08 julho 2018

O índice do DiciOrdinário

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«de onde é que eu sou?» - bagaço amarelo


Ela perguntou-me de onde sou enquanto fazia o troco da pint de Guiness que acabara de me servir. Não que eu me importe de responder a essa pergunta, até porque sei que normalmente serve apenas para dizer qualquer coisa quando não se tem nada mais para dizer, mas fiquei em silêncio durante algum tempo por não saber exactamente o que responder. Foi a primeira vez que hesitei perante a pergunta do costume. Pensei que talvez não já não saiba exactamente de onde sou.
Desviei o assunto e disse-lhe que não sou um grande adepto da grande maioria das cervejas britânicas que tenho experimentado. Normalmente parecem-me demasiado parecidas com água, talvez pelo facto de quase não terem gás e o teor de álcool médio ser bastante baixo. Com excepção da Guiness, claro, que é mais consistente e por isso bebo sempre com prazer.
Para além de nós e de um grupo de quatro homens silenciosos esquecido numa mesa com copos vazios, não havia mais ninguém. Olhei à minha volta e pareceu-me que o silêncio do pub estava ali há pelo menos cem anos. Talvez tenha entrado uma vez há muito tempo para se esconder do ruído das ruas de Newcastle Under Lyme e nunca mais tenha tido a coragem de sair. Entretanto o tempo passou lá fora, mas não lá dentro.
Só podia ser essa a explicação para o que estava a acontecer: o respeito pelo silêncio secular. A mesma mulher que me perguntara de onde sou, sem obter uma resposta concreta, preparava-se agora para dizer algo mais mas as palavras não lhe saíam da boca. Era como se fossem a massa de um bolo que teima em não crescer no forno.
Pousou algumas moedas junto à minha cerveja, uma por uma, e depois tornou a olhar-me nos olhos. Agradeci-lhe e devolvi o olhar. Era bonita, talvez com mais uma dezena de anos do que eu, mas o que mais lhe notei foram os gestos. Não pertenciam ao seu corpo, isto é, eram joviais mas vinham de um corpo que estava provavelmente a fazer quase sessenta anos de existência. Eram leves, certos e delicados, traídos apenas de vez em quando por um curto tremer dos lábios.
Quando percebi que talvez estivesse a ser demasiado invasivo, tornei a permitir que os meus olhos esvoaçassem por aquele local sepulcral. Uma das fotografias na parede representava o rosto de alguém que, devido à evaporação duma boa parte dos sais de prata do papel fotográfico e do seu tom amarelecido, mais parecia um fantasma. As madeiras das paredes revelavam um esforço contínuo para suportar o peso do edifício e a luz do Sol varria lentamente o espaço.
Quando olhei para a porta da entrada, a mesma mulher que me servira a cerveja que ainda ia a meio entrava com um ar rejuvenescido. Eu, que nem tinha percebido que ela saíra, limitei-me a pensar que agora sim, os seus gestos e movimentos lhe pertenciam totalmente.
Tirou uma half pint para ela, não de Guiness mas duma outra cerveja qualquer, e brindou com o meu copo em repouso no balcão.

- Cheers! - disse.

Sorri-lhe.
Aquela mulher está ali há quase tanto tempo quanto o da vida dela. As viagens que fez foram sempre através dos seus clientes, esses de quem ela acaba por se esquecer de onde vieram ou para onde foram e depois os outros, aqueles que se repetem todos os dias num qualquer escaninho do bar. O facto de eu não lhe ter dito de onde sou despertou algo nela por um momento. Talvez a importância de quem, como eu, ali passa de vez em quando para beber um copo e troca duas ou três palavras com ela.
O que ela despertou em mim, certamente, foi recuperar a importância por um momento perdida de saber de onde sou.
Não foi ela que me disse. Foi o silêncio.


bagaço amarelo
Blog «Não compreendo as mulheres»
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Com este, são 685 textos do Ivar Corceiro que ele, desde 2011, me autorizou a reproduzir do seu blog, que considero ser de leitura obrigatória para quem desejar a utopia de conhecer as mulheres... a começar pelas próprias mulheres.
Obrigada por tudo, Ivar. E estarei atenta para regressares a este nosso blog, caso voltes a publicar os teus preciosos textos desta temática.

Postalinho do Caramulo (1/3)

"Na serra do Caramulo, junto à ponte românica da Panchorra, os sapos fazem o que lhes apetece, marimbando-se para os turistas."
Vicentezão



Sonhos a pedido

Crica para veres toda a história
Amante de sonho


1 página

07 julho 2018

«talvez o poema» - Susana Duarte

talvez o poema só nasça
depois de ter sido escrito na pele,
demorando-se sobre os cílios

e as curvas lentas dos braços
-depois de, neles, ter residido a aurora,
madrugada de sal.

se o poema nascer
depois de uma aurora de sal, talvez
saibas, então, da ausência

dos homens,
e das vidas esgotadas
das flores azuis
que enchem prados anónimos.

o poema poderá nascer das raízes
onde, ocultas, se entranham
as inverdades que, no íntimo,
repetimos aos olhos

e, depois, decalcamos nos poros
sedentos
de toda a pele,

onde queremos ver escritas
as palavras
húmidas e sedentas (talvez
as mais raras), da boca

onde, então, calamos
toda a angústia.

Susana Duarte
Blog Terra de Encanto
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«Dance me to the end of love» - Mário Lima



"... Dança comigo e que o amor nunca se acabe!"

Mário Lima

Prendinhas recebidas de França

Lote de 4 postais ilustrados e um "selo", oferta do vendedor do conjunto La Perla Black que comprei recentemente para a colecção.









A colecção de arte erótica «a funda São» tem:
> 2.000 livros das temáticas do erotismo e da sexualidade, desde o ano de 1664 até aos nossos dias;
> 4.000 objectos diversos (quadros a óleo e acrílico, desenhos originais, gravuras, jogos, mecanismos e segredos, brinquedos, publicidade, artesanato, peças de design, selos, moedas, postais, calendários, antiguidades, estatuetas em diversos materiais e de diversas proveniências, etc.);
> muitas ideias para actividades complementares, loja e merchandising...

... procura parceiro [M/F]

Quem quiser investir neste projecto, pode contactar-me.

Visita a página da colecção no Facebook (e, já agora, também a minha página pessoal)

06 julho 2018

Postalinho de Vila do Conde

"Arte urbana em Vila do Conde"
Alfredo Moreirinhas


«Sobre (des) respeito e falta de empoderamento de classe: sobre as "putas"! - parte 3» - Cláudia de Marchi

(...)
Eis que estou, em que pese (auto) inserida num padrão excessivo de seletividade e empoderamento, numa classe desunida, reprodutora de machismo e que não busca, em sua maioria, se empoderar. (Frise-se que malhar para ter coxas de jogador de futebol, colocar silicone onde pode no corpo e vestir roupa justa e curta enquanto usa nome fake na internet não é ato de empoderamento.) Sim, falo das "putas"!
Fala-se em gordofobia quando se chama alguém de "gordo", racismo por chamar afrodescendente de "negão" e machismo ao dizer "isso é coisa de mulherzinha", por exemplo. E não discordo da existência do preconceito exemplificado aí, não! Mas, por que se chama o cidadão infame de "filho da puta"? Por acaso, por ser puta a mulher não pode ser proba e boa mãe? Gostar de sexo não afeta a moralidade de ninguém: moral é moral, sexo é sexo e ser pervertido no segundo não significa sê-lo na primeira.
Por que se diz que o Brasil ou o Congresso Nacional são "puteiros"? Eu nunca fui num, mas por acaso não existe organização nos prostíbulos atualmente? Por que a esposa infiel ou a namorada que lhe deu o fora são chamadas de "putas"? Por acaso toda puta trai o marido ao invés de dizer que está infeliz? Toda puta namora com você e lhe dá um "pé na bunda"?
Eu nunca fui infiel, jamais seria! Sou e sempre serei a favor do "perdi o tesão, vamos manter o respeito e nos separarmos", vez que ainda não cheguei ao nível de sugerir uma relação poliamorosa, onde, diga-se, há mais lealdade do que na maioria das relações monogâmicas, haja vista que não se omite contato com outros do parceiro.
Feministas não querem o uso do termo "pare de agir como mulherzinha" ou "isso é coisa de mulherzinha", mas chamam os machistas escrotos de "filhos da puta"! Entendeu como está "raça" é desunida? Ou está me chamando de "vitimista"? Pois eu não sou! Sou racional. Eu não digo que o preconceito que você sofre é vitimismo e você deve respeitar aquele que eu sofro, a única diferença é que sou uma das poucas a me expor, vez que as putas em geral não se rebelam contra a marginalização social na qual são inseridas, não se unem e se omitem.
São poucas as que, como eu, se afirmam sem vergonha alguma, até mesmo porque, do jeito que o Brasil está eu teria vergonha de dizer que sou "deputada" (quando envolvida em esquema de corrupção), "juíza" quando parcial, "procuradora" que não perscruta provas ou "um bom pai de família", quando infiel ou ausente.
O Brasil e sua política nunca foram um puteiro, meu caro! O Brasil e sua política podem ser chamados de "família tradicional patriarcal": o macho comanda, a infidelidade rola solta, quando descoberta é ignorada em prol da imagem falsa de "família feliz". Enfim, o que comanda a "instituição" é a hipocrisia e a vontade de parecer belo para inglês ver!

Simone Steffani - acompanhante de alto luxo!

#punhetismo - Ruim






Se estás agarrado ao telemóvel a ler este post a esta hora é porque não te safaste. Vai para casa e dá uso à mão.

Mais uma noite igual às outras, campeão.
Ruim
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