23 abril 2018

Novas regras para limpar as matas


Si a ti te gusta, a mi me encanta

Ontem conheci uma professora de espanhol num baile de máscaras. Estava mascarada de fada e tudo corria bem até eu ter tido a infeliz ideia de me armar em engraçadinho e proferir uma frase em castelhano. Estava ela, nitidamente, a olhar para o meu saliente papo de picha, que pululava ganga acima, quando solto num perfeitíssimo castelhano um clássico da antiguidade pornográfica: “Si a ti te gusta, a mi me encanta!” O problema é que não saiu num castelhano assim tão perfeito como soou na minha cabeça e a professora não se coibiu de, prontamente, me corrigir. Explicava ela que tinha de usar um determinado movimento de língua e mais não sei o quê que não ouvi porque me perdi no movimento da língua da senhora professora. Ora, aproveitei a deixa e pedi esclarecimentos para uma aula de língua espanhola. Sou um produto da escola da experiência, por isso solicitei lições práticas. Desconfio que estivesse saturada de dar aulas teóricas, dada a prontidão em aceitar a minha proposta, e com toda a suavidade social, conduzi-a a minha casa. E oh, meu deus. Aquela língua usou recursos estilísticos em torno do meu Pacheco só ao alcance dos predestinados da linguística. Faria chorar de inveja qualquer mestre da linguística, de Rousseau a Barthes. Não haveria trava-línguas que atrapalhasse toda aquela mestria. Claramente uma mulher talhada para lamber, e, mais importante, para mostrar como se lambe a quem quiser aprender. Como superior cavalheiro, apressei-me a agradecer a semiótica sexual. É que a senhora professora até pode ter começado a noite vestida de fada. Mas acabou mascarada de foda.

Patife
@FF_Patife no Twitter

Daniel Lezama - «Forja» (2014)


Via mon ami Bernard Perroud

22 abril 2018

«traço de giz» - bagaço amarelo

Quando eu era criança pensava que os aviões deixavam no céu traços de giz. Pelo menos, embora a escalas diferentes, eram iguais aos que eu podia fazer no quadro negro de ardósia da minha escola. Claro que uma vez apanhei. Passei o recreio a desenhar percursos feitos por aviões e risquei o quadro todo. O mais grave nem sequer foram os riscos, foi ter acabado com um pau de giz inteiro. A minha professora perguntou-me o que era aquilo e eu respondi-lhe que era um céu cheio de aviões.

- Dá cá a mão!

E eu dei. Levei cinco reguadas. Nem me estou a queixar. A minha professora batia com a mesma leveza duma borboleta a pousar num ramo de árvore. De todas as reguadas que apanhei, só me lembro de me aleijar uma vez. Quando ela percebeu que tinha excedido a força, levantou-se e abraçou-me. Não chorei pela dor, mas chorei pelo abraço. Foi aquele momento de franqueza emocional de um adulto que me destruiu por dentro.
Sem ela e eu sabermos, nesse dia ensinou-me muito mais do que aquilo que era suposto. O abraço dela eternizou-se em outros abraços que entretanto recebi, quando foram iguais ou surgiram no mesmo âmbito. Alguém que me aleijou primeiro decidiu abraçar-me depois e eu chorei. Choro sempre, mesmo que não lacrimeje.
O Luís riu-se de mim quando viu a minha dor e teve que apagar todos os riscos que eu tinha feito. Alguns vinham de África e iam para o norte da Europa, outros voavam entre a América do Sul e a Ásia. Todos os riscos tinham uma origem e um destino no momento em que eu os fazia. Um voava entre Ouagadougou e Oslo, as cidades mais importantes do meu imaginário de criança. Uma porque tinha um nome giro, outra porque tinha vikings.
Nunca deixei de acreditar nos traços de giz e é assim que me lembro da minha paixão pela Joana. Tinha uma camisola com muitas riscas fininhas de cores diferentes e um casaco amarelo manchado pelo verde da relva onde nos deitávamos a olhar para o céu. Às vezes passavam algumas nuvens, outras vezes passavam pássaros ou aviões. Quando não passava nada, passávamos nós. Num beijo ou num abraço.

- Aqueles traços são de giz! - dizia eu.
- Não são nada.
- Então são de quê?
- Isso não sei, mas não são de giz.

Depois abraçava-me outra vez.
Talvez o Amor entre um homem e uma mulher tenha sempre alguma coisa dos tempos em que somos nós a desenhar o mundo e não o mundo a desenhar-nos a nós. É a maior vantagem de ser criança, aliás, podermos decidir que o mundo é o que nós queremos que seja. Mesmo no Amor.
Não sei quantos Amores já perdi por me apaixonar por mulheres que vêem o mundo como ele é e apenas como ele é. Talvez por isso mesmo este frio início de Primavera tenha sido tão quente. Deitámo-nos no chão do terraço da casa dela a olhar para um avião que voava entre Burkina Faso e a Noruega. Ela ofereceu-me um livro de banda desenhada sobre um traço de giz no meio do mar e no meio de nós. É de um autor galego chamado Miguelanxo Prado. Depois abraçou-me e disse-me que eu tinha razão.

- Razão em quê?
- Os aviões deixam traços de giz.


bagaço amarelo
Blog «Não compreendo as mulheres»

Postalinho do Parque Natural das Serras d'Aire e Candeeiros - 2

"Na praia fluvial dos Olhos d'Água do Alviela, entre várias oliveiras centenárias, esta é, sem dúvida, muito fodogénica."
Paulo M.




AtenSão à conduSão


Um sábado qualquer... - «Pornografia»



Um sábado qualquer...

21 abril 2018

«escrevia-te» - Susana Duarte

escrevia-te onde as mãos não chegam,
onde os cabelos não dormem,
e as coisas do mundo
permaneciam
ignotas.

aí, onde moram os fragmentos da paixão,
deixava, inertes, os olhos, escuros-
-adormecidos-povoados
de luz azul
e sonhos.

mortas as luzes sobre o peito,
aconcheguei nele o sol
dos poemas
de antes.

escrevo-te, ainda, onde a morte das palavras
é o recanto esquecido da dor,
e os olhos amortecem
a força das ondas
e o mar
todo.

escrevo-te, apenas, porque preciso de varrer
as folhas caídas no chão, aquelas
que deixaste, amarelas,
sobre as pedras
e o ventre.

escrevo-te, por fim,
para amainar
o vento.

Susana Duarte
Blog Terra de Encanto
Facebook

Postalinho do Parque Natural das Serras d'Aire e Candeeiros - 1

"A perda e ressurgência da ribeira dos Amiais, junto aos Olhos d'Água do Alviela, é um pequeno percurso (menos de 2 km) que permite ver a ribeira dos Amiais a ser engolida pelo maciço calcário, reaparecendo depois à superfície, passados 200 metros.
A gruta por onde a ribeira entra é uma vulva sedenta e sempre molhadinha, que sorve tudo o que lhe apareça pela frente."
Paulo M.


Tirésias - 2 - A revelação

Segundo volume do livro de Banda Desenhada de Rossi & Le Tendre.
Junta-se ao primeiro volume na minha colecção.







A colecção de arte erótica «a funda São» tem:
> 1.900 livros das temáticas do erotismo e da sexualidade, desde o ano de 1664 até aos nossos dias;
> 4.000 objectos diversos (quadros a óleo e acrílico, desenhos originais, gravuras, jogos, mecanismos e segredos, brinquedos, publicidade, artesanato, peças de design, selos, moedas, postais, calendários, antiguidades, estatuetas em diversos materiais e de diversas proveniências, etc.);
> muitas ideias para actividades complementares, loja e merchandising...

... procura parceiro [M/F]

Quem quiser investir neste projecto, pode contactar-me.

Visita a página da colecção no Facebook (e, já agora, também a minha página pessoal)

20 abril 2018

O amor pode dar uma volta errada

O amor pode dar uma volta infeliz se tu te descuidares. Delicia-te com o sexo "seguro" e desliga o raio do telefone!

«Quase 10 meses de solitude, prazer, renúncias e aprendizado como cortesã» - Cláudia de Marchi

Dia 11/02 [2017] farão 10 meses que estou trabalhando como acompanhante de luxo e, praticamente um ano que comecei a me identificar com a ideia. O que quer dizer o tal de me "identificar com a ideia"?! Bem, para uma mulher de fortes princípios éticos e morais como eu, (apesar de certa dose de devassidão em momentos propícios), isso significa fazer renúncias, além de escolhas.
A escolha por tal profissão envolveu a superação de muitas necessidades vãs que eu insistia em ter. A priori, está aquela já bem sucateada em tempos de relacionamentos líquidos: a de ter "alguém para chamar de meu", parodiando a velha canção. Não vislumbro um namoro, menos ainda um casamento, coexistindo com a vida de cortesã. Eu jamais desejaria isso e tampouco teria admiração por um homem que aceitasse tal condição passivamente.
Vejo porém, que minha abdicação me fez mais forte, independente, imersa em solitude, sem o sentimento negativo da solidão que eu já senti noutros tempos, naqueles em que a imaturidade emocional vigorava! Aliás, fico boquiaberta ao me recordar da minha vida afetiva em tais épocas: vários namoros sérios, envolvimento familiar, para, não muito tempo depois eu me deparar com o comodismo e egoísmo do companheiro e, diante disso, terminar o relacionamento. Não direi que tais relações foram perda de tempo, pois aprendi muito com elas. Encontrei-me através de cada relação frustrada.
Todavia, viver do sexo com homens seletivos (afinal, eu só me encontro com os que leem meu blog, anúncio e descobrem detalhes a meu respeito) é, pois, muito mais libertador e regozijador para mim do que passar horas conversando com o cidadão do Tinder, do "Par Perfeito", do cara do Facebook que fizeram eu usar muita internet e desperdiçar tempo de leitura e estudo jurídico para, ao final, percebe-los frustrantes ou namora-los até vê-los acomodados deitados na cama, mexendo no celular para falar com os filhos ou família enquanto eu estava nua ao seu lado querendo transar.
"E as noites sozinha, Cláu?". São noites em paz! Eu não preciso dormir acompanhada para ser feliz, assistir a um filme com alguém para me sentir "preenchida", eu não preciso e ninguém precisa, mas eu descobri isso, muitas pessoas não. Algumas jamais descobrirão, porque sempre colocarão alguém para tapar os seus buracos existenciais. Eu tenho um urso de pelúcia que eu abraço para dormir, a Pimpo, ela me basta, tenho dois gatos e inúmeros livros. Tenho a escrita, tenho filmes!
O grande problema das pessoas é que elas têm para si a ideia de que um "amor" lhes fará mais felizes, lhes fará um imenso bem e lhes completará, ignorando que já viveram amores e terminaram no tédio, porque seguidamente este é o caminho das relações duradouras, sobretudo após os filhos nascerem. Ignorando que elas não são metades para serem completavas.
O problema é que as pessoas não se sentem plenamente bem sozinhas, sem uma parceira sexual, um amigo colorido, um caso pra conversar no WhatsApp, um amigo festeiro, um monte de álcool e várias ilusões. O ser humano vem se alimentando de ilusões, porque vive com o ego, não com o coração.
Porque ainda não descobriu dentro de si mesmo que ele tem e ele é tudo o que precisa para ser feliz e que a sua companhia sempre será plena e a melhor que ele poderá encontrar nesta vida. Sem descobrir a inteligência emocional em si mesmo o ser humano seguirá assim: casado com ilusões vãs e com parco conhecimento de si mesmo mantendo-se na procura pelo seu "par perfeito".

Simone Steffani - acompanhante de alto luxo!

«Momento» - Mário Lima



"Faz de cada toque teu, um momento meu"

Mário Lima