13 outubro 2018

«Os dez lugares do amor» - Susana Duarte

"-Foram 10, os lugares do amor… - pensou ela.
A estação dos comboios foi, de todos, o primeiro e, de todos, o derradeiro. As portas do ocidente abriram-se ao estrangeiro azul, olhos postos no sorriso que anteviu e no encontro que –temia- poderia nunca acontecer. O encontro, afinal, aconteceu, e teceu-se com as mãos que anteciparam os beijos, as madrugadas claras, e o suor dos corpos reencontrados.
Refém de si mesmo, e dos cabelos negros que abraçava, o estrangeiro azul libertava anos de procura, ao mesmo tempo que, dos seus olhos, saíam névoas preocupadas: tudo mudara e, no entanto, tudo tinha, ainda, que mudar.
- Este é o segundo dos lugares do amor…-pensava ele, mãos dadas sobre o leito, sorrisos postos no futuro que antevia.
A vida acontece inesperadamente. Confronta. Exige respostas e capacidade de ajustamento. Acontece. Ao acontecer, traz consigo o cheiro de todas as infâncias, o eco de todos os receios, e a inevitabilidade das decisões. O estrangeiro azul intui que, a partir dali, outros serão os lugares do amor. E sabe que, a partir daquele encontro, tudo mudou e, no entanto, tudo terá, ainda, que mudar.
Os dias sucedem-se, e os lugares do amor são vividos com a respiração ofegante de quem quer viver a vida toda nos dias que lhe são dados, um de cada vez, hora a hora, segundo a segundo. E, inevitavelmente, acabam.
O rio, navegante incansável, escorre ali mesmo, entre as margens que o delimitam e são, simultaneamente, todas as suas possibilidades de progresso e caminho. O rio foi o nono lugar do amor. Sobre ele, fluíram marés originadas por aquele encontro. O mundo tinha mudado a lógica das coisas. A inevitabilidade do encontro, também mudara tudo o que conheciam. Os corpos transpiraram marés, por sobre o fluir do rio, e por sobre o fluir daquelas duas vidas.
-Este deveria ser, apenas, um dos lugares do amor-pensavam eles-, mas o derradeiro será aquele que apartará os corpos.
Se sonharam, nessa noite, sonharam com as flores colhidas, após as sementes deixadas na terra, numa sucessão de estações que viveriam juntos. Sonharam, talvez, com as noites, e os dias, e o devir. Sonharam, talvez, que tudo o que ainda tinha que mudar, já estivesse mudado, portas abertas, a ocidente, para todos os lugares do amor. Sonhar os luares do amor era a única forma de não ficar só. a solidão da separação, após ter tocado o amor, é escura, e fria, e dolorosa, e inevitável e, aparentemente, eterna. Escrever a vida, trilhando caminhos sem dar as mãos, depois de conhecer os lugares do amor, é aprender a caminhar numa noite longa e fria. Acordar, pois, é antever a ferida aberta no íntimo do corpo, e descobrir o frio na aparente invencibilidade com que se acorda em cada dia.
O estrangeiro azul, e a metade de si, separar-se-ão naquele que foi o primeiro-e será o derradeiro-lugar do amor, aquele onde se olharam nos olhos e deixaram as lágrimas soltar a noite de chuva que viveram, dias antes, os dois, de mão dada a enfrentar as intempéries-todas-, que acreditaram poder vencer.
Ficarão ligados, para sempre, aos dez lugares do amor. Abraçar-se-ão em cada sonho, em cada recanto de cada palavra. Saberão da inevitabilidade do reencontro. Até lá, reaprenderão a vida, e a morte, e a saudade, e o amor, e a ternura, e a ausência, em cada primavera antecipada, em cada estação que, todavia, os separar ainda.
- O 11º lugar do amor, terá que ser aquele onde perdemos as mãos, porque o outro as levou consigo- pensou ela.
Ao mesmo tempo, ele pensava que as mãos que deixou, voltarão a si, no momento em que devolver aquelas que, consigo, em si, levou. Porque sabe, desde já, que se encontrarão no abraço, aquele que será dado no 11º lugar do amor."


(tentativa de mini-conto)

Susana Duarte
Blog Terra de Encanto
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«Nothing’s gonna change my love for you» - Mário Lima



"Sentirei em mim o calor do teu peito... para sempre!"

Mário Lima

Pénis abre-latas

Abre-latas em metal com forma de pénis.
Uma das muitas brincadeiras da minha colecção.






A colecção de arte erótica «a funda São» tem:
> 2.000 livros das temáticas do erotismo e da sexualidade, desde o ano de 1664 até aos nossos dias;
> 4.000 objectos diversos (quadros a óleo e acrílico, desenhos originais, gravuras, jogos, mecanismos e segredos, brinquedos, publicidade, artesanato, peças de design, selos, moedas, postais, calendários, antiguidades, estatuetas em diversos materiais e de diversas proveniências, etc.);
> muitas ideias para actividades complementares, loja e merchandising...

... procura parceiro [M/F]

Quem quiser investir neste projecto, pode contactar-me.

Visita a página da colecção no Facebook (e, já agora, também a minha página pessoal)

12 outubro 2018

Postalinho de Praga - 14

"Sex Machines Museum (museu das máquinas do sexo), em Praga.
Como acontece com outros museus do erotismo, tem muitas peças que eu gostaria de ter... mas a colecção de arte erótica «a funda São» também tem muitas peças que este museu não tem.
Máquinas eléctricas e acessórios, dois dos quais para adeptos de coprofagia/ coprofilia."
São Rosas






DiciOrdinário - encomenda aqui

Faz a tua encomenda aqui.
Se quiseres, basta mencionares no formulário e posso enviar-te o DiciOrdinário com uma dedicatória.


#nãopercebo - Ruim

Para que é que se fazem viagens com amigos se não for para acabar tudo numa orgia no apartamento? Sinceramente, não percebo as objecções. Está tudo entre amigos, boa onda e com uns quantos copos em cima. Um gajo manda a dica para o ar e faz tudo cara feia. Depois alguém diz "se é para estar com esquisitices, faço um post na minha página do Facebook a ver se vocês acordam para a vida!" e nada. A desculpa é "mas amanhã vamos todos ter de olhar para a cara uns dos outros". Pudera. Não vamos deixar ninguém no País Basco e ainda há gota para dividir.

É que se isto corresse bem, para a próxima, até podíamos meter mulheres ao barulho.

Amigos de merda.

Ruim
no facebook

11 outubro 2018

«Quero a Liberdade» - Áurea Justo

Aninhei nos sonhos do meu amor
E vi rasgarem-se pedaços de mim
Nos meus sonhos desfeitos pela dor
Largaram-se bocados quebrados sem fim

Emprestei à minha face um sorriso
Que solenemente afagou o meu rosto
Velejam na minha boca palavras sem riso
Mas este silêncio! Ah! Grande desgosto!

Vesti de luto os sonhos meus
Entreguei ao tempo a minha idade
Quero sorvê-la...vive-la...agarrá-la...futuro meu!
Não! Que não pare o tempo! Quero a liberdade!

In Folha de Papiro Perfumada

Áurea Justo
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«Aline, 40» - Adão Iturrusgarai


Mulher nua no jacto de uma baleia

Jarro da Rosenthal em porcelana com um desenho de Raymond Peynet.
Junta-se a muitas outras peças de Peynet na minha colecção.





A colecção de arte erótica «a funda São» tem:
> 2.000 livros das temáticas do erotismo e da sexualidade, desde o ano de 1664 até aos nossos dias;
> 4.000 objectos diversos (quadros a óleo e acrílico, desenhos originais, gravuras, jogos, mecanismos e segredos, brinquedos, publicidade, artesanato, peças de design, selos, moedas, postais, calendários, antiguidades, estatuetas em diversos materiais e de diversas proveniências, etc.);
> muitas ideias para actividades complementares, loja e merchandising...

... procura parceiro [M/F]

Quem quiser investir neste projecto, pode contactar-me.

Visita a página da colecção no Facebook (e, já agora, também a minha página pessoal)

Os putos são bi



HenriCartoon

10 outubro 2018

«O relógio» - Mário Lima

Um tema que escrevi em nov. 2006, tendo como pensamento o tema «Isabelle» do Charles Aznavour. Dizíamos em África, «Isabel, olha o relógio»*. Era uma expressão "malandreca" que quem lá esteve, sabe o significado.



O relógio

Se quiseres tiro tudo, excepto o relógio. Ele marca o tempo que posso estar contigo, nem mais nem menos um minuto. Regula a minha vida, a minha permanência neste mundo.
Inexoráveis, os ponteiros somam os segundos fazendo minutos que, por sua vez, se transformam em horas, em meses, em anos.
Há quem me tenha visto nu, com uma faca na algibeira rolando pela encosta da Serra, mas não, não era eu, sei é que hoje estou aqui perante ti, nu, com o relógio no pulso e esse sim, sou eu!
Não tenho tempo, tempo que me consome, tempo que faz com que não tenha tempo para estar mais tempo contigo.
Pede-me tudo menos tirar o relógio. Mesmo olhando de soslaio, tenho que ver as horas. O relógio da torre soou, são horas, horas de me ir embora!... Esgotou-se o tempo… o tempo foi esgotado!... Nem mais um segundo restou.
Desço as escadas, sei que tu terias mais tempo para ficar comigo, mas eu sei é que não tenho mais tempo para ficar contigo!
Chego ao carro, fico um tempo a sossegar as batidas do coração, rio-me um pouco do disparate que é este de não ter tempo para se amar à vontade, sem pressas.
Arranco, atravesso a cidade com as luzes de néon iluminando-me o caminho, olho para o pulso e verifico que, afinal, me tinha esquecido do relógio, do meu relógio... na tua mesa de cabeceira!

* - Em Portugal era uma publicidade a um relógio (Certina?) que não me lembro de ter chegado (a publicidade) a Angola, onde estive. Connosco, a expressão era noutro sentido.

Mário Lima

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Nota da Rede à São - Entretanto, uma fonte, sempre muito bem informada, explicou a expressão "Isabel, olha o relógio":

"Era quando tínhamos relações sexuais com alguém e colocávamos a mão dentro da vagina e ela entusiasmava-se demasiado e queria a mão (fechada), braço e tudo o que viesse, dizíamos para ter cuidado com o relógio que estava no nosso pulso, não fosse ela magoar-se.
Lembro-me um dia estar no mato e havia um camarada que tinha uma super 8. Claro que víamos filmes pornográficos e quando vimos uma cena igual à que referi, aquilo parecia que estava combinado, a malta disse logo:
- Isabel, olha o relógio!
Tinha sido um sucesso, essa publicidade. Creio que começou no Brasil e veio para Portugal. No Brasil, a Isabel era tão boa que ninguém reparou na marca do relógio."

Nada ou tudo?

E o meu sonho é tão somente tocar-te, apreciar-te e sentir o barulho mais bonito que existe, quando encostarei a cabeça no teu peito: o teu coração. Essa batida será mais bonita que o mar, que a chuva, que tudo o que soa bem. Preciso de novos capítulos, de novos cheiros, dá-me novas nuvens onde andar, novos sorrisos, novos abraços…
Novas formas de amar, de sexo, de um dia me lembrar que sou amada...

Porque a rotina não é um hábito, a minha pele vai envelhecer a teu lado, o silêncio nunca vai incomodar e a escuridão nunca será presença, mas sim ausência. Será quase perfeito, estarás sempre a segundos do meu coração, da minha alma.

Era difícil de explicar para quem não soubesse amar, de amar sem condições, restrições. Amar, apenas.

Postalinho de malandrices do Continente

"Vê o que se descobre nas compras..."
Antonino Silva