19 março 2017

«E então vou de pé» - bagaço amarelo

E então vou de pé.
É que nunca me sento quando viajo de metro à hora de ponta, mesmo que na estação onde eu normalmente entro ainda costume haver alguns lugares livres. Sei que é uma questão de tempo, pouco, até que pessoas mais velhas do que eu invadam o espaço e o preencham como se fosse um ovo.
E então vou de pé.
A minha mão agarrou-se a um varão horizontal como se a minha vida dependesse disso. A vida não, mas o equilíbrio do corpo sim. Toda a força que faço está concentrada nos meus dedos para contrariar a aceleração e a desaceleração da carruagem.
E então vou de pé.
Ali dentro todos os olhares se escondem, a maior parte deles no ecrã de um telemóvel ou num livro. Os outros, aqueles que não têm um esconderijo próprio, colam-se a coisas tão absurdas como os próprios pés ou o vazio. Se fosse possível desenhar uma recta a partir de cada um desses olhares, tenho a certeza que nenhuma delas tocava noutra. É estranho, todos os olhares irem dar a um infinito dentro de uma carruagem de metro que me parece tão finita.
E então vou de pé e pergunto-me se a vida é só isto: uma viagem matinal para um trabalho que permite a toda a gente viver uma vida de que, pelo menos neste momento, parece não gostar muito. Pergunto-me se a vida é um homem cujo olhar se derreteu na palma da própria mão, uma mulher que encostou a cabeça a um vidro trémulo ou esta voz repetitiva a anunciar cada estação que se aproxima.
E então vou de pé. A vida é só isto?
Sou um explorador numa densa e quieta floresta de braços e pernas. Silenciosa também. Sem bússola, os meus olhos percorrem-na como se fossem uma afiada catana. Descobrem um outro olhar, também perdido, que talvez se pergunte o mesmo. Diz-me adeus. Respondo com um sorriso. É uma mulher a quem pedi ajuda uma vez quando estava totalmente perdido num dos bairros da cidade.
E então vou de pé. Já sei que a vida não é só isto.


bagaço amarelo
Blog «Não compreendo as mulheres»

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Taxidermia


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18 março 2017

«Sobre quem eu sou» - Cláudia de Marchi

Eu não sou arrogante, orgulhosa e estúpida. Eu não sou ignorante, amarga e mal educada. Eu não sou grossa, desrespeitosa e petulante. Eu não sou tosca e cheia de mim. Agora, se você for, arrogante, orgulhoso e estúpido comigo, se prepara, porque eu lhe mostrarei como eu posso ser tudo isso e, mais, como eu posso ser cruel e impiedosa! Se você for ignorante, amargo, mal educado, tosco e cheio de si frente a mim, se prepare que lhe mostrarei como eu consigo ser tudo isso e, igualmente ou mais, desrespeitosa!
Se você for grosso, sem respeito e petulante, espere minha grosseria, desrespeito e petulância em dobro! Sou, um doce de pessoa, sou toda carinho, afeto e respeito. Sorrio para todos, trato todo mundo com respeito e educação exímia, mas, como diria meu "conterrâneo" Teixeirinha, se "alguém me pisar no pala o meu revólver fala e o bochincho está feito". Revólver da grosseria leia-se bem.
Ou seja, meu querido, se você me jogar uma pedra, eu lhe jogarei um enorme buquê de rosas. Com o vaso junto, obviamente. Eu nunca ajo mal com as pessoas, todavia, falou errado ou agiu mal comigo, sei dar uma aula de maldade e estupidez. Enfim, eu não aturo nada com passividade, só o prazer, que, diga-se de passagem, sei dar com muito talento!

Simone Steffani - acompanhante de alto luxo!

«O que se há-de fazer à prenda que está para sair?» - por Rui Felício

Alguns não se lembrarão deste jogo.
Joguei-o várias vezes na Rua Infante Santo e na Praça de Ceuta, com a Milu, a Betinha e a Letinha (estudantes de Letras e hóspedes em casa do Sr. Milheiro), a NôNô, a Olivia (filha do conhecido Carlos “Veneno”), a Eduarda, a Regina Morato, o Rui Pato, o Mário Oliveira (vizinho do Rui Pato), os Moratos (idem, idem), o Pedro Gama (primo da Milú), o Paulo Nobre e o Cruz.
Este último, o Cruz, morava na Rua do Brasil mas ia ao bairro porque namorava a Milú, minha vizinha.
Mais tarde andei com ele em Mafra e encontrei–o algumas vezes na CP onde viria a ser engenheiro.
Era um jogo algo feminino mas os rapazes adoravam jogá-lo...
Já vão perceber porquê.
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Um dos jogadores metia entre as suas mãos uma “prenda” que poderia ser um anel, um brinco, um botão, qualquer coisa que ali pudesse permanecer bem escondida.
As mãos eram juntas como se estivesse a rezar e, com a “prenda” entre elas, passava-as entre as mãos dos restantes jogadores também na mesma posição de oração, um por um.
A cada um deles, no momento de passar as mãos, perguntava:
- O que é que se há-de fazer à prenda que está para sair?
O jogador inquirido respondia aquilo que lhe viesse à cabeça, como por exemplo:
- Aquele (a) a quem sair a prenda vai ter de dar um beijinho a fulano(a).
O jogador que distribuía a “prenda” tinha que obrigatoriamente deixá-la cair nas mãos de um dos outros jogadores , mas de forma a que ninguém se apercebesse qual deles(as) teria sido o(a) escolhido(a).
No final, as mãos de toda a gente eram abertas ficando-se a saber quem tinha sido o(a) contemplado(a).
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A “sentença” que esse contemplado tivesse dado antes de lhe ter sido atribuída a “prenda” era então executada.
Onde estava o aliciante deste jogo?
Tão somente nisto:
1. - No passar das mãos dos rapazes nas mãos das meninas e vice-versa, o que equivalia a uma carícia encapotada, coisa que a moral e os bons costumes da época não permitia senão através destes subterfúgios.
2. – Na execução da sentença que, na maior parte das vezes, se traduzia em beijos ou abraços.
Claro que o efeito pretendido não surtia quando o executor da sentença era do mesmo sexo do executado.
As sentenças bem imaginadas eram aquelas que previam essa hipótese e deixavam alternativas.
Vejam a ingenuidade dos nossos jogos.
E a imaginação com que eram inventados, como forma de permitir o contacto físico ainda que simples e inócuo, entre rapazes e raparigas e que se restringia ao dos bailes e, mesmo assim, sob apertada vigilância materna.
A geração mais nova que ler isto vai ter dificuldade em compreender, eu sei...

«Jogos do Prazer e da volúpia»
Uma Mulher do Mundo, 1991, Colecção Canto Nono, Editorial Teorema
Colecção de arte erótica «a funda São»

Rui Felício
Blog Encontro de Gerações
Blog Escrito e Lido

Coração de pedra



HenriCartoon

Vento nas ventas


Uma mulher andar de cabelos soltos na rua num dia de vento como este é um apelo explícito ao pinanço.

Patife
@FF_Patife no Twitter

17 março 2017

Eva portuguesa - «Procuro-te»

O meu corpo procura o teu, enquanto o verão pinta de azul o céu e o mar é devassado pelas estrelas. 
O meu corpo procura o teu, antes que a morte se aproxime. Nas ruas, na cama, com amor, com ódio, ao sol, à chuva, de noite, de dia, triste, alegre. 
Procuro-te.

Eva
blog Eva portuguesa - porque o prazer não é pecado

L'extase - «A velhinha»

Postalinho do Alentejo

"Alentejo e seus sabores..."
Pedro Miguel C. V.


#prayforcomichãonocu - Ruim

Comichão no cu. Todos temos. Calha a todos, não me venham com merdas. O cu foi relegado para a categoria de "comichon non grata" pelas restantes partes do corpo. Comichão num braço? Pode coçar, sim senhor. Comichão no queixo? Oh amigo, coce lá o queixo. Comichão no cu? Isso é que não pode ser. Estamos impedidos de coçar o cu em público. Em casa? Até uma escova de cabelo enfiamos na peida, se for preciso. Estas amarras da moral da coceira traseira, são responsáveis por milhares de cus em sofrimento por este país fora. Daquelas comichões de parecer que tens um ninho de formigas no ass. E não podes coçar. Porquê? Estás na rua, não podes coçar. Expliquem isso a quem, por exemplo, como eu, desce todos os dias a Marquês de Tomar e lhe dá um desses ataques em que pondera ir a roçar o cu na parede como os gatos. Eu, um homem adulto, contribuinte com impostos em dia, forçado a ir a roçar o cu na parede até Entrecampos. Bonito, sim senhor. Eu não estou a dizer que se liberalize coçar o cu à grande, ok? Não quero ir na rua e ver filas de gajos com dedos no cu e cara de satisfação. Se é para isso, vou ao Trumps. Mas um "free pass" de julgamento de valores já era suficiente como a primeira pedra na calçada que pavimenta a Avenida da Liberdade de Coçar o Cu à Vontade.
Um homem pode sonhar. E coçar o cu enquanto pensa.

Ruim
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