um sorriso por cima da rede que enjaula um grupo de homens suados. Alguns agradecem-lhe e acenam.
Não sinto os pés, não sinto as mãos, não sinto nada. Sinto-me à deriva no espaço cósmico sem lhe conseguir chegar, como se aquele pequeno movimento fosse um adeus para sempre.
Depois ela regressa, devolve-me a mão, a vida e o chão que piso. Continua a falar e a sorrir como se não tivesse acabado de provocar um pequeno cataclismo em mim. Como se não se passasse nada. E então penso: os homens são tão parvos.
Sorrio. Desculpo a minha parvoíce com todos os outros homens do mundo.
bagaço amarelo
Blog «Não compreendo as mulheres»
14 novembro 2015
Há conceitos tão inexplorados...
- Charlie, gostavas que uma gaja te dissesse: "dou-te mas é uma ova"...
- Seria mesmo um belo início de conversa. Poderia ser até mesmo o espoletar de uma bela amizade.
Por vezes até se constroem diálogos interessantes no Facebook...
- Seria mesmo um belo início de conversa. Poderia ser até mesmo o espoletar de uma bela amizade.
Por vezes até se constroem diálogos interessantes no Facebook...
«Mergulho no amor» - por Rui Felício
Caricia de chuva, fragrância de flor, sabor de mel, calor de sol, luz de lua, afago de vento, chilrear de pássaro, são sensações que o mergulho no amor faz experimentar.
Como no mar, tem os seus perigos.
Quando se mergulha não se sabe que escolhos estão abaixo da linha de água.
Rui Felício
Blog Encontro de Gerações
Blog Escrito e Lido
Como no mar, tem os seus perigos.
Quando se mergulha não se sabe que escolhos estão abaixo da linha de água.
Rui Felício
Blog Encontro de Gerações
Blog Escrito e Lido
«Os jardins de Eros II (tríptico)» Carlos Martins Acrílico sobre cartão, 2011 da colecção de arte erótica «a funda São» |
13 novembro 2015
«É tudo normal na ponta de um cigarro» - bagaço amarelo
Uma vez, há muitos anos, estivemos apaixonados. Éramos novos e durante três dias acreditámos que ia ser para sempre. Não foi. Ao terceiro dia ela recusou-se a beijar-me e mergulhou no rio a sorrir. Lembro-me da disponibilidade da água para afogar toda a tristeza. A dela e a minha. Era a água, a mesma que agora está aprisionada dentro duma garrafa de plástico ao lado do cinzeiro usado, à espera que uma moeda de um euro a liberte. Penso no presidente da Nestlé a afirmar que os seres humanos não devem ter direito à água. O que seria de mim nessa tarde sem acesso à água? Não sei. Teria sede da vida. Não faz mal. É tudo normal na ponta de um cigarro.
- Lembras-te de nós?
E ela abana afirmativamente a cabeça. O queixo trémulo e o cigarro a fumá-la já quase no filtro.
-Ainda tenho a flor que me deste, seca, entre as páginas de um livro qualquer...
Era amarela. É do que me lembro. Resgatei-a duma fenda no alcatrão da estrada e dei-lha. Senti-me um herói. A qualquer momento, o pneu dum automóvel ia esmagá-la para sempre. Assim não. Perdura no tempo entre as palavras dum livro que eu não sei qual é, mas sei que existe. É suficiente. É dum tempo em que as sementes cresciam de forma aleatória por aí, sem a Monsanto e sem o gene suicida, à espera duma morte natural. Até no chão impermeabilizado que ligava as cidades. A minha e a dela. O que seria de nós, de mim e dela, sem uma morte natural? Não faz mal. É tudo normal na ponta de um cigarro.
- Somos tão estúpidos quando somos jovens! - E acende outro cigarro.
- Somos... - Concordo sem perceber porquê.
De toda a estupidez que já vivi, a dela foi a mais curta e feliz. O que nos sobrou de três dias foi uma vida inteira. Sem uma Economia medonha a esmagar-nos a esperança, sem uma dívida que ninguém sabe bem de onde veio, sem um governo a aniquilar uma população inteira e a perpetuar o cadáver de um jogador de futebol. Éramos só nós, a gostar imensamente da vida e de um rio por três dias. Não faz mal. É tudo normal na ponta de um cigarro.
Ela é bonita. Ainda, digo eu. Às vezes olha-me de lado, como se tivesse medo de enfrentar o passado, e eu percebo porque é que gostei dela. Era bonita, sorria, mergulhava na água e guardava as flores silvestres que eu lhe dava. Para sempre, diz ela, como se isso existisse. E o cigarro a fumá-la.
Ao vê-la a ela vejo um mundo inteiro que acabou, onde todos perdemos a mais óbvia das coisas: o direito a ser feliz por três dias. Não faz mal. É tudo normal na ponta de um cigarro.
bagaço amarelo
Blog «Não compreendo as mulheres»
«Eu e ela - conta-corrente» - Ruim
Eu espeto o guarda-sol. Ela corta melão aos cubos e põe numa tupperware que só ela sabe qual é a tampa.
Eu grelho bifes de 2 metros de espessura. Ela faz uma salada com montes de coisas que eu não sei o nome.
Eu subo a escadotes para mudar lâmpadas. Ela passa-me a lâmpada certa à segunda vez e diz “ não caias” pela terceira.
Ela faz a lista das compras e mete os produtos no carro. Eu levo o carrinho a fazer "vruuum" e carrego os sacos.
Eu monto o móvel do IKEA. Ela lê as instruções e dita qual a peça a seguir.
Eu digo foda-se. Ela diz merda.
Eu abro os frascos de pickles. Ela abre embalagem das lâminas de barbear que parece ter sido selada a vácuo e eu não tenho unhas.
Eu guio o meu carro e ela vai ao lado. Ela diz para eu guiar o carro dela e ela vai ao lado.
Eu tomo banho em 5 minutos, em 2 se ela me pedir. Ela toma banho em 15, em 14 se eu lhe pedir.
Ela fica com a maior parte do sofá. Eu fico com o comando na mão.
Ela chora quando está naqueles dias. Eu choro quando ela está naqueles dias.
Ela fala da vida das amigas e eu finjo que estou interessado. Eu falo que o novo Batman: Arkham Knight da PS4 tem o Batmobile e ela finge estar interessada.
Eu não suporto aquela amiga dela que é víbora. Ela não suporta o meu amigo putanheiro.
Eu bufo à espera dela a arranjar-se mas fico sempre a olhar espantado com o resultado final. Ela bufa quando chego às tantas depois de uma noitada mas aquece-me o que sobrou do jantar no micro-ondas.
Eu sei quando ela precisa de um abraço e um beijo. Ela sabe quando eu preciso de ser comido por ela.
Ela gosta de me ver a aparar a barba de toalha enrolada. Eu gosto de a ver a escovar o cabelo de top e boxers.
Eu pago a conta. Ela deixa-me pagar.
E mesmo que eu esteja nas lonas, ela passa-me o cartão dela sem que o empregado veja, pisca o olho e sorri. Ajudo-a a vestir o casaco, abro-lhe a porta e dizemos ambos adeus ao empregado ao mesmo tempo. Abro-lhe a porta do carro. Ela liga o rádio e mete na estação que eu gosto.
Não há coisas para um lado e o outro não. Um casal é uma equipa e nenhuma boa equipa joga com todos os jogadores na mesma posição, porque ninguém ganha jogos só a defender e todos os jogos se perdem se apenas atacamos. Se o defesa confiar no avançado sabe que vai ganhar. Se o avançado confiar no defesa sabe que não vai sofrer golos. Não há posições melhores ou piores. Um sem o outro de nada valem.
Sejam felizes e não percam isto.
Ruim
no facebook
Eu grelho bifes de 2 metros de espessura. Ela faz uma salada com montes de coisas que eu não sei o nome.
Eu subo a escadotes para mudar lâmpadas. Ela passa-me a lâmpada certa à segunda vez e diz “ não caias” pela terceira.
Ela faz a lista das compras e mete os produtos no carro. Eu levo o carrinho a fazer "vruuum" e carrego os sacos.
Eu monto o móvel do IKEA. Ela lê as instruções e dita qual a peça a seguir.
Eu digo foda-se. Ela diz merda.
Eu abro os frascos de pickles. Ela abre embalagem das lâminas de barbear que parece ter sido selada a vácuo e eu não tenho unhas.
Eu guio o meu carro e ela vai ao lado. Ela diz para eu guiar o carro dela e ela vai ao lado.
Eu tomo banho em 5 minutos, em 2 se ela me pedir. Ela toma banho em 15, em 14 se eu lhe pedir.
Ela fica com a maior parte do sofá. Eu fico com o comando na mão.
Ela chora quando está naqueles dias. Eu choro quando ela está naqueles dias.
Ela fala da vida das amigas e eu finjo que estou interessado. Eu falo que o novo Batman: Arkham Knight da PS4 tem o Batmobile e ela finge estar interessada.
Eu não suporto aquela amiga dela que é víbora. Ela não suporta o meu amigo putanheiro.
Eu bufo à espera dela a arranjar-se mas fico sempre a olhar espantado com o resultado final. Ela bufa quando chego às tantas depois de uma noitada mas aquece-me o que sobrou do jantar no micro-ondas.
Eu sei quando ela precisa de um abraço e um beijo. Ela sabe quando eu preciso de ser comido por ela.
Ela gosta de me ver a aparar a barba de toalha enrolada. Eu gosto de a ver a escovar o cabelo de top e boxers.
Eu pago a conta. Ela deixa-me pagar.
E mesmo que eu esteja nas lonas, ela passa-me o cartão dela sem que o empregado veja, pisca o olho e sorri. Ajudo-a a vestir o casaco, abro-lhe a porta e dizemos ambos adeus ao empregado ao mesmo tempo. Abro-lhe a porta do carro. Ela liga o rádio e mete na estação que eu gosto.
Não há coisas para um lado e o outro não. Um casal é uma equipa e nenhuma boa equipa joga com todos os jogadores na mesma posição, porque ninguém ganha jogos só a defender e todos os jogos se perdem se apenas atacamos. Se o defesa confiar no avançado sabe que vai ganhar. Se o avançado confiar no defesa sabe que não vai sofrer golos. Não há posições melhores ou piores. Um sem o outro de nada valem.
Sejam felizes e não percam isto.
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12 novembro 2015
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